quarta-feira, 10 de março de 2021

As sutilezas do autoamor

O amor-próprio é dado a sutilezas... Mais do que isso: o amor próprio é muito mais um processo do que um fim, algo pronto e acabado.

Naturalmente, “tem gente que se ama e tem gente que não se ama”, como bem disse alguém deveras mais sábio do que eu. Há, porém, aqueles cujo amor-próprio é apenas perpassado por um equívoco conceitual.

Há amor quando há empenho para sobreviver aos movimentos da própria mente; há amor quando há dedicação para acertar depois de um novo erro; há amor quando se procura ajuda e quando se luta para vencer os conflitos internos; há amor quando você não se deixa sucumbir.

Porque autoamor nada tem de perfeição, passando, sim, pelo constante ânimo de aperfeiçoamento. Trata-se de encarar as próprias debilidades, por vezes numerosas, e acolhê-las como um aspecto digno de cura, e não de retaliação.

Equiparar-se aos rostos sorridentes, corpos fitness e espíritos evoluídos do Instagram é a receita certa para o fracasso rumo ao amor-próprio.

É que amor-próprio é processo e não lugar aonde se possa chegar e relaxar. É meta diária ante os diferentes desafios da vida. É munição para agir contra as nossas próprias sombras, aquelas que hão de nos acompanhar ao longo de toda a vida na terra (e talvez depois dela...).

Até recentemente eu pensava que amar a mim mesmo tinha a ver com alcançar um estado no qual eu me perceberia totalmente blindado, imune às ofensas, indiferenças, preconceitos e afins. Até o dia em que compreendi que tal estado me retiraria da condição humana, e não há autoamor quando não há o reconhecimento e aceitação de si como “humano, demasiado humano”.

Pretender-se impassível aos reveses da existência humana é querer elevar-se à condição de anjo ou descer à condição de pedra. Enquanto humanos dotados de amor-próprio, tudo o que havemos de desejar é a sabedoria diante dos sobressaltos, a vontade cada vez mais firme rumo à realização dos sonhos, a autorresponsabilidade e o reconhecimento do próprio poder para tornar sublime a própria vida.

Você se ama quando se dá o direito ao descanso após um dia de trabalho. Você se ama quando faz pipoca e assiste a sua série predileta na Netflix. Você se ama quando sai para malhar porque sabe que precisa de cuidados. Você se ama quando aprende a dizer não, quando aprende a dizer sim e quando aprende a permanecer calado, pois autoamor também tem a ver com se poupar. Você se ama quando se permite ser amado, sem abusos, sem condições que o diminuam, pois o verdadeiro amor nos deve sempre elevar...!

Você se ama quando se sabe falível, quando aceita que é o que é e está tudo bem... E se dedica a trabalhar a partir daí.

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