quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Sobre castelos de areia


Às vezes a gente põe tanta expectativa em uma coisa que, quando a vida real nos golpeia e a inevitável frustração acontece, custamos a enxergar um sentido para a nossa existência. Isso é especialmente comum quando se tem uma vida vazia e autoestima abalada: a gente tende a tentar compensar na busca desesperada por um relacionamento, no trabalho excessivo, no álcool, no consumismo etc. Sim, porque os excessos, comumente, escondem uma falta, por mais que não se perceba isso conscientemente.

Tudo isso pode até nos preencher durante um tempo, mas só por um tempo, e não raro demasiadamente curto.

A frustração diante de algo no qual havíamos alicerçado toda uma vida – um amor, uma conquista profissional, um smartphone etc. – é perfeitamente comparável a perder o emprego e se dar conta de nunca haver feito economias. Se nos é sugerido ter prudência e fazermos uma reserva para tempos de crise econômica, desemprego e afins, a mesma sugestão vale para a vida em um sentido mais amplo. Uma boa dose de amor-próprio, autoconfiança e força interior são fundamentais para que uma “crise” não nos pegue desprevenidos e, assim, nos tire o chão.

Por vezes a minha vida foi um bocado vazia. Costuma ser ainda. E, dessa forma, eu sempre me peguei vislumbrando em coisas e pessoas a possibilidade de uma transformação que me abalasse as estruturas e me trouxesse, finalmente, a tão falada felicidade. É claro que eu me frustrava e, pouco ou nada havendo semeado no fértil solo do meu interior, eu não tinha mais do que me alimentar. E a consequência era depressão, vazio, desejo de morrer...

As pessoas fortes são aquelas que se reconhecem como a peça fundamental de sua própria vida. Criar expectativa e se frustrar é humano e acontece com todo mundo. A grande questão é se, durante a crise, a gente vai ter para onde voltar... 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Você merece!


Em setembro de 2017 o Universo me concedeu a grata oportunidade de realizar um sonho antigo: visitar o Templo Zu Lai, na cidade de Cotia, em São Paulo. Haver passado um sábado inteiro no templo está, sem sombra de dúvidas, na minha lista de planos concretizados. Não obstante, até o dia 15/09/2017, isso era apenas um plano. E, para além disso, em 2004, quando eu tomei conhecimento da existência do templo e passava horas a fio vendo as fotos do local, ir ao Zu Lai não chegava nem mesmo a ser um plano, não passando de um sonho cuja possibilidade de realização me parecia muuuito remota.

O curioso é que, muito embora eu tenha levado mais de dez anos para realizar aquele sonho, lembro-me de ter, antes disso, as condições necessárias para fazê-lo. A certeza de não ser merecedor e capaz de tanto, porém, estava tão arraigada em meu interior que eu custei a enxergar que eu podia e que era digno, sim, de ir àquele templo que, sem conhecer, eu já tanto amava.

Hoje me bateu saudade de lá, mas não é para falar de saudade que escrevo, mas para propor uma reflexão sobre as nossas limitações. As reais e as imaginárias (que são a maioria delas...). Olhar as minhas dificuldades, bem como a minha aparente impotência diante de determinadas situações, me deixa, geralmente, desanimado, intensificando o meu estado depressivo e me esmorecendo de vez.

Contudo, direcionar o foco para o que eu conquistei em lugar de me concentrar, masoquistamente, nas minhas aparentes limitações e fracassos (pois tem coisas que a gente não consegue mesmo, e está tudo bem...) tem se me apresentado como um bom exercício. Ora!, a faculdade, a viagem, o concurso, a publicação... são tantas coisas alcançadas que, há alguns anos, habitavam a minha mente como meras fantasias, figurando hoje num passado de realizações! Meditar nisso pode não ser o suficiente para que eu deixe de me considerar um merda, mas, sem sombra de dúvida, me fortalece e anima diante dos desafios da vida.

Porque a vida é assim, né, minha gente... Está sempre a nos desafiar. Mas não é pra nos sacanear, mas, sim, para nos manter em movimento...

E você? Qual é o objetivo que você VAI alcançar? Qual é o grande sonho que você VAI realizar? Conta pra mim!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sobre ser o suficientemente bom


Eu não sou bom o suficiente. Descobri isso há tempos. Moleque ainda. Primeiro, quando me senti inadequado nas minhas brincadeiras da infância, quando bola e papagaio me eram impostos como padrão enquanto eu só gostava de casinha e bonecas. Alvo de tantas comparações, descobri-me insuficiente na mais tenra idade. Fosse em casa ou na escola, sempre havia o menino mais esperto, o primo mais masculino, a criança mais ideal. Tirava boas notas, é verdade, mas mesmo isso não me fazia bom o suficiente, até que desagradei de estudar. Não havia quem me dissesse que as boas notas eram importantes para mim, e não para o agrado de quem quer que fosse.

Depois, na adolescência, quando, arredio e tímido em demasiado, percebi-me esquisito por demais. O cara de poucos amigos. O garoto bonzinho e educado, mas que só servia pra ser colega. O alvo de chacota dos garotos mais velhos. Elementos que, em conjunto com os primeiros sinais de uma sexualidade dita inadequada, faziam-me cabisbaixo e melancólico.

E foi ainda na adolescência que, buscando refúgio na religião, descobri-me insuficiente para Deus e indigno do Céu, destino que jamais seria o meu enquanto eu “teimasse” em ser o que era. Dessa forma, a fé que me serviu de alento me foi também tormento por anos a fio.

Depois, adulto, resolvi entrar na onda e ir atrás da tal felicidade, coisa que eu nem sabia que existia. E foi quando vieram os amores, o trabalho, a faculdade e as redes sociais e me mostraram que que eu também não era bonito o suficiente, badalado o suficiente, rico o suficiente, inteligente o suficiente, popular o suficiente, culto o suficiente... enfim. Eu não era o suficiente.

E foi tarde demais que descobri que o “suficiente” que eu nunca me vi capaz de alcançar era ditado por padrões de outros que sempre estariam a me cobrar mais e mais, mas que nunca estariam na minha pele e tampouco curariam a minha dor quando buscar ser “o suficiente” me parecesse doloroso demais. E, assim, já mergulhado no desalento e na depressão, vi-me diante da urgência de experieciar um tal “amor-próprio”, cuja mera ideia se me apresenta como uma utopia, mas que muitos dizem existir de fato. 

Assim, espero e persigo esse ideal, que, como os primeiros raios de sol da manhã, eu espero ver invadir o breu da minha existência, feito um milagre, desejoso de que eu ao menos seja forte o suficiente para, um dia, conseguir sair dessa.