segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sobre ser o suficientemente bom


Eu não sou bom o suficiente. Descobri isso há tempos. Moleque ainda. Primeiro, quando me senti inadequado nas minhas brincadeiras da infância, quando bola e papagaio me eram impostos como padrão enquanto eu só gostava de casinha e bonecas. Alvo de tantas comparações, descobri-me insuficiente na mais tenra idade. Fosse em casa ou na escola, sempre havia o menino mais esperto, o primo mais masculino, a criança mais ideal. Tirava boas notas, é verdade, mas mesmo isso não me fazia bom o suficiente, até que desagradei de estudar. Não havia quem me dissesse que as boas notas eram importantes para mim, e não para o agrado de quem quer que fosse.

Depois, na adolescência, quando, arredio e tímido em demasiado, percebi-me esquisito por demais. O cara de poucos amigos. O garoto bonzinho e educado, mas que só servia pra ser colega. O alvo de chacota dos garotos mais velhos. Elementos que, em conjunto com os primeiros sinais de uma sexualidade dita inadequada, faziam-me cabisbaixo e melancólico.

E foi ainda na adolescência que, buscando refúgio na religião, descobri-me insuficiente para Deus e indigno do Céu, destino que jamais seria o meu enquanto eu “teimasse” em ser o que era. Dessa forma, a fé que me serviu de alento me foi também tormento por anos a fio.

Depois, adulto, resolvi entrar na onda e ir atrás da tal felicidade, coisa que eu nem sabia que existia. E foi quando vieram os amores, o trabalho, a faculdade e as redes sociais e me mostraram que que eu também não era bonito o suficiente, badalado o suficiente, rico o suficiente, inteligente o suficiente, popular o suficiente, culto o suficiente... enfim. Eu não era o suficiente.

E foi tarde demais que descobri que o “suficiente” que eu nunca me vi capaz de alcançar era ditado por padrões de outros que sempre estariam a me cobrar mais e mais, mas que nunca estariam na minha pele e tampouco curariam a minha dor quando buscar ser “o suficiente” me parecesse doloroso demais. E, assim, já mergulhado no desalento e na depressão, vi-me diante da urgência de experieciar um tal “amor-próprio”, cuja mera ideia se me apresenta como uma utopia, mas que muitos dizem existir de fato. 

Assim, espero e persigo esse ideal, que, como os primeiros raios de sol da manhã, eu espero ver invadir o breu da minha existência, feito um milagre, desejoso de que eu ao menos seja forte o suficiente para, um dia, conseguir sair dessa.

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