tag:blogger.com,1999:blog-16792484616584215012024-03-05T04:44:24.979-08:00(marm)anjo caído...Unknownnoreply@blogger.comBlogger120125tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-50136241382234518692024-01-22T11:41:00.000-08:002024-01-22T11:45:04.771-08:00A verdadeira religião<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4YlYNXKLUoy0dvVJyJ3h5BC6DwqgPr6PFpJelf_0oIuFlq13uLbD_3vw_hZY38zOxIw4949mmtICF_OjWBSlVaHaYuvHEbZvqDZtROHItXYeQReHmahAwUKLqY1FksLKsf_0pUswm-ps6Mt4o9QV9Dy-8WEyZRyj6A0hoOXDtHKTkPuiyvV2lWhxNFa4/s626/Caminhos.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="626" height="366" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4YlYNXKLUoy0dvVJyJ3h5BC6DwqgPr6PFpJelf_0oIuFlq13uLbD_3vw_hZY38zOxIw4949mmtICF_OjWBSlVaHaYuvHEbZvqDZtROHItXYeQReHmahAwUKLqY1FksLKsf_0pUswm-ps6Mt4o9QV9Dy-8WEyZRyj6A0hoOXDtHKTkPuiyvV2lWhxNFa4/w640-h366/Caminhos.png" width="640" /></a></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu não sei. É isso mesmo que você leu. “Não
sei” é a melhor e mais sensata resposta para a pergunta que subjaz ao título
deste artigo. E eu peço que, por favor, não acredite em uma resposta contrária,
a não ser que ela ressoe na parte mais íntima dentro de você. E é justamente a
partir disso que nos cabe tecer uma longa e sincera discussão.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ok, entendo que você deve estar se perguntando
a que se propõe um artigo sobre “a verdadeira religião” que já de início afirma
não saber dizê-la. E tal questionamento, por mais compreensível que seja, me
leva a percepção de que você está, muito provavelmente, a cometer o equívoco
que por vezes eu já cometi e ainda cometo na busca da Verdade, isto é, do
verdadeiro caminho para Deus. A propósito, afirmar que se trata de um equívoco
que eu “ainda cometo” é deveras relevante aqui, vez que deixa bem claro que
este que vos escreve não é um ser evoluído que cá está para lhe dar
direcionamento. Não, não... sou apenas alguém que segue na busca, obstinado,
encontrando uma resposta aqui, uma luz ali, mas sempre buscando, tal como você.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas que equívoco é esse ao qual me referi? Nada
menos que a busca de algo espiritual por uma via intelectual. E aqui é
importante que não se faça confusão:
entenda que nada há de errado no estudo, na leitura de obras com
temática espiritualista, religiosa e afins. Até porque se temos um cérebro, se
somos dotados de intelecto, é muito improvável que tal capacidade nos tenha
sido dada à toa ou que não a possamos utilizar para fins espirituais. Então,
sim, o estudo é bem-vindo; a leitura é, sim, um excelente instrumento na busca
pela Verdade, e você não deve nunca deixar de buscar conhecimento.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O problema se dá é quando sobrepomos o
intelecto a todos os outros meios dos quais a Inteligência Universal se utiliza
para nos dar direcionamento. E é aí que a gente corre o risco de se converter
naquelas figuras excêntricas que surgem na internet falando sobre temas de
extrema complexidade – os chakras, as leis herméticas, a alquimia etc. e tal –
mas parecem pouco espirituais de fato. Sobrepor o intelecto a todo o resto é
tornar as coisas de Deus algo puramente acadêmico, no que vale lembrar que que
por vezes foram grandes intelectuais que cometeram as maiores atrocidades “em
nome de Deus”, Mas um Deus ao qual só se conhecia de forma intelectual e
egoica.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ademais, buscar o conhecimento de algo tão
complexo como “o verdadeiro caminho para Deus” por via do intelecto já é
equivocado por si só. Afinal, será mesmo que existe alguma doutrina que careça
de bons e bem fundamentados argumentos na defesa de si? Imagine, por exemplo,
se fosse promovido um grande evento como nunca visto na humanidade. Um evento
no qual se reunissem os grandes nomes de cada doutrina: o Papa, o nome mais
expoente do espiritismo, a figura mais importante do budismo, a maior
autoridade no protestantismo etc. Olha, quase posso garantir que ninguém sairia
vencedor ou fracassado desse debate, e muito provavelmente todos, em algum
momento, cairiam naquela famigerada ideia das “verdades de fé”, isto é, aquilo
em que se acredita não com base em argumentos bem embasados, mas por meio da
tradição, da crença e correlatos (e não há nenhum problema nisso).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Certo. Então, se concordamos que um buscador
sincero e dedicado ao estudo encontraria bom fundamento em toda e qualquer
religião, como conhecer o caminho correto, como encontrar a Verdade se não por
meio do intelecto. E é neste ponto que eu, que adoro listas, vou deixar algumas
dicas para você com base na minha própria experiência. Vamos nessa?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">1 – Colocando
o ego de lado</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Há uma frase bonita que diz que “aquilo que
você busca também está buscando por você. Ok, eu concordo, mas também concordo
que aquilo que você está buscando da maneira errada e com as intenções
inapropriadas está se afastando de você. E aqui cabe uma pergunta: a sua busca
por respostas tem Deus como objetivo final ou tem apenas você, com a sua
necessidade de desvendar segredos do Universo só para se sentir melhor consigo
e superior aos outros, ou para gozar de mais conforto neste mundo material? Não
estaríamos nós apenas substituindo a desesperada busca por títulos acadêmicos
(também muito bem-vindos) pela busca de experiências metafísicas e poderes
sobrenaturais que nos elevem acima dos demais, colocando-nos em evidência entre
esses meros mortais?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Colocar o ego de lado (metaforicamente falando,
é claro, pois isso soaria absurdo para qualquer profissional sério da
psicologia ou da psicanálise) e estabelecendo Deus como um fim me parece um
excelente exercício, por mais árduo que seja (e, acredite, é beeem árduo). O
livro <i><a href="https://marmanjocaido.blogspot.com/2021/04/imitacao-de-cristo-tomas-de-kempis.html?showComment=1646411593232">Imitação
de Cristo</a></i>, escrito por Tomás de Kempis, é um livro extremamente querido
entre os cristãos católicos e um excelente aliado nesse processo de abandonar-se
em Deus, esquecendo-se de si e dando espaço para que a Verdade ocupe o palco de
nossa mera existência. Fica a dica.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">2 –
Perguntando a quem tem a resposta</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Este tópico é tão óbvio, mas tão óbvio que eu
não vejo necessidade de me demorar muito nele. Pense bem: na escola, quando
você tem dúvida, você pergunta ao professor. Em casa, quando você ainda é criança,
você recorre aos seus pais quando precisa de permissão para algo ou de algum
esclarecimento ou ajuda. Então me responde, criatura: por que cargas d’água, em
se tratando da natureza de Deus, você recorre ao pastor, ao padre, ao
pai-de-santo, ao terapeuta e até ao presidente da república em lugar de
recorrer... a Deus?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nada contra essas figuras que eu mencionei,
certo? A questão aqui é que, se você quer uma resposta certeira, um
direcionamento verdadeiro, não faz sentido recorrer a alguém que – na melhor
das intenções – vai lhe oferecer uma resposta obviamente enviesada! Talvez você
não acredite que pode ter esse diálogo direto com Deus; talvez você não se
considere digno(a) ou – pior! – talvez acredite que não deva se dirigir a Ele
questionando-Lhe a própria natureza. Mas eu vou lhe dizer uma coisa: você pode,
sim! Pode e deve.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Deus muito se agrada do filho sincero que recorre
a Ele e fala com sinceridade. E digo mais: as minhas orações mais benéficas
foram aquelas em que eu “quebrei o pau”. Claro, você não precisa e nem deve
faltar com respeito com quem lhe concedeu a vida, mas não tema ter uma conversa
espontânea, de filho(a) para Pai, de criatura para Criador.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E, claro, fique atento(a), pois a resposta
virá. Seja por meio de uma coincidência bizarra, de uma música, uma mensagem,
um sonho... Não sei como, mas sei que ela virá, a um só tempo clara e sutil. Então,
por favor, não se distraia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">3 –
Lembrando que uma coisa não exclui a outra</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Veja bem: eu já passei por várias religiões.
Segui a fundo apenas o catolicismo, mas já transitei com certa dedicação pelo
espiritismo e o universalismo, bem como já frequentei a umbanda, o budismo, o
hinduísmo etc. Dadas essas minhas incursões por diferentes filosofias, se tem
uma coisa que me incomoda é escutar alguns líderes religiosos afirmarem que “a
filosofia X é a verdadeira” ou “a igreja Y é a igreja de Cristo”. Algumas
denominações religiosas, mais radicais, até mesmo acrescentam que tudo o que é
contrário a elas é obra do inimigo, “o pai da mentira”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Tal discurso me incomoda porque eu estou muito
certo de haver encontrado Deus em cada uma dessas experiências, e sei que você,
que também já esteve em vários lugares na sua jornada rumo ao sagrado, também
já O encontrou em cada um deles. Ademais – e espero não estar sendo blasfemo ao
dizê-lo – me parece muito sacana a imagem de um Deus que, ao mirar uma casa
espírita, por exemplo, afirme algo como: “Tem uma galera ali me buscando,
falando de mim e tentando se pautar em meus ensinamentos, mas esse povo é
espírita, ali eu não entro”. A propósito, se bem me lembro, é justamente o
contrário disso que o Divino Mestre nos diz em Mateus 18,19-20: “Pois onde dois
ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b><span style="line-height: 150%;">É
insano acreditar que um Deus que é todo amor e misericórdia faça acepção de
pessoas com base em suas doutrinas em vez de considerar a busca sincera de cada
um.</span></b><span style="line-height: 150%;">
O Deus verdadeiro é um Deus de amor, e não de arrogância; não um Deus que olha
a religião e “não se junta com essa gentalha” (e eu nunca pensei que recorreria
ao Chaves para refletir sobre o Criador...).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E é aqui que pode vir a pergunta: “Ah! Então
quer dizer que eu posso frequentar qualquer religião?!”. E a minha resposta é
SIM!, você pode, maaas... – e eu preciso que você preste muita atenção ao que
direi em seguida – <b>o fato de não haver <i>a religião</i> verdadeira não significa que
Deus não o(a) queira em uma em particular</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É isso mesmo que você leu. Pois acima da
diversidade religiosa, existe a vontade do Criador. E, nessa perspectiva, o
discurso tão em voga de que “Jesus era contra as religiões, então vamos buscar
Deus apenas dentro de nós” pode ser tão prejudicial quanto a afirmação de que
“a minha doutrina é a correta”. As religiões, doutrinas e filosofias existem no
mundo, de modo que, se nós concordamos que Deus se faz presente em cada uma
delas, é natural que concordemos também que Ele precisa de pessoas específicas
exercendo um papel em cada uma delas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É por isso que existe gente desenvolvendo um
trabalho maravilhoso na doutrina de Kardec, é por isso que existem pessoas com
vibração tão elevada na umbanda, é por isso que existe gente cheia do Espírito
Santo na igreja evangélica... A grande maioria das pessoas ainda sente que
precisa e recorre às religiões e, portanto, Deus lá sempre estará, sempre
designando pessoas para determinadas tarefas. Beleza, neste ponto você vai me
dizer algo como: “Aihn, mas tem um monte de gente enganando os outros dentro
das igrejas e blá blá blá”. Pois então... eu disse que Deus designa pessoas
para certas tarefas e não que executa Ele mesmo as tarefas. Nós, em nossa
inconstância, estamos invariavelmente nos afastando de Deus, sendo, portanto,
suscetíveis ao erro... E, sim, isso dá margem para uma outra conversa bem complexa
que nós não teremos aqui, tá bom?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">4 –
Vivendo a vida</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Certo, vimos que as muitas abordagens oferecem a
possibilidade de conexão com o sagrado, estando aí a importância e valor de
todas elas. A nossa falha, porém, pode estar também nessa arraigada ideia de
que demandamos um momento, uma reunião e/ou um ritual específico para tal
conexão. Convém repetir que a adesão a uma filosofia ou algo do tipo é, sim, de
imenso valor, mas a gente precisa cuidar para que aquele momento da missa, da
gira, do passe ou do louvor não seja o nosso ÚNICO momento dedicado a Deus ao
longo da semana.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E não, eu não estou dizendo que você precisa
reservar mais momentos para Deus ou que precisa orar três vezes ao dia em vez
de apenas uma etc. Eu estou dizendo que, se você coloca Deus como um fim em si,
cada movimento, cada ação sua deve ser por e para Ele.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Buscar desesperadamente uma doutrina na qual se
encaixar pode ser um sinal de que você só se acredita em contato com Ele dentro
de um conjunto de dogmas, quando, na verdade, Deus é tudo o que há. Nem que
você quisesse, você não estaria fora ou longe Dele. Em meio a essa luta
cotidiana que nos consome o tempo, a energia e a atenção, ter um momento
dedicado exclusivamente a Ele é super importante. Viver a vida, porém – sem se
cobrar, sem se julgar em débito porque faltou à missa na semana passada – pode
lhe proporcionar insights maravilhosos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Experiências como o <i>satsang</i> (“encontro com a Verdade”, em sânscrito), <i>mindfulness</i> (atenção plena) e a vertente
filosófica voltada para a não-dualidade exploram muito e de forma bastante
experiencial essa ideia de que Deus já é aqui e agora, e jamais poderia deixar
de ser. Não permita que a busca desesperada por uma Verdade intangível ao
intelecto o distraia, desviando a sua atenção de uma Verdade que já está dada,
de um Deus que jamais lhe ocultou a Sua face.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esteja inteiro(a) no que faz. Faça o seu
trabalho não apenas pelo sustento, mas também na certeza de que Deus o(a)
designou para fazê-lo em prol de alguém que talvez você nem conheça e nunca
venha a conhecer, mas que precisa do seu trabalho. Seja gentil e abençoe a
todos. Diante de cada situação, se pergunte como agiria Jesus (ou Buda ou
Sócrates ou quem quer que seja) em seu lugar. Dialogue com o próximo como quem
dialoga com uma manifestação do Divino (aliás, SURPRESA!, é exatamente isso que
o próximo é). Sacralize a tudo e a todos, pois, como bem diz o título de um
livro do Pe. Fábio de Melo, <b>sagrado é
viver</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">5 –
Entendendo que Deus é grande</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Você já deve ter visto aquela imagem tão
singela, mas tão profunda que apresenta dois peixes dentro do mar, um deles
livro e outro no interior de um aquário. No aquário há a inscrição “com
religião”, ao passo que no peixe que nada livremente há a inscrição “com Deus”.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmB5l9ciws73CU0vH1HGTw24KOipBQFHhH0m3g1vI00R9Ap91lqlMtiWPle_sK_Q-APuDNkOBkmI-hHBt0QRhJn-fEG0MBqk4LWCmU11GWFUL-vE466Ce0T8hS3VwSVJubX2jQnTxBaMHs8Nfx_jC5O2s57uz46QTEr_Hl3aC3q5ClUDaCBCkFF6q6Ua4/s1600/Deus%20x%20Religi%C3%A3o%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: verdana;"><img border="0" data-original-height="1345" data-original-width="1600" height="538" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmB5l9ciws73CU0vH1HGTw24KOipBQFHhH0m3g1vI00R9Ap91lqlMtiWPle_sK_Q-APuDNkOBkmI-hHBt0QRhJn-fEG0MBqk4LWCmU11GWFUL-vE466Ce0T8hS3VwSVJubX2jQnTxBaMHs8Nfx_jC5O2s57uz46QTEr_Hl3aC3q5ClUDaCBCkFF6q6Ua4/w640-h538/Deus%20x%20Religi%C3%A3o%202.jpg" width="640" /></span></a></div><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Na minha interpretação, essa ilustração não
desrespeita e nem descredibiliza a religião, mas apenas a define como algo que
capta um aspecto específico de Deus, o que a torna limitada. O peixe que nada
livremente parece menos limitado, pois, ao se ver livre de uma doutrina em
especial (o aquário), tem o privilégio de navegar por todas as águas,
estabelecendo contato com as diversas facetas do Divino. Mas não se engane...
