domingo, 16 de junho de 2019

Douglas

Um nome e um rosto. Era tudo o que eu tinha. Um nome e um rosto. Tomei-os como um mapa que me conduziria até Douglas. Douglas era meu destino. A fim de encontrar mais uma pista, qualquer sinal que fosse, recapitulei os eventos ocorridos ao longo das poucas horas em que o tive ao meu lado. Quem sabe um toque casual e involuntário, um gesto, um comentário que me revelasse o segundo nome, o endereço, a universidade em que estuda? “Obrigado”, foi a primeira palavra que dele escutei, ao me transferir para o assento ao lado, permitindo-lhe, assim, sentar em trio com os amigos. Gostei de haver-lhe feito algo dentro dos limites comuns ao encontro de desconhecidos. Douglas ia em grupos de amigos a eventos literários! Deve ser por isso que me apaixonei. E ele também se apaixonou. Não por mim. “Conheci ela há pouco tempo, mas já estou apaixonado”, disse ele sobre a poetisa esperada, razão da nossa presença ali. Douglas comprou livro da poeta para ser autografado. Douglas saiu e retornou em instantes com garrafas d’água para os amigos. Douglas aplaudia entusiasmado à apresentação, enquanto eu, tomado da mais perversa quirofilia, observava-lhe as mãos, em visão periférica, secretamente desejando-lhe o toque, do suave ao intenso, do delicado ao bruto, do convencional ao pecaminosamente íntimo... Douglas me roubava a atenção e me induzia a pecar. Douglas fotografava a apresentação com o celular. Douglas... Vi bem quando ele saiu, enquanto eu aguardava ainda o meu autógrafo. A nossa estrela brilhava, mas, naqueles instantes, fora Douglas o meu ídolo. Quero fazer de Douglas meu homem nas noites de tempestade. Quero ser de Douglas um súdito e ele minha majestade. Quero passear de mãos dadas na Paulista até tarde. Quero Douglas e eu dançando, sambando na cara da sociedade. Quero Douglas pra viver um amor... de verdade.