sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Ser ou não ser? Uma reflexão sobre a hipocrisia
sábado, 8 de dezembro de 2018
A árvore do Preto-Velho
Uma vez recebi de um Preto-Velho a orientação de, afastado do centro urbano, buscar uma árvore grande, frondosa... e, uma vez diante dela, recuar três passos, como forma de pedir licença e permissão, abraçando-lhe e fazendo-lhe uma pergunta em seguida. Segundo o Preto-Velho, a resposta me seria dada imediatamente a esse ato de respeito e reverência à Mão Natureza. E finalizou a orientação me dando um gole de cachaça e me aplicando o passe.
Habitante de uma cidade de concreto como Belo Horizonte – que, mesmo que erguida por entre serras, adquire, cada vez, a atmosfera cinzenta da “cidade que nunca dorme” –, até então não encontrei a tal árvore, e, por conseguinte – ou a despeito disso – tampouco encontrei a resposta para a pergunta que já não me lembro qual era.
Vivo a fazer tantas perguntas... Qual teria sido a da vez?
Mas talvez não exista de fato a tal árvore que, do alto da sabedoria contida em seu tronco e em sua imponente copa, possa trazer respostas às minhas elucubrações. Talvez – e é uma possibilidade que se me revela a cada dia mais forte – não hajam mesmo respostas, resumindo-se a existência a esse eterno caminhar para o nada, o breu, o desconhecido.
Talvez não exista mesmo essa coisa de felicidade e tampouco ações ou conquistas que nos possam proporcionar um bem-estar duradouro, e, no final das contas, devamos nós nos contentar com aquele bem-estar passageiro de ir sozinho ao cinema no final da tarde e, com alguma sorte, reencontrar aquele colega da facul ou aquele amor cuja presença jamais lhe foi oportunizada. São algumas das migalhas que a vida dá... mas mesmo pra isso é preciso ter sorte.
Talvez a conquista de alguma paz interior seja mais árdua para a nossa geração porque ela está condicionada a alcançar mais views, mais likes e mais comentários no Instagram, e a depressão se instala quando você, com os seus quatrocentos e poucos seguidores, se percebe um sujeito pouco ou nada interessante, sem uma vida badalada, sem um emprego descolado ou uma carreira louvável, sem um estilo excêntrico e uma aparência que lhe permita colocar no perfil uma foto sem camisa e óculos escuros com os aparelhos da academia ou a praia de Ipanema no fundo.
Talvez na teledramaturgia a felicidade só fique para o final não apenas como forma de manter o público cativo ao longo da trama, mas, também, como forma de dizer que só existe felicidade possível quando tudo acaba.
Talvez... apenas talvez...
Uma coisa, porém, é fato: mais que com “avanço conservador”, “alastramento do fascismo” ou “regime ditatorial”, #resistência tem a ver com a gente conseguir sobreviver à nossa própria mente adoecida. Tem a ver com a gente acordar amanhã e perceber que venceu mais um dia. #resistência tem a ver com a gente sair vitorioso sobre os nossos próprios demônios e permanecermos vivos, apesar de nós mesmos.
Eu vi o sol nascer hoje. E estou fazendo força para vê-lo de novo amanhã.
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Ideologias versus princípios
Gente, deixa eu contar pra vocês uma coisa que muita gente parece desconhecer: quando você é favorável ou contrário a algo, tem-se aí o que se convencionou chamar de PRINCÍPIO, que, de acordo com a definição terceira do Houaiss, significa “ditame moral; regra, lei, preceito”. Dada a complexidade da existência humana, é fato que opiniões estanques só fazem criar sujeitos inflexíveis e, por conseguinte, inaptos à dinâmica da vida e incapazes de acompanhar o seu fluxo. Logo, é natural que algumas exceções fujam àquela regra tida como primeira (tais como roubar para matar a fome ou matar em legítima defesa). Havemos de nos ater, no entanto, ao fato de que um preceito demasiadamente maleável, moldado, descaradamente, ao sabor de nossas escolhas, preferências, humores e afins, revela, em lugar de princípios, um caráter frouxo e uma desonestidade intelectual lamentável.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Assim como a Fênix - Francisca Gomes
segunda-feira, 4 de junho de 2018
Aprecie a travessia
Encerro expediente às 17h00 e sigo pela
avenida Augusto de Lima, virando à direita na Bias Fortes. Nada de gastar com
serviços de transporte. Já havendo feito esse trajeto, sei que, não havendo
contratempos, chego à Praça da Liberdade em menos de trinta minutos, o que me
dará outra meia hora para passear por entre as estantes da Biblioteca Pública
antes de a mesma fechar as portas. Na mosca! Adentro o edifício Professor
Francisco Iglésias às 17h27. Devolvo o delicado “Enternecidamente”, de Mercês
Maria Moreira, e corro ao segundo andar, ciente de quão curto é o tempo que me
resta.