pois o oceano, por maior que seja, também tem os seus limites, e ninguém pode
conhecer ou captar o Todo...</span></p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E o que eu quero dizer com isso? Bom, estou
dizendo que, aderindo ou não a uma religião, a sua compreensão do Criador será
limitada, pois Ele é incognoscível, inefável. Pôxa, Ele é Deus uai (e me perdoe
pelo mineirês). Muito me agrada uma busca livre da religião, entrar em contato
com outras maneiras de crer, ritualizar e professar a própria fé; conhecer
outros aspectos do Altíssimo e me dar conta do quão pouco ainda sei sobre Ele. Todavia,
também compreendo que, ao fazer tal escolha, perco a oportunidade de vivência coletiva
da espiritualidade, da identidade, sensação de pertencimento e propósito
proporcionadas pela forma como é estruturada uma doutrina. E bem sei das tantas
vezes em que, ávido por respostas, me confundi, me perdi e me coloquei em
experiências que não eram pra mim...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Perceba, portanto, que uma coisa não é melhor
que a outra. O que existem são abordagens distintas e, claro, as nossas
escolhas, que sempre trazem consigo vantagens e desvantagens. A arrogância de
quem crê haver compreendido o Criador – o que é mais comum dentro das
religiões, mas também presente entre os espiritualistas – nos afasta Dele, ao
passo que o humilde reconhecimento de Sua grandeza e de nossa pequenez e
ignorância tende a nos propiciar um contato mais íntimo com Ele.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Conclusão</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Lembro de, em criança, ir à missa com minha
mãe, quando era sempre cantada uma música assim: “Senhor, quem entrará no
santuário pra te louvar? / Quem tem as mãos limpas e o coração puro / Quem não
é vaidoso e sabe amar”. Só quando adulto descobri que essa música tem
inspiração no Salmo 24.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Perceba que o salmista afirma que só entrará no
santuário – isto é, só estará na presença de Deus – quem for honesto, bom,
humilde e amoroso. Em nenhum momento ele diz algo como “quem for evangélico” ou
“quem for maçom”. Mas ele também não disse “só entrará quem zombar, criticar e
fugir das religiões”. Tanto o salmo como diversos outros trechos bíblicos
revelam que Deus espera de nós comportamentos, atitudes e ações, e não adesão ou
repúdio a esta ou àquela doutrina.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Afinal, estar preso a um aquário, sem a
possibilidade de experienciar a imensidão do oceano é ruim. Igualmente ruim,
porém, é ficar à mercê dos perigos das águas, sem o devido amparo e instrução,
quando do gozo de nossa liberdade... O bom disso tudo é que Deus, em Sua
infinita misericórdia, nos dá a possibilidade de escolha, expressa na palavra <b>livre-arbítrio</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, segue buscando, mas não permita que o
seu coração se aflija por questões que nunca foram prioridade para Deus. Apenas
seja sincero e persistente no desejo de seguí-Lo, de agir conforme a vontade
Dele. Vontade essa que há de ser revelada no âmago de todo buscador sincero.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu espero que este artigo o tenha ajudado de
alguma maneira, trazendo-lhe paz e clareza quanto aos seus próximos passos.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-73476067403546087642023-05-17T10:27:00.005-07:002023-05-17T10:27:48.306-07:00Cristo contra a LGBTfobia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdivLG3W7BLt39vdiOWUaPfc3YFXK19V0XPLG8Iv8ZcoY90oed2zEGGmknYST9w5r360-5gcJQEZrXr38PcaXDoESMObrqLEsHhDg0qGkkufCjli7Jea1FEocZfZk8jCD4RxLU9COlRU6sKuBzKkhikEU9JzTgDFeHFhRhEt6CmFiuhT1Ydig24A-J/s299/download.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="299" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdivLG3W7BLt39vdiOWUaPfc3YFXK19V0XPLG8Iv8ZcoY90oed2zEGGmknYST9w5r360-5gcJQEZrXr38PcaXDoESMObrqLEsHhDg0qGkkufCjli7Jea1FEocZfZk8jCD4RxLU9COlRU6sKuBzKkhikEU9JzTgDFeHFhRhEt6CmFiuhT1Ydig24A-J/w400-h225/download.jpg" width="400" /></a></div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">De acordo com o
livro do Gênesis, em diálogo com Noé, Deus estabeleceu o arco-íris como símbolo
da eterna aliança entre Ele e o homem. Bilhões e bilhões de anos mais tarde, porém,
as cores do arco-íris se tornariam, graças ao designer Gilbert Baker, símbolo da
comunidade LGBTQIA+. À primeira vista, parece não haver nenhuma relação entre
uma coisa e outra, né? A verdade, porém, é que tem tudo a ver.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Jesus, aquele a
quem tantos de nós escolheram como Senhor e Mestre, é o exemplo máximo de
combate à LGBTfobia. Com as suas incontáveis lições de amor, duras críticas à
hipocrisia dos fariseus e convites ao autoconhecimento, Cristo se nos apresenta
como a conexão entre esses dois sentidos atribuídos às cores do arco-íris em
tempos tão distintos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">A máxima “ame ao
próximo como a si mesmo”, afinal, nada mais é que uma forma de dizer “ame ao
próximo e, para tanto, ame a si mesmo o bastante para não precisar descontar no
outro as suas frustrações, medos e indecisões”. Com Jesus a gente aprende que o
amor-próprio não dá lugar ao egoísmo, que nada mais revela senão uma autoapreciação
que, por exacerbada que pareça, é demasiadamente frágil. É por isso que ora se
diz que a polaridade do amor não é o ódio, mas sim o medo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">E foi ele, o medo,
que pregou o nosso Mestre na cruz. O medo daqueles que, avessos a quaisquer
mudanças na ordem das coisas, temiam aquele que ousava chamar a Deus de “Pai”,
exaltar a humanidade dos desvalidos, adentrar a sinagoga e anunciar a Boa-Nova,
dizendo: “As escrituras já se cumpriram”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Que o Mestre
Jesus, encarnação do mais puro amor, nos conduza para essa tão necessária
jornada para dentro de nós, fortalecendo-nos o suficiente para que o outro, com
as suas verdades e idiossincrasias, não represente para nós uma ameaça.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Que vejamos em
todos a Face de Deus, sempre cientes de que o arco colorido que corta os céus
contempla a todos; de Noé aos dias atuais, abraça a TODOS.<o:p></o:p></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-28020074539871868022022-05-12T05:52:00.002-07:002022-05-12T05:52:53.946-07:00Sobre se jogar na vida<p style="text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZZGm7n2zBaTEOafXLt3Tl7m2XBWUIW0Ve_Hcbg_WYZqoLWICMRSBuerXGclYkyf_wOQzILiuoz3YALcd3Mbcn2r7-FYb2w-95906q04NdwD92Jz37XmxZrxXCISSzXE4VdF4FTJGzC5jsaeV0amWbVHZ_Pm9uI34xs-0C5fuCLLFNCIiRrFVsdGs1/s2048/279939014_5205178579519007_4732528403384759144_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="2048" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZZGm7n2zBaTEOafXLt3Tl7m2XBWUIW0Ve_Hcbg_WYZqoLWICMRSBuerXGclYkyf_wOQzILiuoz3YALcd3Mbcn2r7-FYb2w-95906q04NdwD92Jz37XmxZrxXCISSzXE4VdF4FTJGzC5jsaeV0amWbVHZ_Pm9uI34xs-0C5fuCLLFNCIiRrFVsdGs1/w400-h400/279939014_5205178579519007_4732528403384759144_n.jpg" width="400" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">No último sábado, aventurando-me em mais uma trilha guiada, fui presenteado com as belas paisagens no trajeto entre a Serra da Moeda e Marinho da Serra – que fazia parte do percurso feito pelo ouro de Minas Gerais com destino aos portos do Rio de Janeiro. Todavia, se por um lado fui privilegiado pelas belezas do caminho – a envolvente neblina do início, o Pico do Itabirito, os pequenos vilarejos, a charmosa cachoeira etc. – por outro, tive a contemplação prejudicada pelas minhas próprias limitações.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eis que na segunda metade da caminhada, quando já percorridos cerca de 4km, a minha limitação visual, unida à falta de equilíbrio e ao cansaço físico, se apresentou como um obstáculo real à atividade. Caí pela primeira vez, sem imaginar que as dificuldades ainda por vir me levariam a cair pela segunda, terceira etc.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O constrangimento era um fato, sobretudo quando, observando as minhas dificuldades, participantes com os quais eu ainda não caminhara me perguntaram se aquela era a minha primeira vez naquele tipo de atividade. Todavia, se havia o constrangimento, havia também a solidariedade e a gentileza típicas de quem costuma participar dessas atividades, sempre a me amortecerem as quedas (pois a caminhada é individual, mas nunca solitária...).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Se nas experiências anteriores eu chegara ao fim da caminhada feliz e orgulhoso pelas dificuldades transpostas, o prazer não se fazia presente desta vez, quando – assentado no restaurante da simpática <a href="https://www.instagram.com/estalagemmoedareal/?fbclid=IwAR3Gv9WD7hVSunxVVkrPrzXzBeqiTWHxa5-aYiA3SO18VcWdDL2EdDPDBes" target="_blank">Pousada Estalagem Moeda Real</a> – eu me percebia certo de não mais querer passar por experiências como aquela.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não obstante, havia também algumas certezas e aprendizados que nem mesmo o meu cansaço, vergonha e joelho ralado podiam abafar, quase como uma vitória subjacente a um aparente fracasso. A saber: a cada queda, eu me levantara imediatamente (ou quase); não me faltara ajuda em nenhuma das dificuldades (e aqui destaco o nosso guia <a href="https://www.facebook.com/profile.php?id=100010019354379" target="_blank">Marcelo</a>, pessoa de um raro senso de humanidade, e o Eurico, participante que, sem querer, mas com imensa boa-vontade, acabou por se tornar meu guia em alguns momentos).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E, acima de tudo, a conclusão que me veio – à custa de muito esforço, mas como que um profundo suspiro de liberdade – foi a de que não se trata de vencer ou fracassar, de se sair bem ou mal, mas, sim, de viver as experiências. É na experiência que a gente se percebe, detectando as nossas forças e fraquezas e, por conseguinte, realizando ajustes, decidindo-se quanto ao que evitar ou repetir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mais do que malogros e êxitos, a experiência nos proporciona o autoconhecimento, acompanhado daquela doce sensação de que, a despeito dos resultados, nós encaramos mais um desafio. Perceber-se, porém, só vem de uma disposição e abertura para a vida, com as dádivas e reveses que lhes são próprios.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu desejo que você se jogue na vida, e que, em cada mergulho, conheça um pouco mais deste que será o único a acompanha-lo até o final dessa longa e imprevisível caminhada: você mesmo.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-16747304722786942292022-01-27T14:39:00.001-08:002022-01-27T14:41:33.724-08:00Pânico (Scream, 2022)<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEihZ_ucjgd80q6R3G8tvqCpIrtvmZYNoPJ4ejIS4D3Sw-6x90_kZeLEdrgXRxNNrqIzfOxtdu6pzOL57duKeodK9-ye9OSutJtRpFGqb8DUSS7ePKmUDWsARDSMPi6kDfOjplzSgXv1sUFPBPzH1-AEVJlUJChnJzLncoUyELjhuVZ4OE1pzUhV8Uy7=s1024" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="690" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEihZ_ucjgd80q6R3G8tvqCpIrtvmZYNoPJ4ejIS4D3Sw-6x90_kZeLEdrgXRxNNrqIzfOxtdu6pzOL57duKeodK9-ye9OSutJtRpFGqb8DUSS7ePKmUDWsARDSMPi6kDfOjplzSgXv1sUFPBPzH1-AEVJlUJChnJzLncoUyELjhuVZ4OE1pzUhV8Uy7=w270-h400" width="270" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Foi num remoto ano de 1997, quando as vídeolocadoras nem sequer sonhavam com a sua extinção, que tive o privilégio de assistir, por meio de uma fita VHS, àquele que inaugurou uma nova fase no gênero terror. Cinema era um luxo para a minha realidade de então, de modo que eu só vim a adentrar uma sala pela primeira vez no ano seguinte, quando Titanic (Titanic, 1997) convenceu a minha mãe a, numa tarde aleatória, surpreender a mim e à minha irmã com um “meninos, vamos ao cinema?”.</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não haver conhecido o ghostface no cinema, porém, em nada prejudicou a minha experiência com Pânico (Scream, 1996), que, alguns meses antes, virara até matéria de alguns telejornais. Era noite. Estávamos eu e minha mãe – grande companheira para filmes de terror e afins – nos primeiros minutos daquele filme tão esperado quando acabou a energia elétrica, frustrando a nossa experiência. Em instantes, porém, a luz retornou, nos permitindo acompanhar as desventuras de Sidney Prescott (Neve Campbell) e companhia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Neste ponto é possível que você, leitor, esteja a se questionar: “Mas por que diabos esse cara não para de divagar e parte logo para a discussão do novo filme, que é o que de fato importa?” E eu respondo justificando o meu relato intimista pela palavra que mais me vem à mente quando penso em Pânico (Scream, 2022), informalmente chamado de Pânico 5: nostalgia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Sim, pois, para cinéfilos da minha geração, que tiveram a grata oportunidade de assistir ao nascimento dessa franquia em uma conturbada adolescência, falar desse novo filme é falar de nostalgia, homenagem, recordações. É, enfim, uma experiência certamente distinta daquela vivida pelos que ora são apresentados à franquia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O retorno de alguns personagens – além dos óbvios Sidney, Dewey (David Arquette) e Gale (Courteney Cox) – é um entre os muitos elementos da homenagem que se pretende Pânico 5. Judy Hicks (Marley Eve Shelton), sobrevivente de Pânico 4 (Scream 4, 2011) e desafeto de Gale naquela ocasião, retorna aqui como xerife de Woodsboro e mãe de Wes (Dylan Minnette), cujo nome, por sua vez, homenageia o saudoso Wes Craven (1939 – 2015), criador da franquia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Martha Meeks (Heather Matarazzo), que tem breve aparição em Pânico 3 (Scream 3, 2000) como irmã de Randy (Jamie Kennedy) – sobrevivente do primeiro filme que não durou muito no segundo – é aqui mãe dos gêmeos Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad (Mason Gooding). A propósito, são fantásticas as conexões que o filme estabelece entre Mindy e o falecido tio Randy... Uma curiosidade: o pôster de divulgação de O Albergue 2 (Hostel: Part II, 2007) é estampado por Heather Matarazzo, cuja personagem, muito embora apenas coadjuvante no longa, é a que tem a morte mais assustadora...</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnkrtuVKFNVoCEEN4642T6WBqGIA7hj4C5VTkAc7DGBm5YC8ivhHvspclWkpzuP0WZ_hY4FyPRcVoP6bWpfB7B8D9TdP_z1RpMdtD3pKfF9iMkgHojerIk_qEPSUc_eKuGr87M7m3mvn-ZkUc7OCd5pdZcQe7JvvYQQm4SIguinXnBwsJBOnqBIspH=s310" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="163" data-original-width="310" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhnkrtuVKFNVoCEEN4642T6WBqGIA7hj4C5VTkAc7DGBm5YC8ivhHvspclWkpzuP0WZ_hY4FyPRcVoP6bWpfB7B8D9TdP_z1RpMdtD3pKfF9iMkgHojerIk_qEPSUc_eKuGr87M7m3mvn-ZkUc7OCd5pdZcQe7JvvYQQm4SIguinXnBwsJBOnqBIspH=w400-h210" width="400" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Outro que reaparece, proporcionando-nos uma grata surpresa, é Billy (Skeet Ulrich), assassino do primeiro filme e o único que realmente merece o título de galã em toda essa franquia. Se tivemos a mãe do rapaz em Pânico 2 (Scream 2, 1997), agora temos a sua própria filha Samantha (Melissa Barrera), que ora divide com Sidney o papel de mocinha.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E, naturalmente, não podemos cometer o absurdo de esquecer Roger L. Jackson, ator de voz que interpreta o Ghostface em todos os filmes da franquia. Quem assiste a Pânico 5 no idioma original tem a oportunidade de escutá-lo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E por falar nisso, atentemo-nos para o cuidado presente até mesmo na dublagem brasileira, que nos trouxe Marisa Leal dublando Sidney, Marco Antônio Costa dublando Dewey, Andrea Murucci dublando Gale e Tatá Guarnieri dublando o ghostface, tal como em Pânico 4. Temos também Wendel Bezerra novamente dublando o Billy, vinte e cinco anos após o primeiro filme...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">São muitas as semelhanças e discrepâncias com os demais filmes da franquia. Em se tratando de diferenças, me chamou a atenção o fato de Pânico 5 ter maior apelo emocional (seria exagerado dizer “dramático”), trazendo um bom número de jovens destinados a morrer – como em todo bom e velho filme de terror –, mas nos levando a nos importarmos com eles. Aqui, os personagens parecem menos aleatórios, o que nos leva, por exemplo, a sofrer pela morte de Judy e do filho Wes, bem como a torcer pela Mindy etc. Penso que um conjunto de coisas contribui para tanto: o valor afetivo da franquia, a boa construção dos personagens e, claro, os requintes de crueldade presentes em cada morte, devidamente compensados ao final. Pois, sim, o filme soube nos proporcionar uma catarse (melhor assim...).