sábado, 5 de junho de 2021

Cuidado com discursos intimidatórios...

Cuidado com os discursos intimidatórios!

Cuidado com os posicionamentos que, com vista a inviabilizar o diálogo, direcionam o foco para as divergências em lugar das convergências. Cuidado com os argumentos pautados na dualidade típica de novela das nove que ignoram os diversos matizes presentes em todos os seres humanos, filosofias e esferas do espectro político.

Cuidado com os discursos que, objetivando força-lo a uma escolha neste pretensa disputa entre o bem e o mal, buscam desestabilizá-lo emocionalmente. “Se você não escolhe, então já escolheu o Toddy, o Nescau, a Pepsi, a Coca-Cola, o biscoito ou a bolacha”. Ou, mais cruel do que isso, buscam taxa-lo como ignorante, alienado, estúpido ou coisa que o valha.

E não se engane quanto ao fato de ser esta uma estratégia bem calculada, pois, seres relacionais que somos, é natural que a pressão e o cancelamento nos leve a agir contra os nossos princípios, não raro fazendo uma escolha que nos liberte do ostracismo, mesmo que essa não expresse a nossa verdade.

Cuidado com o discurso que adere a causas nobres e obrigatórias a todo e qualquer ser humano – o combate à fome, à miséria, ao racismo e afins – sem que tais causas sejam de fato a finalidade última.

Cuidado com o fanatismo que nos cega para as nossas próprias incoerências, hipocrisia e intolerância. Cuidado com as ideologias que lutam valendo-se das armas que dizem combater. Cuidado com tudo o que fomenta a separatividade, o ódio e a barbárie.

Mas, afinal de contas, de que lugar falo eu? Eu falo da periferia; falo do lugar do gay com deficiência que, depois de toda uma vida escolar na escola pública, teve o privilégio de cursar uma faculdade numa instituição de renome graças a um governo que me deu oportunidade.

Mas eu falo também do lugar do cara que anulou o voto nas últimas eleições presidenciais, do lugar do cara que não se manifesta simplesmente porque não sabe o que outrora julgava saber. Eu falo do lugar do cara que, de modo geral, também não se sente representado, e, quando se sente, teme aderir ao pacote com tudo o que vem dentro.

Eu falo do lugar do sujeito que se viu mergulhado numa depressão que teve significativa contribuição de gente cujo discurso era puro “amor”, “tolerância” e “empatia”...

Portanto, por favor, cuidado com o que fazemos aos outros, com o que deixamos de fazer e, principalmente, com a beleza do discurso que se sobrepõe às efetivas ações em prol do nosso próximo, aquele com o qual estamos comprometidos, até o pescoço, a despeito de nossas bandeiras, queiramos ou não.

Vacina, saúde, paz, liberdade de expressão, Educação pública e de qualidade e amor... muito amor para você, meu irmão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário