quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Ser feliz é uma obrigação!

Você tem obrigação de vencer na vida. Não se trata de uma escolha, de algo do qual você possa abdicar sem pensar nas consequências que isso trará para você e para o outro. Você tem obrigação de, a cada dia, dar um passo rumo à sua felicidade. 

Eu vejo as pessoas dizendo coisas como “quero dar uma vida mais confortável para os meus pais”, “preciso oferecer algo aos meus filhos” etc. Não resta dúvida de que tudo isso seja de extrema relevância. Tenho convicção, porém, de que o que de melhor podemos oferecer ao mundo foge aos limites da matéria. 

Em nada contribuímos adquirindo uma cobertura no edifício mais alto do Leblon, do Alphaville ou do Belvedere. Muito fazemos pelo outro, porém, quando edificamos a nós mesmos, seja pela prática das virtudes, seja pelo exercício do bem, seja pelo inabalável empenho em tornar-se humano. 

Sabe aquele mito platônico no qual o cara escapa da caverna e, ao contemplar o dia lindo lá fora, retorna às sombras a fim de avisar aos demais? Perceba a beleza disso... É nos aproximando da luz – ou seja, nos tonando verdadeiramente humanos – que podemos mostrar aos outros o caminho. 

Vencermos a nós mesmos, nos elevarmos sobre as adversidades, é o que de melhor podemos fazer em prol da humanidade. 

Eu vi diminuírem drasticamente os meus pensamentos de morte quando me dei conta de que, ao me lançar no abismo, eu não iria sozinho. E foi aí que sair da depressão se tornou para mim não algo para o meu próprio benefício, mas um compromisso real com os que me rodeiam. Pois, ao sair de uma depressão, você tem a possibilidade de compartilhar com os outros o trajeto. 

É louvável quando a busca pela própria cura envolve um profundo comprometimento com a dor humana como um todo. Portanto, se o seu próprio bem-estar não é razão suficiente para provocar uma reação de sua parte – e eu bem sei o quanto o sentimento de menos valia pode nos conduzir a tal raciocínio – talvez lhe seja útil lembrar que, ao conseguir se curar, você também dá a milhares de pessoas a possibilidade de cura.

Naturalmente, você não precisa – e não vai – conquistar para si todas as medalhas. Importa, no entanto, que jamais lhe falte o ânimo de vitória, pois é a sua resiliência, persistência e garra – e não as suas posses – que inspiram os demais a também seguirem em frente. 

Atente-se para o fato de que, ao pensar sobre felicidade, você imediatamente recorre a seres que se fizeram grandes em profunda pobreza, sem nada deixar em termos materiais: Buda, Jesus, Sócrates, Epicteto e tantos outros. Obviamente, ninguém lhe está sugerindo aderir a uma vida ascética, o que seria um tanto estúpido. A sugestão é que as coisas sejam encaradas como meios, e não como fins, estando no horizonte aquilo que realmente há de nos elevar e nos fazer felizes. 

Eu quero que você não desista de você e que tenha consciência de que, ao vencer a luta diária, você leva consigo toda a humanidade. Essa batalha, sim, será o seu maior legado. 

Fique firme. 

E fica combinado que, quem chegar primeiro, avisa ao outro como se faz. 

Bom outubro.

sábado, 12 de setembro de 2020

A natureza pedagógica

Se você passar os olhos pela Mitologia Grega, verá algo interessante: jamais vemos um herói julgando-se azarado ou injustiçado. Até mesmo diante das mais terríveis tribulações, eles seguem firmes, pois têm ciência de que o objetivo primeiro dos deuses é o crescimento do ser humano.

Tudo tem uma razão se visto pela ótica pedagógica da natureza, pela lição que ela pretende nos proporcionar. A própria crise tem em si uma grande beleza, pois é um sinal de que trilhamos todo um caminho, esgotando uma experiência anterior para, então, vivermos algo novo.

Se o nosso mundo desmoronou, é porque está na hora de construirmos outro mundo, e uma sabedoria mais elevada nos julgou dignos e capazes de viver a crise para, então, construir o que precisa ser construído. Em algum lugar, alguém sabe que nós temos cacife para encarar o que se impôs em nossa vida. E qualquer semelhança com a frase “Deus não dá um fardo que não possamos carregar” não é mera coincidência...

Em geral, a vida nos aplica a pedagogia da escada: alcançamos uma estabilidade, mas já com uma parede diante de nós. O homem progride pulando de catástrofe para catástrofe, de degrau em degrau. E sacralizar a própria existência é dar sentido a esses sobressaltos.

Bendita seja a dor que muito nos honra, pois é sinal da existência de uma Inteligência Superior que nos sabe capazes, fortes, homens e mulheres o suficiente para darmos conta.