</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgsGnxwS9-e8n6GlLXGW3IoYlZ86DyGihAJk_btUKW7P_MOBCTI-iAO3Wknbv6S_Zs2yHoZAWAmfdTAnfgqITNsujXVsEhjbRIy3KU6ENlPNZpgZu5ZkLY976PtbPCSUwj_qET6OxrUL4eHW0CVOqnWITrV47jDNdtTd0-uyM5euFJwyPzjDU7MwjOw=s620" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="620" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgsGnxwS9-e8n6GlLXGW3IoYlZ86DyGihAJk_btUKW7P_MOBCTI-iAO3Wknbv6S_Zs2yHoZAWAmfdTAnfgqITNsujXVsEhjbRIy3KU6ENlPNZpgZu5ZkLY976PtbPCSUwj_qET6OxrUL4eHW0CVOqnWITrV47jDNdtTd0-uyM5euFJwyPzjDU7MwjOw=w400-h226" width="400" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Importante lembrar que – tanto por ser esse um filme em que tudo é possível como pelo absurdo da inabalável sorte dos três grandes protagonistas da franquia – um deles precisa morrer aqui, o que foi bastante ousado. Dewey, lembrando-se tardiamente da valiosa dica dada pela Sidney ao final do terceiro filme (“Atire na cabeça!”), acaba por se colocar nas mãos do assassino, proporcionando a qualquer fã da franquia uma cena deveras dolorida. Não surpreenderia, porém, se o personagem retornasse numa provável continuação, revelando-se sobrevivente ao massacre de Pânico 5.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A propósito, a chamada “suspensão da descrença” configura-se como algo deveras necessário em todos os filmes da franquia e neste de modo especial. Afinal, temos o personagem que “vai dessa pra uma melhor” com uma única punhalada do ghostface, enquanto outros, depois de uma série delas, se recupera em questão de minutos; temos uma adolescente/jovem (Mikey Madison) nocauteando um homem adulto e ex-xerife; temos uma policie pra lá de ineficiente e um hospital ermo e sem nenhum tipo de segurança. Enfim, todos os absurdos favoráveis ao roteiro, o que torna totalmente viável o retorno do personagem tão querido que é Dewey.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjbw7GltdxHcgqQ1bP7leDB83uZ_BsD4YmHVY81htO515hmytgKaJ_DNMgICCv-9EwZ3v__tPd_OBvsKUONf14nLUuOHOv-ka4JqFh6_pRvxdbAXzliknwti2Y9z4eWMeaVKfiKftQWLN-Qxgg_FZrUbnl5dpid4fSFKU_m-hsIt-ZysspOmqHZ3NFA=s300" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="222" data-original-width="300" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjbw7GltdxHcgqQ1bP7leDB83uZ_BsD4YmHVY81htO515hmytgKaJ_DNMgICCv-9EwZ3v__tPd_OBvsKUONf14nLUuOHOv-ka4JqFh6_pRvxdbAXzliknwti2Y9z4eWMeaVKfiKftQWLN-Qxgg_FZrUbnl5dpid4fSFKU_m-hsIt-ZysspOmqHZ3NFA=w400-h296" width="400" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Vale dizer, aliás, que ele, assim como Sidney e Gale, parecem não haver sido tão explorados aqui, o que nem de longe significa que não hajam recebido a devida importância. Ocorre que, além de ser esse um filme ágil, há nele a intenção de apresentar uma nova protagonista. Diante disso, os realizadores parecem haver feito um bom trabalho ao se dedicar aos veteranos sem diminuir as irmãs Samantha e Tara (Jenna Ortega), em torno das quais gira toda a trama.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Do trio sobrevivente sabemos pouco, mas o suficiente: Sidney, tal como no terceiro filme, reside em outra cidade, agora com filhos (tomara que frutos de um relacionamento com o detetive interpretado pelo Patrick Dempsey em Pânico 3...), retornando para Woodsboro em razão da morte de Dewey. Ele, por sua vez, é um xerife aposentado vivendo em um trailer. Ele e Gale (assim como os seus intérpretes na vida real) não estão mais juntos, o que tem como causa a carreira de Gale. A química entre os atores, porém, permanece quase palpável.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Enfim, Pânico 5 se sai bem em todos os seus objetivos: prestar uma homenagem aos fãs e ao criador da franquia, ressuscitá-la e contar uma boa história. Parece-me, porém, haver sido dedicada demasiada atenção à metalinguagem e às conexões com os filmes anteriores e pouca atenção ao desfecho, que nos revela assassinos irrelevantes com motivações nada criativas. Todavia, considerando que a própria Sidney caçoa de tais motivações, penso que isso talvez seja intencional, vez que nesse longa importa muito mais o durante do que a revelação final. Ademais, trata-se de um roteiro que, ao abraçar com força a metalinguagem, brinca com o telespectador por meio da subversão, surpreendendo com o diferente quando se espera o óbvio e oferecendo o óbvio quando se espera a novidade. Um bom exemplo disso é a insinuação de uma morte </span><i style="font-family: verdana;">a la</i><span style="font-family: verdana;"> Psicose (Psycho, 1960) que não acontece.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Outro ponto é que, embora há quem diga ser possível uma boa experiência com Pânico 5 sem conhecimento dos demais filmes da franquia, considero isso um tanto improvável. E digo-o porque, por mais que o próprio filme ofereça uma contextualização, penso se tratar de muita informação para um telespectador não iniciado na franquia. O primeiro filme me parece essencial. Há ainda as muitas referências a Stab – filme de terror existente no universo de Pânico, estabelecido a partir do segundo filme da série – que tende a dificultar a experiência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Enfim, Pânico 5 – ao menos a meu ver – não decepciona os fãs da franquia, a despeito das falhas comuns a qualquer obra (sobretudo aquelas com forte apelo comercial). Embora o filme possa soar como despedida, o bom senso nos leva a considerar Pânico 5 como um novo fôlego para a franquia, que, a depender do resultado nas bilheterias, obviamente ganhará uma continuação (a não ser, claro, que optemos pela ingenuidade de acreditar que os produtores valorizam a arte acima dos lucros).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Resta-nos, então, aguardar o desenrolar dessa história, por ora detendo-nos ao sentimento de gratidão ao estranho ruído e à janela assustadoramente aberta que, há vinte e cinco anos, amedrontou Kevin Williamson, inspirando-lhe o roteiro do longa de 1996. No mais, espero que isto não aconteça, mas, se porventura a vida imitar a arte e estranhos acontecimentos lhe perturbem numa calada e solitária noite, atente-se a estas dicas: não atenda ao telefone, não abra a porta, não tente se esconder, não entre em... pânico.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p></div><p style="text-align: justify;"><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-34154022908937880832021-09-27T20:17:00.000-07:002021-09-27T20:17:04.012-07:00Sobre livros e tevê<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaLoie3N9kkQkW-PJjDfJIZUoDViymfnQFe1g8rdEqaglRJLMXvtCFObn3ZGRCtvRTaGW41ezBLxaQfglWVpG74WuR7H-Pqe8_7RwiIyKUkK9et7U0CUTHAfmXZfCj1xLkVPQ7vVfZbpQ/s395/WhatsApp+Image+2021-09-27+at+22.21.16.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="395" data-original-width="318" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaLoie3N9kkQkW-PJjDfJIZUoDViymfnQFe1g8rdEqaglRJLMXvtCFObn3ZGRCtvRTaGW41ezBLxaQfglWVpG74WuR7H-Pqe8_7RwiIyKUkK9et7U0CUTHAfmXZfCj1xLkVPQ7vVfZbpQ/w517-h640/WhatsApp+Image+2021-09-27+at+22.21.16.jpeg" width="517" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Embora bem-intencionada, esta ilustração sempre me deixa pensativo.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Vamos por partes, começando pelo fato de ela estar desatualizada, vez que hoje melhor seria substituir a imagem da tevê pela de um smartphone devidamente conectado a todas as redes sociais possíveis. Não obstante, ignoremos esse pormenor, até por ser a tevê algo ainda muito presente em nossa rotina.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Outro ponto que me parece problemático é a vilanização da tevê e a exaltação do livro, como se este fosse por si só a solução para tudo e aquela fosse uma maldição, um veículo do qual não se possa fazer bom uso.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nesse ponto, eu fico pensando nas novelas mexicanas que eu tanto adoro (risos) e nas boas opções que há na programação televisiva, mas que precisam ser garimpadas, vez que, por não atraírem as massas, estão sempre fora do horário nobre. Fico pensando também em homens de incontestável inteligência, como Adolf Hitler, e sua nefasta atuação sobre o mundo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E é daí que me vem a reflexão de que o bem ou o mal nem sempre estão nas coisas em si, mas no uso que dela fazemos, por mais clichê que isso soe. Ademais – por mais bem-vinda, necessária, útil, importante e indispensável que seja a leitura – há que se desconstruir a romântica e pouco pragmática ideia de que os problemas do mundo cessariam a partir do momento em que todos aderissem ao hábito de ler.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Isso não é verdade, pois mesmo o hábito de leitura precisa ser precedido por políticas que a tornem acessível. E, aqui, nós estamos falando de educação, de inclusão social e de uma série de coisas que devem se dar não a partir da leitura, mas antes dela; para conduzir a ela, e não o contrário.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ademais, havemos que pensar também na qualidade da leitura. De que leitura estamos falando, afinal? Seja lá o que for, é ótimo que as pessoas estejam lendo, mas seria desonesto ignorar o abismo existente entre “Dom Casmurro” e “Os segredos da mente milionária”, certo?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Enfim, em suma, a mensagem aqui é: incentivemos a leitura, sim, mas sem romantiza-la, pois opiniões estanques são, não raro, problemáticas, e o mundo, por mais cruel que isto pareça, está longe de ser assim tão quadradinho.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-52480276958979942372021-08-30T05:58:00.002-07:002021-08-30T06:03:07.646-07:00Não existe relacionamento fracassado!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3sFxFApg6jIGLgPyHip-lO_YG6WA9CbizfKYReiZ_qSt7GxTwkAjgvzUAVSe1yrpvvPgjQ0pf1Z1fq8KF84bv5MvAGp2THYlvwMjlBViHHLR-BHS2ebCfuehyphenhyphenhk3WTAOJ3IosgYLwBqU/s1920/girls-839809_1920.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1920" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3sFxFApg6jIGLgPyHip-lO_YG6WA9CbizfKYReiZ_qSt7GxTwkAjgvzUAVSe1yrpvvPgjQ0pf1Z1fq8KF84bv5MvAGp2THYlvwMjlBViHHLR-BHS2ebCfuehyphenhyphenhk3WTAOJ3IosgYLwBqU/w640-h426/girls-839809_1920.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">“Não deu certo”. Eis uma afirmação comumente utilizada como referência a um relacionamento encerrado. Afirmações desse tipo partem da equivocada ideia de que as coisas precisam ser eternas. Caso contrário, é porque “não deu certo”. Ora!, não existe relacionamento fracassado. Existe é relacionamento terminado. Relacionamento que, quando se tornou disfuncional, foi prudentemente interrompido.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Neste ponto, você pode estar questionando: “Mas isso não faz sentido! Por uma lógica antonímica, se uma coisa parou de dar certo, é incontestavelmente óbvio que ela passou a dar errado!” Calma... e atente-se para o fato de que a abordagem aqui não se dá no campo semântico, mas, sim, na perspectiva que temos de relacionamentos e términos, comumente oriunda do mito do amor romântico.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">O tão famigerado “final feliz” ainda é para nós sinônimo do “e viveram felizes para sempre”. Se nos fosse revelado que, alguns meses após o conhecido final, Cinderela se cansou daquela monotonia, pegou a sua parte da grana e resolveu dividir apartamento com as meias-irmãs, todo aquele amor vivido entre ela e o Príncipe perderia o valor para nós, pois só vale se for “para sempre”, embora nem a própria vida o seja. Não raro, um namoro terminado é lembrado (e avaliado) pelo desfecho trágico e não pelos anos bem vividos. E, nesse sentido, o fato de a história haver tido um fim nos leva a considerar todo o resto como tempo perdido, como se, para valer a pena, as coisas precisassem ser eternas.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">É óbvio que ninguém embarca num relacionamento pensando no dia em que ele vai terminar. Da mesma forma, ninguém começa em um novo emprego pensando algo do tipo “quero dar o fora daqui em seis meses” ou se muda para uma casa nova afirmando “vou permanecer nesse imóvel só até ano que vem”. A princípio, a gente investe nas coisas objetivando que elas durem, e isso é natural e até saudável em certa medida. Mas fato é que um dia somos demitidos ou recebemos uma proposta de emprego melhor; um dia o aluguel fica muito salgado e a gente precisa procurar por outro imóvel; um dia os estilos de vida, os sonhos, os comportamentos, as visões de mundo não mais se alinham... e a gente precisa pôr fim a certos relacionamentos.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">É claro que há aqueles relacionamentos que já começam “errados”, por assim dizer, mas esses são casos à parte, e mesmo eles, de alguma forma, também cumprem com o seu papel em nossa jornada. De um modo geral, porém, relacionamentos não dão errado. Eles apenas param de dar certo ou nos proporcionam algo distinto do que deles esperávamos.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Errada é a falsa ideia de eternidade que, comumente, nos leva a jogar na lata de lixo tudo aquilo que, embora haja chegado ao fim, foi maravilhoso enquanto durou (ou que, mesmo nunca havendo sido maravilhoso, ao menos nos ensinou a nunca mais nos colocarmos em uma situação afim). É triste ver pessoas definirem como “fracassado” um relacionamento que gerou até filhos! Meu Deus! Se há filhos, então deu certo. Se houve amor ou mesmo tesão, deu certo, sim. Se foi legal durante dois ou três dias, já deu super certo! Se nos ensinou a fazermos melhores escolhas, deu certo. Se proporcionou aprendizado, amadurecimento e autoconhecimento, então valeu, cumpriu com o seu propósito, deu certo...</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Essa falsa ideia de eternidade é muito comum nos relacionamentos, fazendo-se presente desde a tatuagem com o nome do companheiro até a vida completamente alicerçada naquela parceria. Mas não é só nos relacionamentos que essa ideia se faz presente. Veja você que o nosso modo de viver pressupõe uma ilusão de que a própria vida neste plano é eterna. Nós, simplesmente, não somos suficientemente treinados ou maduros para lidar com a finitude das coisas. Mas fato é que as coisas são transitórias, sendo esta uma verdade incontestável. E penso eu que, quanto mais conscientes formos da inconstância das coisas, mais propensos estaremos a estabelecermos bases firmes em nós mesmos, sem construirmos castelos sobre alicerces de areia.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Sabe aquela frase que diz “foi bom enquanto durou”? Pois é... Ela é clichê, mas expressa uma verdade equivocadamente contrariada por afirmações do tipo “o relacionamento não deu certo”, “o romance fracassou” e afins. As pessoas estão em constante mutação, e é inteligente e até mesmo saudável reconhecer quando as discrepâncias, comuns em todo e qualquer encontro, estão fazendo a relação ruir; quando os interesses já não são os mesmos, inviabilizando, assim, a manutenção de algo que já não faz sentido.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Ou seja: até mesmo a concordância entre ambas as partes quanto a haver chegado a hora de cada um seguir o próprio rumo é sinal de um relacionamento saudável e bem-sucedido. Pôr fim a uma relação por vezes se revela como um verdadeiro ato de amor, pois não raro acontece de haver amor, mas não haver possibilidade de alinhar os objetivos, valores, expectativas e afins. É quando chega o momento de, por amor – amor pelo parceiro e amor-próprio – libertar o outro e libertar a si mesmo.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">A intenção aqui, no entanto, não é induzi-lo a adotar a efemeridade como modo de vida a partir de então. Pelo contrário, o que pretendo é convidá-lo a seguir embarcando nas experiências com a intensidade que elas comumente exigem e merecem. Mas, se porventura tais experiências chegarem ao fim, não as rotule como fracassadas, pois isso seria enveredar por uma inverdade que só traz tristeza e sensação de perda de tempo. Pelo contrário, comprometa-se, a partir de então, a modalizar a sua fala sempre que se referir ao relacionamento passado, substituindo “não deu certo” por “foi super legal e produtivo, mas tivemos que descontinuar” ou “deu certo, mas, quando começou a não funcionar, a gente achou por bem terminar”.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #444444;">Mas é para dizer isso a você mesmo, e não para os outros, que não têm absolutamente nada com a sua vida. Não se trata de provar nada a ninguém, mas de saber isso internamente, sempre ciente de que, humanos que somos, por vezes a gente vai sofrer, por vezes a gente vai chorar, sentir raiva, mágoa... E está tudo bem, pois eu sei que é difícil... É difícil encarar de maneira tão inspirada um relacionamento pelo qual estamos ainda enlutados. É difícil conceber dessa maneira um relacionamento abusivo (pelo qual ninguém deveria passar e que de maneira alguma pretendo romantizar aqui). Atribuir sentido, porém, pode ressignificar e amenizar a dor de uma experiência dolorosa. Trata-se de uma mudança de paradigma que denota gratidão à vida pela experiência vivida e, sobretudo, ao outro, que atravessou conosco uma fase que, por alguma razão desconhecida, se fez tão necessária ao nosso processo de aprendizagem. Esse, sim, interminável.