sábado, 7 de abril de 2012

Para a vida seguir mudando

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“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Essas palavras foram proferidas ou escritas por Albert Einsten. Ou não, já que, em tempos de internet, Veríssimo, Clarice Lispector, Arnaldo Jabor e afins se tornaram autores de textos que, para bem ou para mal, jamais escreveriam. Isso, de qualquer forma, não é importante, e até opto por acreditar (já que, do lado de fora da caverna, acreditar ou não é sempre uma opção) que Einsten, com todo aquele jeitão amalucado, formulou, sim, essa teoria, não tão genial quanto à Teoria da Relatividade, claro, mas tão genial e racional quanto. E é com esses dizeres do grande físico alemão – passando, despretensiosamente, um pouquinho pela literatura e pela filosofia – que dou início às minhas modestas considerações sobre a Páscoa, já que tudo isso tem a ver com passagem, mudança ou qualquer coisa igualmente boa.

Na verdade, eu ignorava a tal frase de Einsten, tomando conhecimento da mesma apenas há poucos dias, através do Facebook. E foi através dessa boa e velha rede social que conheci, também, uma charge que me chamou a atenção, onde Jesus crucificado dizia algo mais ou menos como “O duro é saber que daqui a algum tempo eu serei trocado por um coelho e um monte de chocolate”. Muito embora eu tenha achado engraçada a charge – já que é no mínimo hilário imaginar uma figura como Jesus falando de coelhos e chocolates –, atentei-me para a seriedade da discussão que pode se desdobrar dela. Aqui, vale dizer que sou terminantemente contra qualquer tipo de preconceito, e, com isso, de modo algum pretendo fazer o papel do bom moço. A verdade é que trago comigo uma infinidade de preconceitos, muitos dos quais levarei, provavelmente, para o túmulo. Sou, porém, veementemente contra todos eles. Assim sendo, acredito ser louvável que os não-cristãos ocidentais – o que envolve desde ateus até indivíduos adeptos de cren­ças desvinculadas do cristianismo – concebam como fortemente representativas de algo as datas instituídas como santas pela Igreja Católica. E isso, definitivamente, não tem nada a ver com comungar dos ensinamentos dela, até porque eu jamais daria uma sugestão/conselho desse tipo. Mas convenhamos: cada uma dessas datas nos propicia um clima favorável à reflexão acerca do nascimento, do renascimento, da vida, da morte, do perdão, do encontro e por aí vai. E isso é maravilhoso, já que o capitalismo arraigado em nossa sociedade, bem como toda a urgência e imensidão de nossa vida exterior, pouco ou nunca nos permitem parar e refletir acerca de questões existenciais, por mais que sejam elas, talvez, as mais emergenciais.

Mas o que temos feito com os dias “santos”? Temos lhes adequado à nossa cultura capitalista, fazendo do Natal um dia de dar e receber presentes, da Páscoa dia de dar e receber chocolates, e dos demais uma boa oportunidade para ir para o sítio, para a praia e afins. Ora, não há nada de errado em nos valermos dos feriados para nos divertir, afinal merecemos, não é? Tampouco há problemas em distribuir ovos de Páscoa. São sempre bem vindos, ok? O problema se dá quando, extasiados pelo grande movimento que o capitalismo promove, somos abduzidos da natureza simbólica das datas e do que elas realmente trazem de importante. E aí voltamos à charge sobre Jesus, esmorecido pelo desdém ao Seu sacrifício, conforme a Sua onisciência Lhe permite prever, em tempo tão remoto. Não deve ter sido nada fácil... Mas vamos pensar a paixão e ressurreição de Cristo como metáforas: a paixão como uma metáfora para a possibilidade de amor incondicional, gratuito (e por “amor” entenda-se gentileza, respeito, tolerância e afins), bem como para transitoriedade da vida, cuja perpetuação é intrínseca à partida de alguns (para uma metáfora mais simples, vide “batatinha quando nasce”). A ressurreição, algo tão difícil de compreender em seu sentido literal, concebamos como uma metáfora da nossa possibilidade de emergir, de vencer as adversidades e abraçarmos, lá na frente, a nossa tão sonhada felicidade. E não estou sendo infantil ou sonhador, pois, desde que Alice acordou, nós bem sabemos que essa estória de felicidade plena é pura balela e só existe em manual de autoajuda. Digo “felicidade” como sinônimo de ânimo, paz e motivação para a vida. Essa, sim, é uma felicidade possível! Mas, mais do que de vontade, depende de trabalho duro, e é aí que entra a ressurreição; é aí que, finalmente, os dizeres de Einsten passam a ter razão de ser neste texto. A nossa obstinação nem sempre é garantia de algo, mas braços cruzados, bem como insistência em métodos que já falharam – muitos deles até contraproducentes –, são derrotas garantidas.

Eu intitulei este texto como “Para a vida seguir mudando”. Não, não se trata de uma mensagem petista subliminar. Optei por esse título porque tudo isso me remete à educação, que, ao menos quando avistada daqui do meu belo horizonte, só tem caído, inversamente proporcional ao número de alunos em sala de aula e à violência. Sim, mudanças na educação são urgentes, mas eu penso também na urgência de que todos, de modo geral, saiam do seu egoísmo voraz e assumam uma postura educativa para a vida. Isso, sim, provoca mudanças, minha gente. Chorar diante de casos como os do garoto João Hélio e da menina Isabella Nardoni, ou mesmo se comover diante de um Quarto de despejo, O diário de Anne Frank, Precious e afins é muito válido e muito bonito. A verdadeira mudança, porém, se dá a partir de uma mudança de atitude na minha comunidade, no meu trabalho, no trato com os meus. A atitude, sim, é revolucionária, e Einsten bem o sabia.

E isso tudo é Páscoa... passagem... passagem de um tempo de espera preguiçosa e acomodada para um tempo de mudança. Mudança em nós e a nossa volta. Entendeu? Se não puder ou simplesmente não quiser orar fervorosamente, ritualizando e forçando uma fé, não há problema. Vale é trabalhar, ser bom e ter amor, para, assim, manter a cruz vazia e ser protagonista da História.