sábado, 6 de fevereiro de 2021

Clô para os íntimos

Uma vez, concedendo uma entrevista para a maravilhosa Bruna Lombardi, o saudoso Clodovil narrou uma situação em que foi ridicularizado em razão de sua sexualidade. Ele conta que – no calor do momento e como qualquer pessoa mediana – chegou a traçar vários planos de vingança, chegando mesmo a pensar que só se sentiria bem ao ver desempregado o sujeito que o humilhara.

E foi então que Clodovil, ao contar para a Bruna o diálogo que, de repente, se viu fazendo consigo mesmo na ocasião, disse uma das coisas mais bonitas que já escutei:

“Clodovil, isso está acontecendo para que você entenda que a vida não é tão linda quanto você está pensando. Essas coisas são para que você aprenda a se desapegar daqui. Esse moço está apenas cumprindo o papel de te mostrar que você precisa ir embora daqui. Se todo mundo fosse maravilhoso, aqui seria o Céu! Ele não fez nada de mal para você. É você que está preocupado em fazer mal para ele agora.”

Meu Deus... Isso é mais profundo do que aquele velho clichê de “não criar expectativas para não se frustrar” ou mesmo do que aquela sábia filosofia de que a ação do outro nos revela o que devemos curar em nós. Trata-se de algo mais bonito do que tudo isso.

O nosso sofrimento diante das adversidades típicas desta existência revela uma promessa de Deus para nós; revela que não pertencemos a este mundo, e que uma existência mais luminosa nos espera, livre do sofrimento que nos desagrada por mais resilientes que sejamos.

O meu desejo para hoje é que possamos tirar das frustrações a mesma lição que esse artista incomparável tirou de uma situação dolorida: aqueles que nos decepcionam são os nossos “professores do não ser”, e passam por nós como forma de nos oferecer uma escolha: a de darmos vazão aos apelos do nosso ego, cedendo à mágoa e desejo de vingança, ou a de tomarmos a nossa frustração como uma degrau rumo à nossa melhor versão.

Só uma dessas escolhas nos conduz ao mundo que está reservado para nós. Aquele mundo ao qual de fato pertencemos...

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