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;">Nesse sentido, não entremos em um relacionamento tendo a eternidade como meta, mas, sim, para fazer dar certo, para evoluir, para ser feliz e fazer feliz enquanto possível for, sem nunca esquecer as palavras do poeta: “Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.</span></p><p style="text-align: center;"><b>***</b></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;">Este artigo foi originalmente publicado em minha coluna nos portais </span><a href="https://osegredo.com.br/nao-existe-relacionamento-fracassado/" style="font-family: verdana;" target="_blank">O Segredo</a><span style="color: #444444; font-family: verdana;"> e </span><a href="https://www.eusemfronteiras.com.br/nao-existe-relacionamento-fracassado/" style="font-family: verdana;" target="_blank">Eu Sem Fronteiras</a><span style="color: #444444; font-family: verdana;">.</span></p><div><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-37756326200587777452021-07-02T03:19:00.014-07:002023-03-29T04:14:36.703-07:00Os iluminados da Zona Sul<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjThC0QqHEDjXJSKAvQGcehyRSskQIV25g-9MnDSQrrW2GGesTQWZUahMAcs7Mksk3MRwcizEcxPdca4jnm27xkJMA-Wy06m3skx7OlBXFrZAf7AMG5RYpai96cg45RQVgBOIVwUj4Uk48/s864/G00D+VIBE%2524.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="864" data-original-width="864" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjThC0QqHEDjXJSKAvQGcehyRSskQIV25g-9MnDSQrrW2GGesTQWZUahMAcs7Mksk3MRwcizEcxPdca4jnm27xkJMA-Wy06m3skx7OlBXFrZAf7AMG5RYpai96cg45RQVgBOIVwUj4Uk48/w640-h640/G00D+VIBE%2524.png" width="640" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Como vivem? De que se alimentam? Como se reproduzem?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Bom, as variações são muitas, na verdade, mas, em sua expressão mais estereotipada, eles são tipos curiosos com uma serenidade falsamente afetada, similar à Monja Coen no início da fama (eu gosto muito da Monja Coen, ok?). A voz de veludo é, aliás, um recurso necessário ao convencimento (dos outros e deles próprios) de que transcenderam todas as vicissitudes humanas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas cuidado! Quando confrontados com questões da vida real, é comum que eles sejam dominados pelo instinto animal que habita todos nós, extravasando toda a sua ira por meio da crueldade, dos insultos e de toda a sorte de agressões.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Em razão de uma dieta extremamente restritiva, dado o seu rígido estilo de vida vegano, alguns deles têm uma aparência subnutrida, o que costuma fazer parte do pacote que lhes permite jogar na cara da sociedade o elevado patamar no qual se encontram na escala evolutiva.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Outros, porém, preferem sobrecarregar as suas redes sociais com fotografias ostentando asanas (posturas de yoga) com uma perícia impecável, ou cliques nos quais eles se exibem em posição de lótus (a despeito da baita incoerência que há no fato de querer se exibir em um momento teoricamente voltado à introspecção e à desconexão com o mundo externo).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">São brancos em sua maioria, e os “núcleos ascensionais” que costumam frequentar se localizam na zona sul em sua quase totalidade. Até porque não é qualquer um que dispõe de 300 ou 400 reais para investir nas suas dispendiosas terapias. Portanto, lamento informar, mas se você vive na periferia e “vende o almoço para comprar a janta”, não há muita chance pra você, pois a evolução espiritual está incontestavelmente condicionada ao seu poder aquisitivo (sim, contém ironia...).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Existe, aliás, uma incoerência neles (a incoerência é, por sinal, a sua marca registrada). É quase consensual a sua admiração por pessoas como Buda, Jesus e afins. Os Iluminados da Zona Sul, porém, não parecem nada propensos a adotar o estilo de vida abnegado e miserável escolhido por esses mestres que eles tanto dizem admirar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Alguns deles, ditos “terapeutas”, obtêm um rendimento superior a renda média da população, e surfam no vazio existencial de uma classe média perdida, imediatista e por vezes desacreditada nos métodos cartesianos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É comum não gostarem de pobre, o que está sutilmente implícito em um discurso aparentemente inofensivo. Falam de autorresponsabilidade (conceito muito válido e bem-vindo, aliás) como apologia à meritocracia e negação às estruturas sociais segregacionistas dentro das quais eles são privilegiados; dizem que “a energia não mente” como forma de justificar, de uma maneira mui espiritualizada, os próprios preconceitos; defendem que “somos todos um”, mas “confundem” amor-próprio com egoísmo e individualismo quando isso lhes convém.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A sua filosofia (de fachada) é embasada em frases soltas de Chico Xavier, Sidarta Gautama, Gibran e afins, sempre defendendo o amor como a solução para o mundo (como de fato é). Acontece, porém, de você não ser acolhido com toda essa amorosidade ao recorrer a eles fora do contexto “terapêutico”. O que se justifica pelo fato de que a sua dignidade só lhes é notada enquanto você lhes estiver oferecendo algum lucro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eles alegam que o Reiki pode ser eficaz na diminuição do estresse e da ansiedade; defendem que a terapia tântrica, o ThetaHealing e o diabo a quatro podem amenizar quadros de depressão e oferecem, por meio das Constelações Familiares, respostas para todos os problemas existentes em sua vida! Curiosamente, porém, ignoram condenação por fraude ou mesmo discursos homofóbicos e machistas que envolvem essas práticas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nada é mais surpreendente e complexo que os Iluminados da Zona Sul, os quais, creio, só perdem para os militantes que clamam por liberdade e empatia, mas se convertem no demônio quando confrontados com opiniões divergentes das deles.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu fico me perguntando qual será o destino desses nobres conquistadores do nirvana. E se de repente a humanidade fosse visitada pelo bom senso, esvaziando os seus sofisticados espaços terapêuticos? Por quanto tempo duraria o seu “estado alterado de consciência”?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Bom, eu não sei. Tudo o que sei é que entre esses tantos ególatras travestidos de espiritualistas, há pessoas de fato comprometidas com o próprio aprimoramento, conscientes do próximo e empenhadas na elevação da humanidade a um novo patamar de consciência. Sim, tais pessoas existem, mas é premente ressaltar que, infelizmente, elas não são uma maioria, mas, sim, uma exceção. Em vez de procura-las, porém, eu sugiro algo melhor: que você procure se tornar uma delas.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9bf7b3IOy1DYKp-7wkGJctm9ktUAuz37D_Co9AUK3s5pTrVxHDxw63AO72QdRcuvpk2pxJkZJ8Eqc75xCle83ih5Bhr9r3XH1pXTkG9C6QDsMX1fGgHj8mpL6DieX0TP-nuSXCltkBPY/s640/Capitalismo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9bf7b3IOy1DYKp-7wkGJctm9ktUAuz37D_Co9AUK3s5pTrVxHDxw63AO72QdRcuvpk2pxJkZJ8Eqc75xCle83ih5Bhr9r3XH1pXTkG9C6QDsMX1fGgHj8mpL6DieX0TP-nuSXCltkBPY/w640-h360/Capitalismo.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b>P.S.:</b> enquanto eu preparava este artigo para postagem, vi-me dominado pelo intenso receio de que o mesmo causasse incômodo ou mesmo ofendesse a quem, definitivamente, não pertence ao grupo que eu pretendia apontar aqui. Por “apontar”, aliás, entende-se não um ataque desmotivado e meramente recreativo, mas, sim, por chamar a atenção para um problema real que tem causado danos à vida de pessoas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nesse sentido, ao reproduzir no texto um estereótipo extremado, o meu objetivo não passa por atacar pessoas, mas, sim, por trazer à tona uma questão social, a saber, a reprodução de preconceitos e práticas excludentes no contexto espiritualista.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Como esclarecido no parágrafo final, não há generalizações aqui, havendo, sim, a consciência de que, mesmo dentre aqueles que se enveredam pelos comportamentos aqui descritos, há os que o fazem sem intenção vilanesca, mas, sim, por falta de consciência social.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Este artigo, portanto, se configura como um convite à tal consciência, da qual nenhum espiritualista é privado. Muito pelo contrário, inclusive. Configura-se, também, como uma crítica à hipocrisia nossa de cada dia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Enfim, dada a fragilidade que se faz presente em todos no momento atual, bem como o meu receio em soar ofensivo (ou ao menos gratuitamente ofensivo), se fez necessário este <i>post scriptum</i>, que, espero, se faça suficiente para a compreensão do que se pretendeu aqui.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #999999; font-family: verdana;">Texto originalmente publicado em minha coluna no <a href="https://www.eusemfronteiras.com.br/os-iluminados-da-zona-sul/" target="_blank">Eu Sem Fronteiras</a>.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-80911040119192588812021-06-24T20:10:00.004-07:002021-06-24T20:10:41.921-07:00Uma fase chamada Danielle Steel<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlVPr2whYN56fD7b0MYA1MMANOgUOVYzVc5BlEU9oqvESAjcw4fVuJPozJiWqdWbe2IV_ta7xBX0_b3s9oVTvTfuxLsMCJGNA-nyjomA_iXrNAJ3dARPNKutf-zHK-lnlqwhQ2TqQxjQQ/s1440/206976407_4226206720749536_607872009330001573_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlVPr2whYN56fD7b0MYA1MMANOgUOVYzVc5BlEU9oqvESAjcw4fVuJPozJiWqdWbe2IV_ta7xBX0_b3s9oVTvTfuxLsMCJGNA-nyjomA_iXrNAJ3dARPNKutf-zHK-lnlqwhQ2TqQxjQQ/w640-h640/206976407_4226206720749536_607872009330001573_n.jpg" width="640" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Era um início de tarde cinzento de 2002. Chuviscava, é verdade, mas aquele sábado estava cinzento mesmo porque, só pra variar um pouquinho, eu estava apaixonado pelo professor de História do pré-vestibular (aliás, quem não estava?). Assim, saindo da cursinho por volta do meio-dia, fui à banca de livros usados que havia lá na Rua dos Tamoios, em frente à antiga Telemar. Naquele tempo, a prefeitura não havia ainda proibido os camelôs.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nessa banca, sempre havia livros da Danielle Steel, escritora do gênero Chick-Lit que me havia sido apresentada pela Irani, querida amiga da época. E foi nesse dia que eu comprei o meu primeiro livro, “Momentos de paixão”, por exatos R$5.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Irani e eu costumávamos cabular aula no pré-vestibular só pra ir até a biblioteca pública lá na Praça da Liberdade, onde ela, cega, pegava de empréstimo aqueles enormes volumes em braile. Antes de “Momentos de paixão”, aliás, eu já havia lido outras obras da Danielle Steel disponíveis no acervo da biblioteca. “Vale a pena viver” foi a primeira. Depois vieram outras tantas: “Uma só vez na vida”, “Um amor conquistado” (belíssimo...), “Acidente” etc.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas o que eu queria ler mesmo era um sobre o qual a Irani sempre mencionava como sendo maravilhoso – “Segredo de uma promessa” – mas que não existia no acervo da biblioteca. E eis que o mesmo me veio pelas mãos da minha irmã Patrícia, que, de tanto eu falar do livro, fez peregrinação pelas livrarias-sebo de Belo Horizonte e o encontrou, me dando de presente de Natal junto a outros dois: “Casa forte” e “Meio amargo”. O curioso é que “Segredo de uma promessa” foi o pior livro da Danielle Steel que eu já li. Ironias da vida... (risos)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu gostava de ler as estórias daquelas norte-americanas de classe média alta. Não sei por quê. Acho que o feminino em mim se identificava. Gostava de vê-las lutando pela família, se dando uma nova chance no amor, indo contra as convenções sociais e, claro, entregando-se ao amor de suas vidas...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Todavia, à medida que a vida real foi se impondo, o gosto pelas obras da Danielle Steel foi se esvaindo também. Mas sou sempre tomado de ternura quando os avisto aqui na estante, vez que tanto contam da minha história...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Contam da trajetória do leitor que eu sou; contam do amor fraterno que levou Patrícia a sair em busca do livro que eu tanto desejava; contam das paixões de um cara que, nas décadas seguintes, ainda quebraria muito a cara por isso; contam de uma amizade que se perdeu no tempo; e contam, sobretudo, dos primeiros raios de liberdade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E veja só: se um dia eu encontrasse a Danielle Steel, eu pediria um autógrafo e também diria a ela que, finalmente, o dia não está mais cinzento...</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-7239817994158296012021-06-16T04:26:00.013-07:002021-06-17T06:05:09.727-07:00Talvez eu tenha raiva de mim mesmo...<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJoWzt1dud5r6_WdcXMt-JH1Huex3DYqBD0JwI5TSwKsgDg8Jw0rdysQINF2m2D191QMD-_Qw2taq-AksHawOWzUOsuAukVUBwdHmDn2D8BFxT3g8deWQiYfLmfZ5qsSLe2MssWSj2RIM/s300/05f9386f-b68c-4c4f-a38b-beaeae6443c8-300x281.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="300" height="599" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJoWzt1dud5r6_WdcXMt-JH1Huex3DYqBD0JwI5TSwKsgDg8Jw0rdysQINF2m2D191QMD-_Qw2taq-AksHawOWzUOsuAukVUBwdHmDn2D8BFxT3g8deWQiYfLmfZ5qsSLe2MssWSj2RIM/w640-h599/05f9386f-b68c-4c4f-a38b-beaeae6443c8-300x281.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu sinta raiva por haver me desculpado quando eu não tinha culpa, por haver tentado me explicar quando o outro simplesmente não se importava ou por haver me humilhado, dando, assim, razão ao agressor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver passado o maior pano para quem não se fez digno de tanto; por haver tratado como livro de cabeceira gente que, quando muito, me tinha como folheto descartável; por haver expressado profunda gratidão a quem, com ar de generosidade, fez o mínimo quando podia fazer tanto.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por me haver regozijado com migalhas; por havê-las tomado como banquete quando não estava em condições de discernir altruísmo de esmola ou falsa empatia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver sido diplomático e não-violento quando devia ter tocado o foda-se; por haver ofertado a outra face quando o outro acreditava que “o mundo é dos espertos”; por haver me preocupado em ser bom quando o outro, ao desferir contra mim golpes em forma de palavras, se mostrava indigno de meu respeito e cordialidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver insistido na escuta negada; por haver me preocupado em acertar as coisas com quem há muito se afastara emocionalmente; por haver pagado pelo que eu tanto almejava que me fosse humanamente concedido.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por não haver sabido ou tido a coragem para dizer o que eu de fato desejava; por haver permitido ou mesmo colaborado para que regateassem o meu valor como ser humano; por haver aceitado uma entrega parcimoniosa e condicionada quando sabia que só uma entrega total, espontânea e desinteressada me traria verdadeiro alento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver mendigado atenção quando sabia que o preço era alto; por haver me contentado com a humanidade distorcida como quem aceita a bebida que, em lugar de matar a sede, desidrata.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por também ter culpa; por haver me metido em determinadas situações ou, pior, por não haver saído delas quando era tempo, quando tudo apontava para um fim trágico.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver buscado respostas onde só encontrei mais perguntas; por haver me afastado de mim para buscar no outro a cura para os meus males.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva por haver me colocado em contextos aos quais eu não pertencia, por haver erguido castelos sobre alicerces de areia, por haver me colocado nas mãos de gente que tão pouco pode fazer por si mesma.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por me haver guiado por expectativas alheias, por não haver corrido o risco de quebrar a cara em busca da concretização dos meus sonhos, por haver dito sim ou dito não quando queria dizer o contrário.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por não haver chegado “lá” aos 30; por não haver atendido, aos 33, aos quesitos necessários para ser digno do amor deste ou daquele; por não haver conquistado, aos 37, aquelas coisas que não me interessam, mas que caracterizam o estereótipo do vencedor; por ser medíocre ou, pior, por julgar medíocre aquilo que eu genuinamente sou...