segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Sobre livros e tevê

Embora bem-intencionada, esta ilustração sempre me deixa pensativo.

Vamos por partes, começando pelo fato de ela estar desatualizada, vez que hoje melhor seria substituir a imagem da tevê pela de um smartphone devidamente conectado a todas as redes sociais possíveis. Não obstante, ignoremos esse pormenor, até por ser a tevê algo ainda muito presente em nossa rotina.

Outro ponto que me parece problemático é a vilanização da tevê e a exaltação do livro, como se este fosse por si só a solução para tudo e aquela fosse uma maldição, um veículo do qual não se possa fazer bom uso.

Nesse ponto, eu fico pensando nas novelas mexicanas que eu tanto adoro (risos) e nas boas opções que há na programação televisiva, mas que precisam ser garimpadas, vez que, por não atraírem as massas, estão sempre fora do horário nobre. Fico pensando também em homens de incontestável inteligência, como Adolf Hitler, e sua nefasta atuação sobre o mundo.

E é daí que me vem a reflexão de que o bem ou o mal nem sempre estão nas coisas em si, mas no uso que dela fazemos, por mais clichê que isso soe. Ademais – por mais bem-vinda, necessária, útil, importante e indispensável que seja a leitura – há que se desconstruir a romântica e pouco pragmática ideia de que os problemas do mundo cessariam a partir do momento em que todos aderissem ao hábito de ler.

Isso não é verdade, pois mesmo o hábito de leitura precisa ser precedido por políticas que a tornem acessível. E, aqui, nós estamos falando de educação, de inclusão social e de uma série de coisas que devem se dar não a partir da leitura, mas antes dela; para conduzir a ela, e não o contrário.

Ademais, havemos que pensar também na qualidade da leitura. De que leitura estamos falando, afinal? Seja lá o que for, é ótimo que as pessoas estejam lendo, mas seria desonesto ignorar o abismo existente entre “Dom Casmurro” e “Os segredos da mente milionária”, certo?

Enfim, em suma, a mensagem aqui é: incentivemos a leitura, sim, mas sem romantiza-la, pois opiniões estanques são, não raro, problemáticas, e o mundo, por mais cruel que isto pareça, está longe de ser assim tão quadradinho.


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