quinta-feira, 15 de março de 2018

Marielle Franco, presente!


Quando uma mulher, negra, lésbica, feminista, ativista, defensora dos direitos humanos e 5ª Vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro em 2016 é morta; quando uma militante o suficientemente corajosa para contrariar o sistema e criticar o que há de nocivo neste país é morta; quando uma socióloga e política com peculiar bravura e espírito público é morta; quando lemos comentários de ódio contra a vítima, tomando como compreensível e até louvável a sua morte – “falou contra a polícia, foi a favor de bandido, é nisso que dá” –, a gente precisa parar para refletir sobre o País que queremos e sobre os rumos que temos tomado.
Como se não bastasse a dor da perda, é preciso que encaremos ainda o fato de que os tiros disparados contra Marielle não atingiram somente a ela, mas também aos pobres, negros, moradores de favela, mulheres e LGBTs. Atingiu a todos esses que, incompreendidos em sua luta, são tidos como baderneiros, imorais, bizarros, defensores dos “direitos dos manos” etc., assim rotulados por gente que nunca adentrou as estreitezas de sua dolorida realidade.
Transcrevo aqui a pergunta feita pela própria Marielle um dia antes de sua morte. "Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?" Quanto ainda teremos que sofrer para entender o que, à direita e à esquerda, definitivamente não tem funcionado neste país? Quantos sobressaltos ainda se farão necessários para que aprendamos a viver como nação? Quanto teremos ainda que perder para, finalmente, nos darmos conta da desprezível atuação das forças contrárias ao bem, à justiça e à equidade?
Infelizmente não sei, restando-nos, portanto, confiar no empenho e competência da polícia, a quem cabe a investigação, bem como torcer para que mais essa tragédia nos sirva de alerta para o mal que as tantas divisões nos têm feito e, sobretudo, para o quão doentes estamos enquanto sociedade.
“Que tiro foi esse?” Então... parece que, finalmente, nos veio a resposta. É o tiro que, dia após dia, tem matado a cada um de nós.
Marielle Francisco da Silva (27/07/1979 - 14/03/2018).
Segue em paz.
Que Jesus te receba.
Que Jesus te guarde.