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez eu tenha raiva de mim mesmo por haver perdido tempo em demasiado, por haver perdido vida...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É verdade... Talvez eu tenha raiva de mim mesmo, e, se assim é, essa raiva evidencia a necessidade de perdoar aos demais, mas aponta, antes de mais nada, para a urgência de perdoar a mim mesmo, de fazer as pazes com esse outro que me habita e me faz companhia...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Que você possa se curar de si; saber-se vítima, mas saber-se algoz; perdoar-se e perdoar a todos; olvidar o passado e seguir em frente.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-90691914892254219472021-06-05T20:37:00.001-07:002021-06-05T20:40:33.567-07:00Cuidado com discursos intimidatórios...<p><span style="font-family: verdana;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8hfutSv4oVJCh5r33kpACQ0hlbQMVt47mF0WtWvonDjmTOPhCDMtfWZsMAcuuPxZBfvYmckkHLYENdw3d0MpI-rjM-NLxoUO70W4m0W4Td51Parwdp1Dy2zhyphenhyphenywykRm1LvyHcpeGKWTg/s712/d16d2789ac3e9b3d280823597f5ca0e6_1538768718308_1865753220.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="474" data-original-width="712" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8hfutSv4oVJCh5r33kpACQ0hlbQMVt47mF0WtWvonDjmTOPhCDMtfWZsMAcuuPxZBfvYmckkHLYENdw3d0MpI-rjM-NLxoUO70W4m0W4Td51Parwdp1Dy2zhyphenhyphenywykRm1LvyHcpeGKWTg/w640-h426/d16d2789ac3e9b3d280823597f5ca0e6_1538768718308_1865753220.png" width="640" /></a></span></div><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Cuidado com os discursos intimidatórios!</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Cuidado com os posicionamentos que, com vista a inviabilizar o diálogo, direcionam o foco para as divergências em lugar das convergências. Cuidado com os argumentos pautados na dualidade típica de novela das nove que ignoram os diversos matizes presentes em todos os seres humanos, filosofias e esferas do espectro político.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Cuidado com os discursos que, objetivando força-lo a uma escolha neste pretensa disputa entre o bem e o mal, buscam desestabilizá-lo emocionalmente. “Se você não escolhe, então já escolheu o Toddy, o Nescau, a Pepsi, a Coca-Cola, o biscoito ou a bolacha”. Ou, mais cruel do que isso, buscam taxa-lo como ignorante, alienado, estúpido ou coisa que o valha.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E não se engane quanto ao fato de ser esta uma estratégia bem calculada, pois, seres relacionais que somos, é natural que a pressão e o cancelamento nos leve a agir contra os nossos princípios, não raro fazendo uma escolha que nos liberte do ostracismo, mesmo que essa não expresse a nossa verdade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Cuidado com o discurso que adere a causas nobres e obrigatórias a todo e qualquer ser humano – o combate à fome, à miséria, ao racismo e afins – sem que tais causas sejam de fato a finalidade última.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Cuidado com o fanatismo que nos cega para as nossas próprias incoerências, hipocrisia e intolerância. Cuidado com as ideologias que lutam valendo-se das armas que dizem combater. Cuidado com tudo o que fomenta a separatividade, o ódio e a barbárie.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas, afinal de contas, de que lugar falo eu? Eu falo da periferia; falo do lugar do gay com deficiência que, depois de toda uma vida escolar na escola pública, teve o privilégio de cursar uma faculdade numa instituição de renome graças a um governo que me deu oportunidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas eu falo também do lugar do cara que anulou o voto nas últimas eleições presidenciais, do lugar do cara que não se manifesta simplesmente porque não sabe o que outrora julgava saber. Eu falo do lugar do cara que, de modo geral, também não se sente representado, e, quando se sente, teme aderir ao pacote com tudo o que vem dentro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu falo do lugar do sujeito que se viu mergulhado numa depressão que teve significativa contribuição de gente cujo discurso era puro “amor”, “tolerância” e “empatia”...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, por favor, cuidado com o que fazemos aos outros, com o que deixamos de fazer e, principalmente, com a beleza do discurso que se sobrepõe às efetivas ações em prol do nosso próximo, aquele com o qual estamos comprometidos, até o pescoço, a despeito de nossas bandeiras, queiramos ou não.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Vacina, saúde, paz, liberdade de expressão, Educação pública e de qualidade e amor... muito amor para você, meu irmão.</span></p></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-7851755411746979932021-06-03T14:04:00.003-07:002021-11-08T05:42:09.710-08:00O gozo do envelhecer<p><span style="font-family: verdana;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR6lNoMb-iR02-MpSarUjNtYMPGmSz24cA9Lh4dyvkYrWH-lwRaQEdh-aVaHp7DlXj5rs1DIi8QUUJiXY_dA9CF-5KB7LFJVBZ4SvJxe4qxrgxZb0ZAGjEIyRamN641D01rFou9sjsO4w/s960/195845761_4168753846494824_7377474291976931983_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="960" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR6lNoMb-iR02-MpSarUjNtYMPGmSz24cA9Lh4dyvkYrWH-lwRaQEdh-aVaHp7DlXj5rs1DIi8QUUJiXY_dA9CF-5KB7LFJVBZ4SvJxe4qxrgxZb0ZAGjEIyRamN641D01rFou9sjsO4w/w640-h428/195845761_4168753846494824_7377474291976931983_n.jpg" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: verdana;"><br /></span><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;">Sobressaltado, praticamente saltei do sofá ao
toque do interfone. 10h30. Os malditos cinco minutos! O plano era simples, mas
infalível: havendo ido para a cama quase às três da manhã e cheio de
compromissos para este dia, programei o despertador para as sete e deitei-me no
sofá, certo de que a ausência de conforto me impulsionaria a não permanecer em
repouso quando raiasse o dia. Ledo engano... Despertado pelo alarme do
smartphone cuidadosamente colocado a uma distância que me obrigaria a me
levantar, o que fiz foi confiar nos famigerados “cinco minutos” a mais que,
depois de certa idade, se tornam a nossa perdição. “Só mais cinco minutos”. E
esses viraram horas, que, por sua vez, alteraram todo o curso do dia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">É curioso como eu ainda idealizo em mim
aquele Alex dos tempos de faculdade, que, diante da necessidade de conciliar
trabalho e estudo, virava a noite diante do computador, saía às seis para uma
jornada de oito horas para, em seguida, ir direto para a universidade por tanto
tempo sonhada. Aquele Alex dava conta disso. Ficava sonolento, é verdade, mas
dava conta do recado.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">O Alex de agora, porém, a três primaveras dos
quarenta anos, pode até varar madrugadas, mas a conta, fatalmente, vem durante
o dia. O Alex de então, ainda não desapegado do jovem de outrora, ainda faz
planos mirabolantes, matriculando-se em cursos e sobrecarregando a agenda de
tarefas, ignorando, porém, que sua energia não mais suporta a sobrecarga de
outros tempos. O Alex de então carece de pausa, de fins de semana com descanso
e oito horas de sono diárias. O Alex de agora já começa a preferir a escada
rolante aos degraus comuns; o Uber ao ônibus que não vai deixa-lo na porta; o
prazer solitário ao sexo casual que, possivelmente, vai causar desgaste
emocional.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">Sinto que – apesar das linhas de expressão,
dos cabelos rareados e dos pelos brancos na barba – ele ainda se cobra o
desempenho dos vinte e poucos anos. Não tanto por resistência ao envelhecimento
em si, mas por exigir de si a compensação dos anos perdidos para a depressão e
escolhas equivocadas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">O Alex de então se cobra, aos 37 anos, uma
realização que justifique todo o investimento feito pelos pais ao longo de
anos. O Alex quase quarentão se cobra aquelas conquistas que a grande maioria
dos amigos fez aos vinte. O Alex de então quer correr atrás do prejuízo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">O corpo, porém, é implacável em pedir pausa e
readaptação. Não me refiro a abrir mão de sonhos e ambições, elementos tão
necessários à manutenção da vida. Refiro-me a uma nova dinâmica, adequada às
possibilidades de então. Quem sabe uma alimentação mais consciente? Atividades
físicas regulares, talvez (com certeza)? Terapia? Cursos EAD em lugar dos
presenciais? Uma nova organização em termos de horários e afins? Enfim, uma dinâmica
que acompanhe o não raro intransitivo verbo envelhecer.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">Isso me faz lembrar daquelas atrizes
belíssimas que, outrora interpretando mocinhas nas telenovelas, com presença
frequente nas tramas do horário nobre, ora são convidadas aos papeis de mães
das mocinhas do momento. Vale o mesmo para os galãs de outrora, que agora são o
pai, o médico da família, o padre etc. E, a despeito dos procedimentos
estéticos possibilitados pelo trabalho, o próprio
trabalho é infalível em fazê-los lembrar da inexorável passagem do tempo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">A vida faz assim com os artistas globais, mas
o faz também com os anônimos, com os Alex do mundo afora, que não estão sob os
holofotes, mas também experimentam o democrático processo de envelhecimento.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">Mas se as tramas televisivas relegam a
maturidade a um papel de coadjuvante, restringido a beleza da existência humana
a uma única fase, não precisamos e nem devemos reproduzi-lo em nossa vida real.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">E é nesse sentido que, no final das contas,
esse Alex dos quase quarenta, em perfeita comunhão com o jovem idealista dos
vinte, aprende a entender esse processo que é viver não como a corrida do ouro,
mas como um constante convite a cuidar de si para, então, estar apto a cuidar
dos demais.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana; font-size: 12pt;">Aos poucos, ele entende que desapegar-se da
vitalidade e das possibilidades dos vinte tem a ver, sobretudo, com saber
viver, que, por sua vez, equivale a saber morrer.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-72948359439107837392021-05-19T11:05:00.000-07:002021-05-19T11:05:02.986-07:00O porteiro do dia<p><span style="font-family: verdana;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFmfMnEaZAbWNweQMhiaFI91kaNnnAT9v4itroPR0tUWdBNX4QWn7LsClZcWiT5bdA3t28Y252i_0nTeYu_NnzIjKaipLOPsIHXx0URNZeKvfkGczUpBJQfF23awnfTCdG_VwhiGrDOp8/s1440/179199575_4124302994273243_3576177502979904929_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFmfMnEaZAbWNweQMhiaFI91kaNnnAT9v4itroPR0tUWdBNX4QWn7LsClZcWiT5bdA3t28Y252i_0nTeYu_NnzIjKaipLOPsIHXx0URNZeKvfkGczUpBJQfF23awnfTCdG_VwhiGrDOp8/w640-h640/179199575_4124302994273243_3576177502979904929_n.jpg" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: verdana;"><br /></span><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Saber
que as pessoas sempre vão embora pode tornar um pouco desanimadora a tarefa de
estreitar os laços. Ao menos é o que eu pensava quando da substituição de todos
os porteiros do meu condomínio, ocorrida sem prévio aviso ou justificativa.
Aqui, porém, cabe uma ressalva: sem justificativa ao menos para mim, o típico
condômino que não participa das assembleias e pouco ou nada se envolve com as
questões aqui ocorridas, as quais também me dizem respeito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim,
surpreendi-me com as caras novas repentinamente surgidas na portaria, e o que
parecia ser férias coletivas era, na verdade, conforme me foi explicado por um
dos novos trabalhadores, um remanejamento, prática talvez comum no contexto da
empresa que nos terceiriza os serviços de portaria e correlatos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E,
assim, ia-se um dos porteiros do dia, com o qual eu trocava dicas de leitura e,
infringindo uma regra estabelecida pelo síndico, ficava a papear nas horas de
pouco movimento. Aquele por quem eu era chamado de amigo quando interfonado e a
quem eu já havia convidado para um </span><i style="font-family: verdana;">happy
hour</i><span style="font-family: verdana;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim,
segui não trocando mais que um cumprimento cordial com os novos responsáveis
pela portaria, sem, no entanto, me interessar por lhes saber os nomes. Ressalto
não haver neste caso nada daquilo de “ter faculdade e não cumprimentar o
porteiro”, prática que soaria ainda mais ridícula num complexo de condomínio periférico
e cercado por aglomerados. Eu apenas não queria me interessar por nomes por
saber que, num piscar de olhos, esses poderiam dar lugar a outros e assim
sucessivamente.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Hoje,
porém, depois de novamente acordar tarde em consequência dos péssimos hábitos
que me têm conduzido, desci até a portaria para apanhar uma encomenda: mais um
livro para a minha coleção de leituras pretendidas, mas nunca concretizadas. O
porteiro da ocasião, cujo nome eu ainda desconheço, era justamente o que eu,
nas minhas breves passagens pela portaria, já havia identificado como o mais
simpático. Ao menos é assim que eu adjetivo quem me cumprimenta com um bom-dia
entusiasmado, afirma estar bem “graças a Deus” e me chama de ‘meu querido”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E,
feitos os procedimentos de praxe – entrega da encomenda, assinatura do caderno
de controle etc. –, veio a inesperada pergunta do homem: “E qual livro é esse?”.
Pego de surpresa – tanto pela pergunta como pelo fato de alguém querer puxar conversa
comigo –, detive-me a responder que era um livro de filosofia que eu havia
pedido na Estante Virtual, julgando que o meu interlocutor não se interessaria
em saber que se tratava de uma obra do Huberto Rohden, pensador que, não recordo
como, eu havia descoberto há pouco menos que um ano e por cuja obra eu estou
aficionado.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Foi
então que o meu interlocutor, aparentemente desejoso de compartilhar um pouco
de si, me contou haver trabalhado por anos na Editora Vozes, quando ganhou
diversos livros, tendo a oportunidade de conhecer, em especial, a obra </span><i style="font-family: verdana;">Felicidade</i><span style="font-family: verdana;">, que, segundo ele, narra a
jornada de um monge e de um homem urbano comum em busca da paz interior.
Notoriamente saudoso dos seus tempos de editora, o porteiro relembrou o seu
ex-chefe, filósofo com o qual tanto apreciava conversar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Questionei-o
quanto aos seus atuais hábitos de leitura, ao que ele me respondeu que, no
atual momento, lê assiduamente sobre os temas pertinentes ao concurso que
pretende fazer, esforço que se faz necessário, vez que quer “passar na polícia”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Subi
os oito pequenos lances de escada de volta ao meu apartamento, pensativo. De
alguma maneira, a breve conversa com o simpático porteiro me inspirou, trazendo
claridade sobre as questões com as quais tenho estado às voltas: a falta de
perspectiva; os hábitos que me têm prejudicado tão significativamente; o
sentimento de solidão; o emprego que me garante o sustento e pelo qual sou
grato, mas que não me faz feliz; o sentimento de menos valia...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É
curiosa a ideia que criamos do outro. Ao puxar conversa com o condômino careca
e de óculos que está sempre recebendo livros, é possível que o porteiro
imaginasse estar em contato com um tipo intelectual, e não com um sujeito que
ainda emerge de uma profunda depressão e que ora se vê engolido por um
sentimento de mediocridade. De igual modo, eu não via naquele cara alguém que
já tivesse tido contato tão íntimo com os livros, que fizesse reflexões
profundas e que ora se dedica a realização de um sonho.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É bem
verdade o que ouvi recentemente de uma professora a quem muito admiro: cada ser
humano que deixamos de conhecer é um mundo novo com o qual deixamos de travar
contato.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Aconcheguei-me
no meu pequeno escritório e olhei em volta, desanimado ante à carência de
limpeza. Abri o embrulho e me dediquei à leitura da contracapa e das orelhas do
livro, cujas páginas amarelecidas tanta história guardam. “Deus” – estava
estampado na parte superior da modesta capa, que, logo abaixo, apresentava um
fragmento d’A criação de Adão, de Michelangelo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Deus...
E, de repente, eu soube que seria este mesmo Deus que me capacitaria aos esforços
equivalentes aos quais ora se dedica o meu já tão caro porteiro no alcance de
suas metas. O mesmo Deus que me tiraria do marasmo e me salvaria de mim mesmo.
