quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Ideologias versus princípios

Fonte: Médium, 2019.

Gente, deixa eu contar pra vocês uma coisa que muita gente parece desconhecer: quando você é favorável ou contrário a algo, tem-se aí o que se convencionou chamar de PRINCÍPIO, que, de acordo com a definição terceira do Houaiss, significa “ditame moral; regra, lei, preceito”. Dada a complexidade da existência humana, é fato que opiniões estanques só fazem criar sujeitos inflexíveis e, por conseguinte, inaptos à dinâmica da vida e incapazes de acompanhar o seu fluxo. Logo, é natural que algumas exceções fujam àquela regra tida como primeira (tais como roubar para matar a fome ou matar em legítima defesa). Havemos de nos ater, no entanto, ao fato de que um preceito demasiadamente maleável, moldado, descaradamente, ao sabor de nossas escolhas, preferências, humores e afins, revela, em lugar de princípios, um caráter frouxo e uma desonestidade intelectual lamentável.

Toda essa introdução é pra dizer exatamente o que você está pensando: ser contra a violência e a cultura do ódio é ser contra MESMO, e não apenas quando essa violência e ódio atingem o meu grupo, o meu familiar, o meu cachorro ou o meu político de estimação. Bancar o bonzinho e espiritualizado e, de repente, ficar fazendo piadinha e até acusar de farsa a agressão sofrida por um candidato – que, democraticamente, tem pleno direito de estar concorrendo ao cargo de Chefe do Poder Executivo – é cair na mesma relativização que tanto faz do Brasil uma nação marcada pela desigualdade.
Tão desonesto quanto é frequentar o culto e fazer ouvidos moucos e vista grossa para a morte de uma vereadora negra ou para a violência que vem fazendo uma curva ascendente no gráfico de homicídios motivados por homofobia, só pra citar um exemplo.
Uai, mas que empatia e tolerância é essa que me permite aplaudir quando o candidato ao qual sou contrário é esfaqueado? Que senso de fraternidade em Cristo é esse que me permite me antecipar a Ele e separar as ovelhas dos bodes (Mt 25:31-46) com base em preconceitos que Ele próprio rechaçou? Que igualdade é essa que idealizo hierarquizando o valor da vida de negros, empresários, policiais, travestis, favelados, ateus, conservadores, domésticas, professores etc.?
São os nossos princípios que guiam as nossas escolhas e não o contrário. Princípios podem, sim, serem revistos ao longo da vida, mas quando de repente falham quando o seu opositor se fode, é sinal de que suas ideologias já os corromperam, o que tira totalmente de você o direito de exigir princípios de seus governantes. Ah! E mentiras reconfortantes também não mudam nenhuma realidade tá?
O sonho de um Brasil para TODOS não pode demandar a extinção de uns e outros, o que, por si só, revelaria um sonho sem alicerce firme e uma ética de caráter duvidoso. A paz que almeja se estabelecer por meio da guerra é uma paz leviana e covarde, incapaz que é de acolher em seu seio a divina e maravilhosa diversidade humana. “Todos ganham quando todos ganham”, sobretudo no que tange à vida e à dignidade. Não se esqueça disso.