Com a desenvoltura de quem ali já estagiou há exatos dez anos, localizo as obras com facilidade a partir dos números de chamada anotados de antemão. “Quantos livros posso levar?”, pergunto apenas por desencargo de consciência, já sabendo a resposta. Também, pudera, nenhum filho de Deus conseguiria ler, no prazo de duas semanas, os sete livros por mim listados. Resignado, retorno ao primeiro andar com os três volumes em mãos: uma bela parceria entre Elisa Lucinda e Rubem Alves, um muito elogiado título de Deepak Chopra e um outro um tanto intrigante, dado haver sido supostamente escrito por uma inglesa que, optando pelo anonimato, serviu de canal para o próprio Cristo.
Efetivado o empréstimo, saio da biblioteca às 17h55. Afoito por já dar uma espiada nas obras, busco um banco livre na Praça da Liberdade, mas eis que o cenário de algumas das minhas mais encantadoras memórias se encontra demasiadamente escuro para a leitura, sobretudo em se tratando de alguém com visão subnormal. É melhor ler no ônibus, no caminho de volta para casa. Retornar sentado, porém, só mesmo no 3053, que faz o seu retorno pela rua lateral do prédio onde trabalho. Concluído isso, sigo os 2 km de volta, descendo a avenida Bias Fortes, circundando a Praça Raul Soares e adentrando a Augusto de Lima à esquerda. E lá estou eu, à postos na rua Ouro Preto aguardando o ônibus que não tardou a chegar. Embarco, sento como o planejado e me dedico à leitura da contracapa e das orelhas de cada uma das obras.
Foi um pouco antes, no entanto – quando eu ainda aguardava o meu ônibus na Ouro Preto – que, surpreendido por um sentimento de gratidão pelos simples ocorridos das últimas duas horas e meia, me veio uma reflexão e, por conseguinte, a inspiração para este texto. Enquanto aguardava o lotação, dei-me conta de que tudo havia dado certo: sem gastos desnecessários, eu havia chegado à biblioteca a tempo, havia localizado os títulos dos quais necessitava e, com disposição e vigor suficientes, eu havia feito o caminho de volta, estando ali, com os tão queridos livros na mochila e prestes a embarcar e seguir rumo à minha casa.
Muita gente me poderia dizer que sentir-me grato por coisas tão simples equivale a contentar-me com migalhas, estar com a vida ganha ou qualquer bobagem do tipo. Penso, no entanto, que isso depende muito do ângulo sob o qual se escolhe encarar essas pequenas grandes conquistas. Eu optei por encará-las a partir do fato de ser a biblioteca pública uma alternativa a qual tantos de nós recorrem diante da impossibilidade de adquirir determinado livro. Optei por encará-las a partir da conclusão de que, felizmente, vivemos em um contexto no qual os livros são permitidos, havendo até instituições governamentais que os disponibilizem para empréstimo. Optei por encará-las considerando a existência de tanta gente que, por limitações impostas por alguma deficiência ou por avançada idade, jamais poderia ir e voltar a pé por aquele mesmo caminho. Optei por encará-las a partir da ciência de que muita gente nem sequer poderia considerar a possibilidade de frequentar a biblioteca pública em razão do horário de trabalho e afazeres afins.
E é essa avaliação que tornou grandes as pequenas conquistas e, de repente, fez o meu sentimento de gratidão maior que as tantas inquietações que me tumultuavam a mente. A despeito de não ter carro e nem mesmo vislumbrar a possibilidade de vir a dirigir, eu tenho o transporte público que eu posso pagar e que me permite o fácil deslocamento, mesmo no contexto de uma cidade com trânsito caótico. A despeito da baixa visão, eu poderia me sentar no ônibus e, lançando mão dos meus óculos de leitura ou da minha lupa, viajar nos meus livros. A despeito das insatisfações que eu possa ter a respeito de onde atualmente moro, eu estava rumo à minha casa, certo de um lanche, um banho, uma pesquisa na internet, uma telenovela e uma noite de sono. Ao cair da noite, quantos de nós segue vagando a esmo sem ter pouso certo ou mesmo sem a certeza de um dia seguinte, tal é a exposição à violência das ruas.
Se bem que essa certeza nenhum de nós tem de fato... Então, se é assim, não seria mais adequado o exercício da gratidão pelas graças comumente despercebidas? Acordar; tomar café; ter um ônibus que, mesmo lotado, possibilita o deslocamento até o trabalho; ter colegas que fazem rir; almoçar; respirar; viver... E isso nada tem a ver com conformismo. Muito pelo contrário, tem a ver com mudar o foco da falta, das coisas que ainda não temos, para a infinidade de tesouros que temos agora, sendo justamente isso, essa gratidão, esse reconhecimento, o que nos dá o ânimo, a energia necessária para nos empenharmos na concretização dos nossos objetivos, na realização dos nossos sonhos.