O mesmo Deus para o qual eu quero e preciso urgentemente voltar, sendo essa a
única meta realmente válida, legítima e necessária. Deus...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ainda
hei de vencer a timidez e perguntar o nome do porteiro.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-68109813551825158912021-04-29T20:49:00.005-07:002021-04-29T21:00:00.546-07:00Amor & Solidão - Carolina Cunha<p><span style="font-family: verdana;"></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="color: #999999; font-family: verdana;"><i>Amor & Solidão</i>, segundo livro de Carolina cunha, revela o
amadurecimento de uma mulher, e, por conseguinte, de uma escrita que ora se
apresenta, a um só tempo, singela e vigorosa.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgca9RANarkgrKfhKjjR9RFwmgBeC1bJwu0qF93Y1p2lnJ4Oj5lTZIMGW1iVSH1Hs4WSxYvrJ1fmjRliXnE3ebmtQY1gLoAOF2g2c0LucTcjUZKOH55qGjYKs6HFa3qMD9xTEy1PDVA6bM/s1645/Amor+e+solid%25C3%25A3o+-+Carolina+Cunha.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: verdana;"><img border="0" data-original-height="1645" data-original-width="1083" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgca9RANarkgrKfhKjjR9RFwmgBeC1bJwu0qF93Y1p2lnJ4Oj5lTZIMGW1iVSH1Hs4WSxYvrJ1fmjRliXnE3ebmtQY1gLoAOF2g2c0LucTcjUZKOH55qGjYKs6HFa3qMD9xTEy1PDVA6bM/w422-h640/Amor+e+solid%25C3%25A3o+-+Carolina+Cunha.png" width="422" /></span></a></div><span><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="color: #444444; font-family: verdana;">Sublimação é o termo que se utiliza, no
contexto da psicanálise, para designar a reorientação de um impulso ou energia para
um ato mais aceito ou elevado. É algo como a ressignificação de um sentimento
ou emoção negativa que, devastadora em sua origem, se converte em um fator
propulsor. Como eu não pretendo – e nem poderia, se quisesse – fazer aqui um
tratado de psicanálise, arrisco definir o termo como um ato consciente ou
inconsciente de sobrevivência.</span></span></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>A arte e a literatura são os contextos nos
quais melhor se verifica esse comportamento humano, como em Johann Wolfgang von
Goethe (1749 – 1832), cujos </span><i>Sofrimentos
do Jovem Werther</i><span> (1774) nasceram da urgência do autor em sobreviver à sua
paixão pela aristocrata Charlotte Buff (1753 – 1828). Por mais que Goethe
esteja entre os poucos que assumem o caráter autobiográfico de sua obra, a
verdade é que toda obra é autobiográfica, sendo ilógico ou mesmo impossível o
contrário.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>Carolina Cunha faz parte desse peculiar grupo
de pessoas que busca na arte a expressão do seu mundo interior e – por que não
dizer? – a própria sobrevivência. Tal substantivo é, a propósito, um tanto
pertinente aqui, vez que a temática da morte (ou da vida) é o que perpassa as 61
páginas do pequeno grande livro intitulado </span><i>Amor
e Solidão</i><span> (2021).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>Neste seu segundo mergulho literário,
precedido por </span><i><a href="https://www.amazon.com.br/Amor-Vidro-Vidrio-Spanish-ebook/dp/B085DJVL1X" target="_blank">Amor de Vidro</a></i><span> (2020), a
mineira se debruça novamente sobre a estreita relação entre amor e perda. Desta
vez, porém, não espere encontrar o desalento típico das paixões juvenis
presente no primeiro livro. Aqui, Carolina expressa, de maneira visceral, os
questionamentos e conflitos típicos de quem fica: a saudade (p. 20), a negação
(p. 50), o medo (p. 45), a culpa (p. 35) ou mesmo a impotência, como se
verifica em “O gato alado” (p. 21), um dos textos mais irretocáveis da obra.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>Não só de dor, porém, se faz </span><i>Amor & Solidão</i><span>, mas também de força,
esperança e fé na continuidade da vida (p. 28 </span><i>et al.</i><span>), destruindo,
assim, a impressão inicial de que se trata de uma obra melancólica. Na
contramão do simples e irrefletido lamento, Carolina mescla a pura expressão de
quem sofre a ausência com a coragem de quem sabe que precisa se reerguer (p. 54
et al.).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>Com destaque para a definição do enterro como
uma “carta de despedida a um leitor ausente” (p. 24), a autora se utiliza
magistralmente das metáforas para falar da perda. E é disso que </span><i>Amor & Solidão</i><span> trata: da perda
focada no luto e de tudo que ele envolve.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="color: #444444; font-family: verdana;">A própria disposição da obra, aliás, expressa
o processo de luto, no que vale ressaltar a infeliz coincidência entre o luto
pessoal, vivido por Carolina, e o luto que atravessam milhões de indivíduos em
razão da pandemia de coronavírus. Convertendo-se este, aliás, em matéria-prima
para a autora (p. 29).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="color: #444444; font-family: verdana;">O curioso é que o luto, aqui, é a um só tempo
dolorido e pedagógico. E digo-o porque, se a dor do luto evidencia o amor que
se tem, ela também ensina a difícil arte de amar em lugar de reter e a despeito
da presença, aprendizado necessário ante as tantas ocasiões em que perdemos não
para a morte, mas para as situações comuns à experiência humana, como a
separação, a indiferença, o afastamento etc.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: verdana;"><span>Nesse sentido, a perda é, sim, o que perpassa
</span><i>Amor & Solidão</i><span>, mas esse também é
um livro sobre o amor. E digo-o não só porque, via de regra, a dor da perda se
reserva somente àqueles que amam, mas também porque Carolina o expressa como
uma força superior à morte, que sobrevive a esta e pela qual vale a pena
continuar vivendo.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="color: #444444; font-family: verdana;">É o amor que presentifica o ausente, que traz
conforto e que, mesmo que levando algum tempo, se converte em combustível para
uma vida que precisa seguir em frente.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #999999; font-family: verdana;"><span>Cunha, Carolina. </span><b>Amor &
Solidão</b><span>. Belo Horizonte: publicação independente, 2021, 61p.</span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-45959718127267689382021-04-19T14:47:00.001-07:002021-04-19T14:47:17.626-07:00Imitação de Cristo - Tomás de Kempis<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPbZ9DYsYIHhgvB2Ou8i2TR_a_-gaoJ4lSdPSOrVLtfb_R8wlCImK1e4ICfi3ATLj9NtNZEQzJcaojCdBMAUa5yoyw7mmNkJ-46NKjg4-GafndTTXArsIWvNFGPCiApy8TCzeUCRwP57M/s499/51GY6uHI2gL._SX347_BO1%252C204%252C203%252C200_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="349" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPbZ9DYsYIHhgvB2Ou8i2TR_a_-gaoJ4lSdPSOrVLtfb_R8wlCImK1e4ICfi3ATLj9NtNZEQzJcaojCdBMAUa5yoyw7mmNkJ-46NKjg4-GafndTTXArsIWvNFGPCiApy8TCzeUCRwP57M/w448-h640/51GY6uHI2gL._SX347_BO1%252C204%252C203%252C200_.jpg" width="448" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">“Mais vitorioso do que aquele que conquistou mil exércitos é o homem que venceu a si mesmo.”</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esse trecho, naturalmente, não é da obra de Tomás de kempis (1380 – 1471), mas da tradição hindu, que, com essa máxima, expressa a prevalência das batalhas internas sobre as lutas externas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A menção à filosofia oriental, aqui, se dá pelo que me salta aos olhos a cada capítulo de “Imitação de Cristo”: a estreita relação com os princípios exaltados em outras tantas doutrinas filosóficas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O meu primeiro contato com a obra se deu há muitos anos por meio de uma oração, aleatoriamente presente em um pequeno livro de orações, sem menção alguma ao autor. Nessa belíssima oração (p. 113), o autor pede que se lhe desperte o desejo de “ser desprezado e esquecido neste século” pelo amor de Jesus. Está aí expresso o nobre desejo de abrir mão de si e dos interesses pessoais para servir a algo maior.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ao postular como virtude o esquecimento de si, Kempis relaciona tal comportamento com o autoconhecimento, afirmando que “quem se conhece bem despreza-se a si mesmo”. Ou seja: quem se conhece de fato, reconhece a própria pequenez perante a imensidão do Universo. É por isso que Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.), no ápice de sua sabedoria, afirmou: “Só sei que nada sei”. Trata-se da consciência do quão pequenos somos diante de tudo que nos rodeia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E isso nada tem a ver com autodepreciação, mas, pelo contrário, com lucidez e moderação na apreciação de si mesmo, sem excessos; sem tender nem para a autocomiseração e nem para a soberba, pois é nesse equilíbrio que se dá o verdadeiro e genuíno amor-próprio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O gritante apelo ao “esquecimento de si mesmo” como único caminho para Deus, portanto, é, na verdade, um convite a não entregarmos ao prazer dos sentidos e às inflações do ego o governo de nossas vidas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Trata-se – como bem disse C.S. Lewis (1898 – 1963), a mente por trás d’As Crônicas de Nárnia – não de pensar menos de si mesmo, mas de pensar menos em si mesmo. Trata-se de se amar de verdade, tornando-se, assim, inatingível. Não porque “o que vem de baixo não lhe atinge”, mas porque não lhe podem doer os golpes desferidos contra um mero personagem que você – você de verdade – interpreta neste mundo a serviço de uma honrosa missão.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Apesar de escrito na era medieval, porém, tem-se aqui não uma abordagem moralista, que condena o “pecador” ao “inferno” (embora esses conceitos estejam, sim, presentes na obra). O que perpassa a obra é, na verdade, o apelo de alguém que, por amor, deseja que transfiramos o foco das coisas perecíveis para aquilo que é eterno.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim, o “esquecimento de si” nada tem de falta de amor-próprio, mas, pelo contrário, envolve o desapego de nossa personalidade (aquilo que pensamos ser) para que se promova o encontro com o nosso verdadeiro Eu e, por conseguinte, o nosso encontro com Deus.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nesse mesmo sentido, Matthieu Ricard, um monge budista, defende que esquecer de si mesmo é o melhor caminho para amar a si mesmo. Ou seja: esquecer-se de si enquanto ego é, decerto, o maior ato de amor que se pode ter por si mesmo enquanto essência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Em uma sociedade que celebra as debilidades e os aspectos da personalidade humana como sendo esse um gesto de amor-próprio, “Imitação de Cristo” – bem como diversos escritos que o precederam e o sucederam – nos convida a, na contramão dos modismos, nos desidentificarmos desses aspectos, que nada mais são do que aquilo que pensamos ser.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A bem da verdade, quanto mais acrescentamos à nossa personalidade, mais vulneráveis somos, estando à mercê das frustrações e decepções comuns à experiência do ego. Assim, Tomás de Kempis defende o autoesquecimento como forma de se tornar imune às agressões e até mesmo aos aplausos (p. 20-21).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O curioso é que muitos dos que curtem filosofias orientais, esotéricas e afins, desprezam a filosofia cristã, o que é compreensível até certo ponto, dado o histórico de repressão da Igreja Católica e do Cristianismo como um todo. Há, porém, que se “separar o joio do trigo” (Mateus 13:24-30), discernindo a torpe ação humana do ensinamento cristão puro e simples, que nada tem de moralista, preconceituoso e que, de mãos dadas com as doutrinas irmãs, só quer a elevação do homem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">“Imitação de Cristo” é, a meu ver, uma leitura bem-vinda para aqueles que desejam resgatar a essência cristã e até mesmo para aqueles que, não sendo adeptos do Cristianismo, desejam retornar para si, buscando uma vida com mais significado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Na contramão do atual fenômeno da autoajuda, que nos estimula à adesão de tantas outras máscaras (“seja rico”, “seja bem-sucedido” e afins); na contramão de filosofias pautadas no poder de cocriação para a aquisição de riquezas materiais, “Imitação de Cristo’ é um convite ao simples, à realização do que é preciso, mas sempre com os olhos voltados para a eternidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, “conhece-te a ti mesmo” e despreza-te a ti mesmo... sem se desviar de quem você realmente é, sem se permitir distrair do que veio fazer aqui.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #cccccc;">Texto que publiquei, originalmente, como comentário no <a href="https://www.amazon.com.br/review/R1HKBOE6NKCUKV/ref=cm_cr_srp_d_rdp_perm?ie=UTF8" target="_blank">site da Amazon</a>.</span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-29632262808654338012021-04-09T16:20:00.000-07:002021-04-09T16:20:13.584-07:00A dona da vida real<div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ohx9qBgJcSo" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Se, assim como eu, você adora um dramalhão
mexicano, é provável que conheça essa clássica cena de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Soy Tu Dueña</i> (2010) – se não me engano, a quinta adaptação do texto
venezuelano de 1972. A trama acompanha uma jovem da alta sociedade que, após
ser abandonada no altar pelo homem que, como se não bastasse, a traia com a sua
prima, decide se mudar para a fazenda que herdara dos pais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Convertida em uma mulher fria e rancorosa, a
jovem – Valentina Vilaça, na versão estrelada por Lucero – não confia mais nos
homens, e esta cena antológica marca a sua decisão por assumir as rédeas de seu
destino, trazendo à tona uma nova mulher.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Se isso, porém, não foi fácil para a
personagem, imagine para nós, pessoas comuns, que não dispomos de uma fazenda
para onde fugir e tampouco estamos podendo jogar um carro no abismo com um
vestido de noiva dentro (sim, a personagem fez isso, e só para se livrar do
vestido...).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Na vida real, a gente precisa lidar com a dor
em meio a uma série de outros problemas, não raro compartilhando o mesmo
ambiente com aquele que nos magoou. Na vida real, depois de ter o coração
partido, não nos deparamos com um Fernando Colunga a nos oferecer todo o seu
amor e disposto a curar as nossas feridas. Pelo contrário, é provável que
permaneçamos por muito tempo sozinhos, isso quando não nos deparamos com um
novo idiota. E, sim, a gente ainda está no lucro caso o nosso algoz haja sido o
David Zepeda.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Na vida real, costuma doer por um longo tempo,
tanto por ser difícil esquecer como pelo nosso apego ao que nos machuca, o que
acaba por render um bocado de autossabotagem. É que na vida real, a gente quer
dar a volta por cima, mas às vezes a gente tem recaídas, não raro nos
enveredando por pequenas ações que colocam em risco semanas, meses ou até mesmo
anos de trabalho de superação.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esse texto, porém, não pretende lhe desanimar
e tampouco criticar a teledramaturgia, da qual sou fervoroso fã. A propósito,
que felicidade a nossa termos a ficção como uma possibilidade de catarse.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Este texto é, portanto, um convite a ter
paciência consigo mesmo. Que o drama mexicano, o filme, o livro ou seja lá o
que for lhe tragam alento enquanto você atravessa a dor, mas que você não se
culpe ou se subestime se não tem a força da heroína da trama ou se sua história
não transcorre como a dela.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E agradeça por isso, pois, se lhe falta a
fazenda, a governanta amorosa e o mocinho bonito que lhe curará as feridas, é
sinal de que você já tem em si tudo do que necessita para superar o que se
passou. Trata-se daquela velha dor que muito nos honra, pois, se nos foi dada,
é porque é do mesmo tamanho que nós.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Você não precisa se arriscar a pegar um
resfriado indo para a chuva bradar que é “a dona do seu destino”. Basta que
você reconheça que – em lugar de um capataz mau caráter e de uma prima que é
melhor ter bem longe – os obstáculos ao final feliz de nossa trama são as
nossas próprias debilidades, as nossas fragilidades, a nossa resistência diante
do novo, o nosso medo do vazio.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E é aí que você percebe que, somente ao
substituir o apego pela aceitação e comprometimento consigo mesma, é que você
