Ainda sofrendo as dores de uma história mal resolvida com o homem de meu mesmo nome, sentia os meus olhos marejarem ante as breguices de Gian e Giovani que se sucediam no rádio. E foi procurando conter as lágrimas que eu disse ao motorista – o meu quase xará –, em tom de pilhéria.
– Alexandre, eu estou achando que você está apaixonado, hein?
Estranhamente, recebi do cara que há pouco interagia tão descontraidamente comigo uma resposta séria, típica de quem tem a mente a quilômetros do momento presente.
– É... pior que eu estou mesmo. – Ele disse, reflexivo.
Versado na estúpida arte de me apaixonar, empolguei-me, pronto para bombardeá-lo com os conselhos que eu nunca segui. E eis que Alexandre me interrompeu antes que eu desatasse a fazê-lo.
– Mas não é o tipo de paixão que você está pensando, não.
– Não? – Perguntei, buscando na memória algum outro tipo de paixão que levasse as pessoas a escutarem músicas melodramáticas.
– Não. – Alexandre prosseguiu. – É que eu perdi o meu pai há quarenta dias e estou tentando me habituar a escutar as músicas que ele gostava.
Engoli em seco, receoso de falar alguma bobagem e novamente às voltas com a minha dificuldade em encontrar o que dizer diante de uma situação tão dolorida como a morte. Alexandre continuou, visivelmente emocionado.
– É que eu sempre choro ao escutar as músicas preferidas dele, e por isso estou tentando me acostumar com elas para parar de chorar na frente dos outros.
Estas últimas palavras foram ditas quando o carro já estacionava em frente ao meu condomínio. Pensei no meu pai, que neste mesmo dia, pela manhã, estivera em minha casa, resolvendo com o zelador questões não resolvidas por mim no espaço de um ano de moradia. Pensei em todas as razões – das utilitárias às não utilitárias – que tornam tão difícil a perda de um pai ou de uma mãe.
Não sei o que levou a óbito o pai de Alexandre. Talvez ele haja sido vítima do maldito vírus que se alastrou por toda a humanidade. Talvez haja sido a idade ou as doenças comuns ao seu avanço.
Enfim... Não sei e nem vou saber.
Lamentei, porém, não haver encontrado algo de significativo para dizer ao Alexandre, bem como o fato de haver passado a maior parte da viagem contendo as lágrimas por um outro Alex tão indigno de ser lembrado, enquanto o motorista continha as suas pela triste ausência do pai; um Alex que, além de ignorar a minha existência, provavelmente nem curte Gian e Giovani.
Não há muito o que fazer – nem por mim e nem pelo motorista –, a não ser fazer desta tentativa de prosa poética o meu minuto de silêncio pelo pai do Alexandre.