Como posso eu ser digno do “gran finale” se me mostro incapaz de reconhecer os pequenos milagres do dia a dia. Seria como desejar obter boas notas sem prestar atenção às aulas. Ora! Não espere demais de uma vida cujas tantas graças você ignora. Não se engane aguardando aquele grande momento que, como num passe de mágica, trará beleza e sentido a todas às coisas. Pelo contrário, enxergue a beleza agora, desvencilhando-se da ideia de que viver pressupõe um árduo, penoso e monótono percurso até o diploma, até a viagem tão sonhada, até o grande amor, até aquela promoção no trabalho, até a aposentadoria, até o paraíso... Dá pra se divertir bastante ao longo desse percurso, e quanto mais você reconhece isso, mais você se apercebe do fato de que a concretização daquele grande sonho é apenas mais uma benção entre tantas!
E se o meu conselho não lhe for o bastante, tome para si, então, as palavras do grande João Guimarães Rosa, que, a despeito dos aclives e declives de suas veredas, nos ensina que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” E a felicidade? Ah!, a felicidade... Ela “se acha é em horinhas de descuido.”
Texto originalmente publicado em minha coluna no Eu Sem Fronteiras.
quinta-feira, 15 de março de 2018
Marielle Franco, presente!
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Das cobranças que nos afastam de nós
Já dizia o pai da psicanálise: “Antes de diagnosticar a si mesmo com depressão ou baixa autoestima, certifique-se primeiro de que você não está, de fato, cercado por idiotas”.
Você já se perguntou quantas das ações do seu dia a dia têm como base os seus anseios mais profundos e quantas delas estão alicerçadas em expectativas alheias? Pois eu gostaria de lhe propor esse breve exercício, ao qual eu mesmo me tenho dedicado com considerável empenho ultimamente. A escrita pode ser bastante útil aqui, elencando-se em duas colunas todas as ações, comportamentos e hábitos voltados ao atendimento das próprias necessidades e aqueles destinados a atender às expectativas alheias. Trata-se de um exercício que, comumente, rende bons resultados em sessões de terapia. Acredite em mim.
Você perceberá que a dor, na grande maioria das vezes, se dá pela nossa tola necessidade de ser aceito, de estar de acordo, de atender a expectativas criadas sobre nós, mas sobre as quais nunca tivemos responsabilidade alguma. E, assim, o humano converte-se em um autômato, sempre programado para atender às demandas de uma sociedade que nunca vai considera-lo bom o bastante. Pois, depois da graduação, é preciso fazer o mestrado, e depois o doutorado, e depois construir uma família, e depois ter filhos, e depois ter o emprego perfeito... Há sempre um depois que o mantêm na sensação de falta, de incompletude, consequência de uma sociedade que, em lugar de orientar o indivíduo a agir no mundo de acordo com a sua própria volição, prepara-o para acreditar-se livre em um regime escravagista. Um escravo conformado, um ser habituado às sombras na Caverna de Platão.
Você não precisa ir para a faculdade, que nada mais é que uma alternativa para a tão sonhada ascensão social. E mesmo isso não precisa ser um sonho seu. Você não precisa estar na moda se adora e se sente bem com os seus tênis surrados e aquele estilo tido como “démodé”. Você não precisa encher a cara ou fumar maconha por medo de ser isolado do grupo de amigos. Se o seu estilo é mais caseiro ou se curte um cinema em vez da balada, o ideal talvez seja trocar de amigos em vez de anular-se. Você não precisa fazer nada além de ser ético, justo e compassivo para com os outros. Trata-se, aqui, de ser um egoísta no bom sentido, cultivando aquele egoísmo que equivale não à arrogância e indiferença, mas, sim, a ser aquilo que você realmente é. Talvez um arrogante e indiferente... quem sabe? Para sabe-lo, basta investigar-se, basta finalmente comparecer ao encontro marcado consigo mesmo desde que estreou neste mundo.
Fazer parte de uma minoria não necessariamente equivale a ser o errado da história. Não conseguir se encaixar não raro é uma benção. Os grandes homens que a humanidade já viu – como Jesus, Giordano Bruno e Gandhi, só para citar alguns deles – fizeram história justamente por haverem se destacado pela diferença, por pensarem fora da caixinha, por saírem dos padrões estabelecidos e viverem a sua verdade. Paga-se um preço por isso, é claro. Alguns são crucificados, queimados ou baleados. E, neste ponto, talvez você me pergunte: “Mas, Alex, de que vale a pena viver a minha verdade se posso ter o isolamento, o preconceito ou até a morte como consequência?” Ora! É uma questão de escolha, valendo considerar que uma vida pautada pelas expectativas alheias já é a morte, um estado vegetativo, nem de longe uma vida de verdade. Portanto, vá fundo, olhe para você, investigue-se e seja aquilo que você realmente é. Há consequências, e elas podem sim ser fatais. Mas, ainda assim, eu prefiro uma consequência fatal a uma vida perpassada pela fatalidade.
Não desista de você!