se torna a dona. A dona de sua vida real.</span></p><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-14756334925340375972021-03-14T11:24:00.011-07:002021-04-06T15:22:48.887-07:00Somos todos tóxicos<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxmPTbmeo2u0Df6evYc7yhY9s8q5LLgQOAySA_xgtYOcwBre4e3dUHzCaGLdjK3Q0FNggHDdRmMTxnW9Tm26MrRWBPfC1x-V_qm2lpHMox6DQ4aL9lZvCLhrx26aBsJzzj86OlcFBa0pU/s580/Sem+t%25C3%25ADtulo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="404" data-original-width="580" height="446" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxmPTbmeo2u0Df6evYc7yhY9s8q5LLgQOAySA_xgtYOcwBre4e3dUHzCaGLdjK3Q0FNggHDdRmMTxnW9Tm26MrRWBPfC1x-V_qm2lpHMox6DQ4aL9lZvCLhrx26aBsJzzj86OlcFBa0pU/w640-h446/Sem+t%25C3%25ADtulo.png" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A necessidade de expressar de maneira mais exata os nossos sentimentos, emoções, opiniões e afins é o que comumente nos leva ao uso de metáforas, que, em suma, são figuras de linguagem que produzem sentidos figurados por meio de comparações. É daí que surgem expressões como “saúde de ferro”, “fulano é um gato” e outras mais sutis como “fazer amor”, por exemplo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O adjetivo “tóxico”, quando aplicado a uma pessoa, é também metafórico, vez que, na prática, uma substância venenosa, que produz efeitos nocivos ao organismo, pode ser tóxica, mas não uma pessoa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esse uso do termo é mais um modismo – como falar de empatia ou escrever “gratidão” nas redes sociais sem que haja real sentimento por trás disso –, e veio na mesma leva de expressões que, se por um lado revelam uma maior tomada de consciência, por outro evidenciam o quão profundamente fragilizada é a geração atual.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Vez que tudo é dual no mundo da matéria, o uso do adjetivo “tóxico” como qualificação de pessoas tem, naturalmente, o seu lado positivo. Perceba que, se partimos do princípio de que sofisticação de linguagem está diretamente ligada à sofisticação de pensamento, o uso de expressões como “tóxico”, “abusivo” e afins tem um potencial empoderador.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Por outro lado, porém, ao qualificar alguém como “tóxico” não raro estamos a nos colocar no supostamente cômodo e privilegiado lugar da vítima: se o outro é tóxico, logo, eu sou um poço de virtude, encarnação da própria empatia, “alecrim dourado que nasceu no campo...”</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Entenda que em momento algum pretendo culpabilizar as reais vítimas de relacionamentos abusivos, manipulação e demais ardis narcisistas. O que faço aqui, e com a devida cautela, é um convite a investigar o uso metafórico do termo “tóxico”, o que é, de certa forma, também um convite ao autoconhecimento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A quem estamos a chamar de tóxico? O abusador que intimida e nos faz reféns em relacionamentos doentios ou o sujeito que simplesmente não atendeu às nossas expectativas? Quantas vezes qualificamos o outro como tóxico após o fim de um relacionamento no qual nos mantivemos por pura imaturidade e/ou carência? Quantas vezes a vilanização do outro se nos apresenta como recurso para lidarmos com a nossa frustração.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Certa vez o Pe. Fábio de Melo disse: “Às vezes é preciso inventar um ódio, uma mágoa, um menosprezo, para que o amor não correspondido se torne suportável”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Fato é que muitas vezes tomamos por tóxica a pessoa que não nos dá o que desejávamos ou que traz à tona questões sobre nós mesmos. Não raro a carência nos leva a ignorar, voluntariamente, os sinais que estavam ali desde o início, e, quando a coisa explode e a gente se magoa, o outro é tóxico, o outro é desumano e vil.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Em tempos em que existe todo um culto à vitimização travestido de empoderamento e todo um projeto segregacionista disfarçado de luta pela igualdade, é necessário que haja da parte de cada um muita sobriedade e disposição para encarar a si próprio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nós também somos tóxicos quando insistimos depois de um não. Nós também somos tóxicos quando nos agarramos a uma ilusão diante da evidente incompatibilidade de interesses. Nós também somos tóxicos quando nos impomos na vida de quem nem sequer faz parte da nossa. Nós, por muitas vezes, somos vítimas, mas não raro também somos algozes na vida de alguém.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ademais, o relacionamento com pessoas tóxicas é, comumente, um convite a encarar as nossas próprias sombras projetadas no outro. E insistir na posição da vítima não raro equivale a negar os nossos defeitos. É doloroso ser a vítima, mas é preferível à dor de enxergarmos a nossa parte feia, é mais cômodo se comparado à necessidade de assumirmos a responsabilidade sobre nossa vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Como bem diz um texto atribuído a Shakespeare, “as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Textos sobre autoconhecimento costumam ser ilustrados com a bela e imponente imagem do Buda, o que não raro nos conduz a uma ideia equivocada de autoconhecimento como perfeição, iluminação ou coisa que o valha, mas é justamente o contrário! Autoconhecimento tem a ver com aceitar-se falível por condição e, a partir daí, se dedicar a cada aspecto que carece de cura.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu sei que às vezes as pessoas nos machucam. Sei que há os que praticam o mal e nos vitimam, nos magoam e nos destroem por dentro. Eu sei e lamento por isso. Mas eu sei também que pessoas e situações são por nós atraídas por afinidade, de modo que, quanto mais nos conhecermos, menos tóxicos serão os que estiverem à nossa volta.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E menos tóxicos seremos nós, sobretudo para nós mesmos.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-57506406331728812322021-03-10T13:26:00.011-08:002021-04-06T15:50:31.147-07:00As sutilezas do autoamor<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBbCOL2ZVMnmq7_kwzMbbejQ3v9aO3xpihoePaWELuyB2aAQhSWGsUZ6wWrUsZeGUarGv44X41apGLNcmI-JWJe4fnq5unxu7ZnO7f7CpIwaj7YEynLZpff2dFuDb_KQJ45OkWgSQw62U/s640/80502033_2808899752480247_5016398484626997248_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBbCOL2ZVMnmq7_kwzMbbejQ3v9aO3xpihoePaWELuyB2aAQhSWGsUZ6wWrUsZeGUarGv44X41apGLNcmI-JWJe4fnq5unxu7ZnO7f7CpIwaj7YEynLZpff2dFuDb_KQJ45OkWgSQw62U/w640-h480/80502033_2808899752480247_5016398484626997248_n.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O amor-próprio é dado a sutilezas... Mais do que isso: o amor próprio é muito mais um processo do que um fim, algo pronto e acabado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Naturalmente, “tem gente que se ama e tem gente que não se ama”, como bem disse alguém deveras mais sábio do que eu. Há, porém, aqueles cujo amor-próprio é apenas perpassado por um equívoco conceitual.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Há amor quando há empenho para sobreviver aos movimentos da própria mente; há amor quando há dedicação para acertar depois de um novo erro; há amor quando se procura ajuda e quando se luta para vencer os conflitos internos; há amor quando você não se deixa sucumbir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Porque autoamor nada tem de perfeição, passando, sim, pelo constante ânimo de aperfeiçoamento. Trata-se de encarar as próprias debilidades, por vezes numerosas, e acolhê-las como um aspecto digno de cura, e não de retaliação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Equiparar-se aos rostos sorridentes, corpos fitness e espíritos evoluídos do Instagram é a receita certa para o fracasso rumo ao amor-próprio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É que amor-próprio é processo e não lugar aonde se possa chegar e relaxar. É meta diária ante os diferentes desafios da vida. É munição para agir contra as nossas próprias sombras, aquelas que hão de nos acompanhar ao longo de toda a vida na terra (e talvez depois dela...).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Até recentemente eu pensava que amar a mim mesmo tinha a ver com alcançar um estado no qual eu me perceberia totalmente blindado, imune às ofensas, indiferenças, preconceitos e afins. Até o dia em que compreendi que tal estado me retiraria da condição humana, e não há autoamor quando não há o reconhecimento e aceitação de si como “humano, demasiado humano”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pretender-se impassível aos reveses da existência humana é querer elevar-se à condição de anjo ou descer à condição de pedra. Enquanto humanos dotados de amor-próprio, tudo o que havemos de desejar é a sabedoria diante dos sobressaltos, a vontade cada vez mais firme rumo à realização dos sonhos, a autorresponsabilidade e o reconhecimento do próprio poder para tornar sublime a própria vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Você se ama quando se dá o direito ao descanso após um dia de trabalho. Você se ama quando faz pipoca e assiste a sua série predileta na Netflix. Você se ama quando sai para malhar porque sabe que precisa de cuidados. Você se ama quando aprende a dizer não, quando aprende a dizer sim e quando aprende a permanecer calado, pois autoamor também tem a ver com se poupar. Você se ama quando se permite ser amado, sem abusos, sem condições que o diminuam, pois o verdadeiro amor nos deve sempre elevar...!</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Você se ama quando se sabe falível, quando aceita que é o que é e está tudo bem... E se dedica a trabalhar a partir daí.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-1510675118271049712021-03-01T03:39:00.006-08:002021-04-06T16:04:43.711-07:00Trilhas<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDBa9GYznTKF2p3wXTOOivVzUQB_KgiPOEJnkdZZQGRyGvSgZkjWId1FYp9OFMJNGDRtosaDhqzCHVv8_U-5tvUGe2B4CeK290yZ-spJR1U0uGbVJir-DHxvwOWVxY6g1vnIKeQlTVco0/s1080/156516949_3899799460056932_8000782705796523258_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDBa9GYznTKF2p3wXTOOivVzUQB_KgiPOEJnkdZZQGRyGvSgZkjWId1FYp9OFMJNGDRtosaDhqzCHVv8_U-5tvUGe2B4CeK290yZ-spJR1U0uGbVJir-DHxvwOWVxY6g1vnIKeQlTVco0/w640-h640/156516949_3899799460056932_8000782705796523258_n.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">“Sempre pode haver alguém que precise”. Foi a desculpa que inventei para mim mesmo quando, havendo arrumado a mochila, me apercebi do meu exagero ao preparar o lanche para a caminhada. Eu e o meu excesso de zelo... Vesti a calça que, ainda naquela manhã, estaria coberta de grama e o novo par de tênis que, em menos de uma hora, seria estreado numa areia branca e fofinha.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E lá estava eu, às oito em ponto, na portaria do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, cujo nome – se não procede a lenda da moça que se acidentou por ali enquanto cavalgava com o noivo – é um bocado machista para os padrões atuais.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas não era apenas eu: havia ainda os dois amigos queridos, os estranhos sorridentes – alguns dos quais habituados às caminhadas –, o cara que me chama a atenção, mas que dificilmente se envolveria comigo e, claro, o guia para o qual não há tempo ruim. Dentro em pouco eu me certificaria da veracidade daquela máxima segundo a qual “sozinhos nós vamos mais rápido, mas em grupo nós vamos mais longe”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A gratidão veio na companhia do medo ao me deparar com as trilhas que eu não teria encarado se estivesse de sobreaviso. Gratidão porque, ao me poupar do desafio, eu não viveria a grata oportunidade de vencê-lo como eu venci.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E foi assim – entre aclives e declives, subidas e descidas íngremes interrompidas por raros momentos em trilha plana, arranhões e picadas de marimbondo – que vi na caminhada a metáfora perfeita para a condição humana, perpassada pelas quedas, subidas, descidas, solidão, ajuda, arranhões e, claro – como bem disse o amigo Anderson Martins – momentos de plenitude (ou “planitude”) que a gente sabe serem breves, mas que são necessários à tomada de fôlego.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O curioso é que, no meio de uma montanha, não importando o quase esgotamento de suas energias, você não tem a opção de voltar, tomar um atalho ou chamar um táxi aéreo que te tire dali e te deixe no seu destino poupando-lhe das dificuldades do caminho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E a vida, assim como a caminhada ecológica, exige movimento, e a gente não tem outra alternativa senão continuar caminhando...</span></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-1323192390531610882021-02-24T11:54:00.002-08:002021-04-06T16:00:56.332-07:00"O grande sonho"<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXVQznMBeTQAPfi3pGqpL5WVGAlKwbhaGN8_Xwmnv_QDtwdgLYi86uCyCixG6v_M2LjgcpkG1Kb_Ivgds61KPwYbrQ_F-U-SvMwHsZ3TNE7INu9fxXC3UtaNcGjEjGiLbBFTjUyRZZUtg/s1080/151927942_3881841518519393_2222941836712958355_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXVQznMBeTQAPfi3pGqpL5WVGAlKwbhaGN8_Xwmnv_QDtwdgLYi86uCyCixG6v_M2LjgcpkG1Kb_Ivgds61KPwYbrQ_F-U-SvMwHsZ3TNE7INu9fxXC3UtaNcGjEjGiLbBFTjUyRZZUtg/w640-h640/151927942_3881841518519393_2222941836712958355_n.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Há pouco mais de 25 anos, a EMABH - Escola Municipal Aurélio Buarque de Holanda, onde cursei da 5ª à 8ª série, lançava o jornalzinho anual do colégio. O ano era 1995, quando internet, para aqueles pré-adolescentes periféricos e com uma vida inteira pela frente, não passava de algo do qual se ouvia falar. Logo, não havia a possibilidade da criação de um informativo virtual com publicação mensal, algo tão comum hoje em dia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O “Geração Estudantil” – nome escolhido dentre as dezenas de sugestões feitas pelos discentes – se pretendia instrumento de integração entre alunos, professores, direção e comunidade escolar, bem como um estímulo à revelação de talentos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Se por um lado era um instrumento desdenhado por boa parte dos discentes, por outro havia os que reconheciam-lhe a importância, participando ativamente da edição do jornal. Ali havia entrevistas, piadas, charadas, informações sobre datas comemorativas, textos dos alunos, recadinhos e outras coisas que a gente podia deixar como sugestão na caixinha de metal verde que ficava presa à parede ao lado da sala dos professores.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Era o primeiro ano do jornal. Era também o meu primeiro ano naquela escola e naquele bairro. O ano em que fiz os meus primeiros amigos. O ano em que a gente teve o nosso primeiro telefone lá em casa! O ano em que experimentei os meus primeiros conflitos com relação à minha sexualidade ao ver o Arnold Schwarzenegger pelado nas cenas iniciais de “O exterminador do futuro 2”. Foi, portanto, um ano de grandes transformações...</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvuY4ILWDb_yCWmPx6UbPl6KiqFpcgKBLxTRCMIGj35mxRSOcQAnG6wvDUa_Cbgbp9j2MBU6ZUB2H8jc1zSEUgpp8-5-6xdGJp_1PLSiefJNmchXJ5ly9lRf7UpW4VC81veM6GgFTglT4/s616/153376283_3881841521852726_1229772505272634461_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="616" data-original-width="616" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvuY4ILWDb_yCWmPx6UbPl6KiqFpcgKBLxTRCMIGj35mxRSOcQAnG6wvDUa_Cbgbp9j2MBU6ZUB2H8jc1zSEUgpp8-5-6xdGJp_1PLSiefJNmchXJ5ly9lRf7UpW4VC81veM6GgFTglT4/w640-h640/153376283_3881841521852726_1229772505272634461_n.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Foi na 2ª edição do informativo, em 1996, que tive publicado o meu primeiro texto, inspirado em uma situação que de fato havia ocorrido à minha família poucos meses antes. E não precisa ser um expert para perceber que criatividade e habilidade textual não eram exatamente o meu forte (risos).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Talvez, porém, não fosse essa a opinião da Cida Fulanete, que foi a minha professora de português na 6ª e 7ª séries, sendo precedida pela Maria Tereza e sucedida pela Marília. Foi por sugestão da Aparecida, se bem me lembro, que, pela primeira vez, li um livro na íntegra. Era “Ana e Pedro – Cartas”, de Vivina de Assis Viana e Ronald Claver.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Minha Nossa... como é louco perceber o quanto ainda trago daquele Alex de 11/12 anos de idade. Não em termos comportamentais, mas de personalidade. E, embora seja inevitável me deparar com uma dorzinha aqui e ali ao rememorar a trajetória dos meus últimos 25 anos, é gratificante perceber que, se o Alex de agora segue sendo um tolo sonhador, ao menos ele cultiva hoje sonhos um pouquinho mais elevados do que uma premiação na loteria... o que também não seria mal...</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-21669010215057326112021-02-10T07:27:00.013-08:002021-04-06T16:13:40.671-07:00Uma quase mulher<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGTQIUEnPELo1KWtZAoYgXvQSd1nn7KrpeTBMwDR5c4xFw3HhEO8vJOoRkIp2zEfkeBu6bHjyW3-68I09SSRj6LfpizKEzYU1ZH0in8XyT0_qXpFS3mPFp0ndKIerjbe7NcULJVOyKNfo/s421/FB_IMG_1613434089164.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="421" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGTQIUEnPELo1KWtZAoYgXvQSd1nn7KrpeTBMwDR5c4xFw3HhEO8vJOoRkIp2zEfkeBu6bHjyW3-68I09SSRj6LfpizKEzYU1ZH0in8XyT0_qXpFS3mPFp0ndKIerjbe7NcULJVOyKNfo/w640-h640/FB_IMG_1613434089164.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Ela era uma bicha alta, imponente. As pernas eram bem torneadas, próprias de um bailarino com carreira na Europa e Estados Unidos. A pela era de um negro reluzente, como bem disse, certa vez, a igualmente saudosa (e desbocada) Dercy Gonçalves. Dadas as limitações de uma sociedade que celebra as debilidades e desdenha os êxitos, muito se conheceu de suas polêmicas, mas pouco de sua humanidade e cultura irretocável.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A primeira lembrança que eu tenho do Jorge Lafond (1952 – 2003) é de uma participação sua no programa do Gugu Liberato – mais um que nos deixou recentemente –, onde uma jovem realizava o sonho de desenhar, com batom, um coração em sua cabeça lustrosa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Foi na Vera Verão, personagem mais famosa desse grande artista, que eu tive, desde a infância, uma referência de homossexual. Eram outros tempos... Tempos em que homossexuais, se apareciam na tevê, era apenas para fazer rir por via do estereótipo do gay espalhafatoso e sexualizado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Isso, porém, em nada o desabonava. Eu, em algum nível já ciente da minha homossexualidade, gostava daquela liberdade de ser, ainda que não refletisse – como ainda não reflete – a realidade. Gostava de quando a Vera Verão adentrava o cenário da praça, causando alvoroço e chamando a atenção de todos. Gostava das vezes em que, no final do esquete, ela ficava com o bofe da inimiga, só mais tarde vindo a entender que aquilo me proporcionava uma espécie de catarse.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Veja bem: se a Vera Verão – um gay negro e cheio de trejeitos – acabava conquistando um homem comum ou sendo escolhida como a musa do clipe do Paulo Ricardo, decerto que eu, um gay fora do padrão (porque o meio gay também tem os seus preconceitos), teria também a minha chance. Desse modo, a vitória da Vera Verão, mesmo que uma vitória boba (pois, convenhamos, conquistar um boy magia não é lá uma grande realização na vida), também era, de alguma forma, a vitória daquela criança tímida lá da periferia, que, com os seus medos e óculos enormes, já se entendia como homossexual.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pois é... eu sou do tempo em que havia a Vera Verão, que – muito antes de qualquer Pitty Bicha ou Valéria Vasquez (personagens de Tom Cavalcante e Rodrigo Sant’Anna, respectivamente) – já causava estardalhaço e, mesmo que de maneira estereotipada, já ocupava o seu espaço e exercia o seu direito de ser no mundo e em um país racista e homofóbico.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A Vera Verão – que, junto de tantos outros artistas que já partiram, habita a memória desta bicha quase quadragenária que vos escreve – eu envolveria num abraço e diria, se tivesse uma única oportunidade:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Muito obrigado, Lafond.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Texto que transbordou de mim numa manhã de quarta.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-88936394146809312492021-02-08T06:10:00.001-08:002021-04-06T16:22:44.340-07:00Quando chego aos 37...<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEging8R_MRkVl8TWL3cViJQ65QbjXcQqwFCUTwywGqYIDpnCbUaBOPJPyQEO4ZQVf6-nuTR93L9IyKAVAxTkMEi72iHF9pqpaJbwNmVzsd-qc79xbbJ2kFRjh5w4BMu3vvuFqJ-i7DC2d8/s1920/20210204_232226.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="1920" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEging8R_MRkVl8TWL3cViJQ65QbjXcQqwFCUTwywGqYIDpnCbUaBOPJPyQEO4ZQVf6-nuTR93L9IyKAVAxTkMEi72iHF9pqpaJbwNmVzsd-qc79xbbJ2kFRjh5w4BMu3vvuFqJ-i7DC2d8/w640-h640/20210204_232226.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Há algum tempo, a polêmica (e adorável) Antonia Fontenelle – naquele velho bate-bola comum ao encerramento das entrevistas – pediu ao igualmente polêmico (e divertidíssimo) Danilo Gentili que lhe contasse um medo.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Depois de refletir um pouco, chegando mesmo à quase conclusão de não ter nenhum medo, o comediante disse algo que muito me impactou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">“Eu tenho medo de uma coisa: tenho medo de ficar muito distante do que Deus quer que eu seja.”</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esta resposta me deixou um bocado pensativo, vez que encerra o que devia ser o único anseio do ser humano: cumprir com o propósito divino de sua alma.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Chegado aos 37 anos, eu olho para trás e vejo que já desejei muitas coisas, seja em termos materiais, afetivos, profissionais e afins. E, havendo tido a graça de conquistar alguns desses objetivos e falhado no alcance de muitos deles (o que, a propósito, também costuma ser uma graça...), desejo no dia de hoje o que gostaria de haver aprendido a desejar lá atrás, mais jovem, quando são gritantes os anseios do ego.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Estar cada vez mais próximo dos planos de Deus para mim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O curioso é que, se há alguns anos desejar algo assim me parecesse falta de ambição ou até fanatismo religioso ou coisa que o valha, hoje entendo-o como o que de mais nobre e genuíno um homem pode querer para si.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Isso me faz lembrar de uma frase bíblica muito cantada nos meus tempos de católico: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E eu acredito sinceramente que, a despeito de crença, isso tem a ver com termos como meta, como objetivo primeiro, nos tornarmos mais humanos, o que talvez seja o que de melhor podemos fazer por nós e por aqueles que nos cercam: sermos verdadeiramente humanos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Resta-me, portanto, agradecer ao Criador pela oportunidade a mim concedida até aqui, pedindo a Ele, aos meus mestres amados e benfeitores espirituais sabedoria e inspiração para fazer o melhor dos anos que vêm pela frente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Gratidão imensa...</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-11404872774610485222021-02-06T18:15:00.006-08:002021-04-06T16:31:44.834-07:00Clô para os íntimos<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxx4QpCNjYpATk4B1LTA1AY8IS5A5TzwllmE3cRI98XlJOqXnImF-7ZdVaJfsyMJ6_IlLh5QvN4lo9HFF4_ezANNLUNxpvWiaC5j_yoMoammf3nOfDLOuVq3L1o1ZlhDph5lfIoR8Onbs/s400/escritoralex_20210406_202650_0.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="400" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxx4QpCNjYpATk4B1LTA1AY8IS5A5TzwllmE3cRI98XlJOqXnImF-7ZdVaJfsyMJ6_IlLh5QvN4lo9HFF4_ezANNLUNxpvWiaC5j_yoMoammf3nOfDLOuVq3L1o1ZlhDph5lfIoR8Onbs/w640-h640/escritoralex_20210406_202650_0.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Uma vez, concedendo uma entrevista para a maravilhosa Bruna Lombardi, o saudoso Clodovil narrou uma situação em que foi ridicularizado em razão de sua sexualidade. Ele conta que – no calor do momento e como qualquer pessoa mediana – chegou a traçar vários planos de vingança, chegando mesmo a pensar que só se sentiria bem ao ver desempregado o sujeito que o humilhara.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E foi então que Clodovil, ao contar para a Bruna o diálogo que, de repente, se viu fazendo consigo mesmo na ocasião, disse uma das coisas mais bonitas que já escutei:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">“Clodovil, isso está acontecendo para que você entenda que a vida não é tão linda quanto você está pensando. Essas coisas são para que você aprenda a se desapegar daqui. Esse moço está apenas cumprindo o papel de te mostrar que você precisa ir embora daqui. Se todo mundo fosse maravilhoso, aqui seria o Céu! Ele não fez nada de mal para você. É você que está preocupado em fazer mal para ele agora.”</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Meu Deus... Isso é mais profundo do que aquele velho clichê de “não criar expectativas para não se frustrar” ou mesmo do que aquela sábia filosofia de que a ação do outro nos revela o que devemos curar em nós. Trata-se de algo mais bonito do que tudo isso.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O nosso sofrimento diante das adversidades típicas desta existência revela uma promessa de Deus para nós; revela que não pertencemos a este mundo, e que uma existência mais luminosa nos espera, livre do sofrimento que nos desagrada por mais resilientes que sejamos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O meu desejo para hoje é que possamos tirar das frustrações a mesma lição que esse artista incomparável tirou de uma situação dolorida: aqueles que nos decepcionam são os nossos “professores do não ser”, e passam por nós como forma de nos oferecer uma escolha: a de darmos vazão aos apelos do nosso ego, cedendo à mágoa e desejo de vingança, ou a de tomarmos a nossa frustração como uma degrau rumo à nossa melhor versão.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Só uma dessas escolhas nos conduz ao mundo que está reservado para nós. Aquele mundo ao qual de fato pertencemos...</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-8837677746215114932021-01-26T09:53:00.002-08:002021-08-01T21:01:29.951-07:00Tântrico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl5Yr1mNdIhGN_jUIhHHXeozBL5AkAagBQCepKR0ikYX53RTGgBun5SEdXugUt2oqFIFIFb3LEv83jLLqXK6akyAukDPHYVivA2AAinEJKsXd9DJbpLeL7BTBlNdBkOh3gyEBd5r7SlMs/s1080/142928980_3807893992580813_1859848154409329839_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="831" data-original-width="1080" height="492" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl5Yr1mNdIhGN_jUIhHHXeozBL5AkAagBQCepKR0ikYX53RTGgBun5SEdXugUt2oqFIFIFb3LEv83jLLqXK6akyAukDPHYVivA2AAinEJKsXd9DJbpLeL7BTBlNdBkOh3gyEBd5r7SlMs/w640-h492/142928980_3807893992580813_1859848154409329839_n.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pele alva. Barba espessa. Pelos castanho-escuros quando na sombra. Ligeiramente avermelhados contra o sol. Dava vontade de morar entre eles, sentir-lhes o cheiro, permanecer por ali... O pequeno portão se me abriu enquanto ele me aguardava na soleira, há quatro solitários e intermináveis anos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Receoso de errar a pronúncia do sânscrito, optei por dispensar o Sannyas, chamando-o apenas pelo nome que compartilhávamos, metáfora que eu só viria a compreender mais tarde, conforme expresso em um dentre tantos e-mails sem resposta. A saudação tranquila e típica de um profissional sério foi entoada por uma voz serena e rouca pela nicotina. A barba, a voz, o cigarro... um conjunto que inspirava sensações impublicáveis e pelas quais fui atormentado nas noites que se seguiram. Trabalho intenso para mãos pouco habituadas ao serviço pesado. Era pra ser assim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Tímido e incerto acerca de como agir, apertei-lhe a mão, apelando para uma formalidade tola e inadequada à nossa idade. Eram quatro anos de diferença, embora o confronto entre a jovialidade dele e a minha angústia característica desse a impressão de haver séculos de distância entre nós. Eu era um tiozão a invejar-lhe a energia e vitalidade que eu não tivera nem mesmo aos vinte. A vida tem disso às vezes... Cordial, ele me apontou o filtro, o toalete, o assento, educado como se espera de um profissional na zona sul. No caso dele, porém, a delicadeza passava ao largo do teatral.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E foram fatais aqueles minutos. Amei-o a partir de então. E soube, antes mesmo que ele pedisse licença para concluir os preparativos para a nossa sessão, mas não tinha como voltar. E de nada adiantaria ainda que tivesse, pois aquele amor se colocaria diante de mim aonde quer que eu fosse, pra me desafiar, me jogar contra a parede, me virar ao avesso, me mostrar para mim mesmo de uma forma que eu jamais quisera me ver.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">“Pode chorar se quiser”, disse ele antes de me indicar o futon. E eu chorei, de fato, mas não durante a sessão. Chorei nas semanas que se seguiram. Chorei nos intervalos para o almoço. Chorei na cama que é lugar quente. Chorei, chorei e sigo a chorar, criança desamparada que sou, saudosa da ilusão que outrora me sustentara.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não raro considero ir até lá, invadir-lhe o espaço e pedir que ele me devolva a mentira que eu era, dado não suportar a lida com a verdade que ora sei sobre mim. Mas não posso fazê-lo. Não porque ele tenha ido embora, mas, sim, porque ele nunca veio, e quem não veio não nos deve nada e nem tem que se despedir.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-65071163476882691152021-01-10T10:38:00.002-08:002021-04-13T13:54:59.031-07:00Quando você entender...<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinRIfj_5tXFDB7gUP0r9x4_xcmdkR8CbadBDUhcHdEnH61DDn9bT0PLrlcjDiA8jKXf6KU06goSyiHLHwX9eMaSPfAlL7P5KBVxLGGy12Kc-BMHdvn79ix4B-XaVh4j2iS8RxDtSnNJhk/s260/download.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="194" data-original-width="260" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinRIfj_5tXFDB7gUP0r9x4_xcmdkR8CbadBDUhcHdEnH61DDn9bT0PLrlcjDiA8jKXf6KU06goSyiHLHwX9eMaSPfAlL7P5KBVxLGGy12Kc-BMHdvn79ix4B-XaVh4j2iS8RxDtSnNJhk/w640-h478/download.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">Um dia você vai entender... Não agora, não no seu tempo, mas no tempo certo, no tempo Daquele que tudo sabe, depois de aprendidas todas as lições.</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um dia você vai entender, e quando entender, verá que não foi vítima ou injustiçado, e compreenderá que as privações foram livramento, que as frustrações foram uma bênção e que os dissabores foram, em geral, necessários ao enfrentamento dos desafios que se seguiriam.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Quando você entender, verá que a vida, como um personal trainer, lhe destina os treinos necessários, mas adequados ao seu estágio atual. E, assim, cada sobressalto lhe vai ajudando a criar musculatura e resistência, permitindo ao Grande Instrutor aumentar o peso dos halteres. Não para te sacanear, mas para te fazer mais forte; para te proporcionar a consciência do poder que você tem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um dia você vai entender. Não no tempo da sua ansiedade, mas depois que cessarem todas as perguntas, depois de atravessadas as etapas de uma natureza que nunca dá saltos. E, quando entender, verá a inutilidade das mágoas, a pequenez dos preconceitos, o vazio das posses e excessos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um dia você vai entender. Ah, se vai...! E quando entender, verá que a vida, pedagógica como é, lhe destinou as maiores bênçãos justamente quando você se percebeu em pleno desamparo. Pois o maior presente que um pai pode dar a um filho é tomar uma certa distância, observando enquanto ele caminha com as próprias pernas, entre tropeços e avanços.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um dia você vai entender. Eu sei que vai. Não sei se na semana próxima ou dentro de algumas décadas. Pouco importa... Importa é que, enquanto o entendimento não chega, você tome a vida como um pai que, ciente da dor que lhe impinge em razão de sua imatura consciência, lhe aplica as mais duras lições por saber o que é melhor pra você.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Respira... Não tenha pressa. Apenas dá o máximo de si em cada momento, perdoando-se naqueles dias em que sair da cama é difícil demais.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pois um dia você vai entender, e quando entender, verá que foi como tinha que ser, verá que o que houve foi o melhor que podia acontecer, e não desejará mudar uma só vírgula no enredo da sua trama.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um dia você vai entender, e nesse dia, ao contemplar toda a maravilha que a vida lhe reservava, será grato, pleno e feliz como jamais ousou imaginar ser possível.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1679248461658421501.post-89488693550399198992020-12-15T15:06:00.001-08:002021-04-13T14:02:24.802-07:00Sobre fé e escuta<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizsNHoLPWoo5-oGSzIu8A-ENmGJRHZckOfOZczv5Gqbv1lROl-MGziDdTG9gNRcQik9Okh4WMKh3yh0bnlEf37zJtJU6mDJ6YkLvIKmuWp2ZUbWskMe6N-RKI3aUuoSRSFjJzQ3U4zGqY/s1440/131686660_3702327509804129_1930734671079520922_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizsNHoLPWoo5-oGSzIu8A-ENmGJRHZckOfOZczv5Gqbv1lROl-MGziDdTG9gNRcQik9Okh4WMKh3yh0bnlEf37zJtJU6mDJ6YkLvIKmuWp2ZUbWskMe6N-RKI3aUuoSRSFjJzQ3U4zGqY/w640-h640/131686660_3702327509804129_1930734671079520922_n.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: verdana;"><p style="text-align: justify;">O céu de fim de tarde é pura poesia com o tom azul-marinho que assume antes de se converter em completa escuridão. Em pensar que em algumas horas ele será, de novo – e se não chover – de um azul-celeste límpido como a água das nascentes! Mas veja que interessante: mesmo no breu a poesia reside, talvez por haver nele a promessa da manhã. E se a gente aplicasse em nossa vida essa lição da natureza, compreendendo que tudo tem a sua contraparte?</p></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Sentado na pracinha enquanto descansava da minha caminhada, me pus a observar uma pequena, que – após se alternar, alegremente, entre os brinquedos e aparelhos de ginástica – correu de volta para o interior do condomínio. Decerto os pais lhe haviam imposto um tempo limite fora de casa. E foi pensando nas mil possibilidades da menina, ainda alheia às dores do amanhã, que me peguei pensando nas minhas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Interlocutora atenta que é, a vida é infalível em oferecer respostas, e foi nas primeiras sombras que cobriam o dia que pude contemplar as respostas das quais carecia. Convém não hesitar em fazer perguntas e, em seguida, ficar atento aos sinais, que virão não envoltos em uma aura sobrenatural, mas nos movimentos simples da vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Porque o desejo supremo do Divino não é chegar causando – porque, diferente de nós, Deus não carece de palcos e holofotes –, mas, sim, estar mais próximo de nós. Por isso Ele se utiliza do trivial para estabelecer conosco uma comunicação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, calma, tenha fé, escute... Essa dor vai passar. É horrível enquanto ela perdura, eu sei bem, mas é igualmente gratificante quando a gente olha para trás e vê o quanto ela era pequena e até desnecessária!</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Apenas vá para a janela e mira o horizonte. O manto escuro que que o Criador lançou sobre a terra envolve também aquele que, dentro em pouco, será o responsável pela sua contratação. É o mesmo manto que cobre o médico que vai tratar aquele parente tão querido ou aquele amigo que amanhã vai lhe dar uma excelente notícia! É o manto sob o qual está também aquele que virá a ser o amor da sua vida! Não é maravilhoso? Veja como vocês estão próximos...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Respire, se acalme, preste atenção. A vida não é uma grande vilã. E, em lugar de se revoltar contra ela, convém vive-la com dignidade e coragem, sem nunca fazer ouvidos moucos para as suas lições.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É bom ficar atento, pois, tal como a menina do meu condomínio, a gente também tem um tempo limite pra brincar.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0