Título
original: De Pernas Pro Ar 2
Ano:
2012
Direção: Roberto
Santucci
Roteiro: Paulo
Cursino, Ingrid Guimarães, Marcelo Saback
Gênero:
Comédia
Origem:
Brasil
Duração: 95
minutos
O prazer não tem limites! E Alice Segretto (Ingrid
Guimarães), vai levar isso ao pé da letra e expandir os negócios da “Sex
Delícia” à capital cultural do mundo: Nova Iorque. E aí está boa parte da graça
de De pernas pro ar 2. Quem, ao
assistir o trailer, previu muita risada diante das trapalhadas de Alice em Nova
Iorque, não vai se decepcionar. Aliás, uma das muitas verdades que têm sido
ditas sobre o longa é o fato de ser ele um dos raros casos em que a sequência
supera o original. É isso mesmo. Esta sequência do filme de Roberto Santucci –
que conta, inclusive, com a própria Ingrid Guimarães na produção do roteiro –
potencializa os acertos do anterior, cria novas piadas e comete novos erros,
totalmente perdoáveis a meu ver. Vamos a tudo isso.
Antes de chegar à América, Alice vai passar
um mau bocado, desmaiando sobre um bolo bem peculiar no lançamento da centésima
loja da “Sex Delícia”; sendo colocada no chinelo pela linda, bem-sucedida e
faz-tudo Vitória (Christine Fernandes) e cometendo loucuras em uma reunião com
investidores após ingerir seu calmante com champanhe. E como se não bastasse, a
pobre ainda vai parar em um spa dirigido pela severa Regina (Alice Borges). Nada
disso, porém, é suficiente para parar Alice, que, para escapar do spa e
continuar tocando o seu voluptuoso negócio, recorre aos serviços do hacker e
contrabandista de eletrônicos Leozinho (Wagner Santisteban), além de
proporcionar um orgasmo à “sargentona” Regina. No spa, aliás, todas essas
figuras – com destaque para o Mano Love (Luiz Miranda), antipático, mas cômico
– são hilárias. Tanto quanto o orgasmo alcançado por Alice, ao som de Byafra,
por via do estranho objeto de oito tentáculos – ou testicles (trocadilho infame, porém engraçadíssimo, utilizado no
filme) – que viria a ser a chave para o sucesso da “Sex Delícia” em Nova
Iorque.
Contudo, devem ser considerados pontos que eu
nem chamaria de falhas, visto que surtem efeito (o riso) e não prejudicam o
filme. Um deles é aquela espécie de reformulação da cena de Alice à mercê de um
“brinquedinho”, desta vez não controlado pelas ondas sonoras durante o jogo de
futebol do filho (João Fernandes, no primeiro filme), mas pelo controle remoto,
manuseado, involuntariamente, por João (Bruno Garcia). Outro ponto é a
previsível cena do restaurante, exibida à exaustão em produções
norte-americanas e até em novelas do SBT. Me recordo de haver visto algo do
tipo, pela primeira vez, em Uma babá
quase perfeita (1993). Conforme já dito, porém, são pontos que, embora
representem um pequeno pecado em termos de criatividade, surtem o efeito
esperado e estão bem onde estão.
Ademais, quaisquer falhas são compensadas
pelo brilhante elenco. Ingrid Guimarães continua a nos surpreender com o seu
talento. Cristina Pereira ganha maior destaque e a sua personagem Rosa mostra
que não está ali a passeio, tal como a perfeita Denise Weinberg, para quem
parece não haver tempo ruim. Maria Paula, muito criticada desde o primeiro
filme (críticas com um quê de exagero, a meu ver), continua defendendo bem a
sua Marcela. E até o Paulinho (Eduardo Melo, nesta sequência) se sai bem em
suas raras falas. E, havendo mencionado a cena do restaurante no parágrafo
anterior, não se pode desconsiderar a rápida, porém intensa, participação de Rodrigo
Sant’Anna, que, em sua última cena, até utiliza um dos bordões de sua
personagem Valéria Vásquez. A referência a bordões do pretenso humorístico Zorra Total, aliás, não é uma novidade
em filmes nacionais. A diferença é que, enquanto soou como uma patética
estratégia em Xuxa Gêmeas, ficou
funcional e dentro de contexto em De
pernas pro ar 2. Quanto a Ricardo (Eriberto Leão) – que também se sai bem
como possível cara-metade de Alice –, fico pensativo quanto ao beijo que apenas
quase rolou entre ele e a protagonista, mas que rolou pra valer entre João e a
“Mulher Maravilha”. Não se trata de uma apologia à traição, mas fico me
questionando sobre esta mulher moderna, empreendedora e independente que,
contraditoriamente, não se atreve nem a um beijinho com uma bela figura como Ricardo
(Eriberto Leão) à quilômetros de distancia de sua cidade e de sua família. Machismo
enrustido em um filme tão libertário ou estratégia do diretor para mostrar que
Alice, apesar de sua compulsão pelo trabalho, é fiel à sua família? Vai
saber...
Aliás, no tocante ao mencionado aspecto
libertário do longa, isso, a meu ver, lhe rende muitos pontos. De pernas pro ar 2 segue provocando o
riso sem precisar apelar para o palavreado chulo ou fazer piadas sexistas. O
sexo ali é para todos, sem que isso tenha aquele famigerado arzinho de
escárnio.
E falando em mulher moderna, merece destaque
a criança que interpreta Alice na infância, relatando, para uma câmera, os
sonhos que, de um jeito ou de outro – embora de uma maneira bastante torta – se
realizam na vida adulta da personagem. Neste ponto, vale fazer uma analogia
entre esta Alice, obstinada na busca pela concretização de um sonho – única e
exclusivamente para fins de realização pessoal – e aquela outra Alice,
personagem de Lewis Carroll. É óbvio que são estórias totalmente distintas, mas
ambas estão envoltas em sonhos e fantasias, e são justamente essas fantasias
(num sentido malicioso, no caso de De
pernas pro ar 2) que as conduzem ao amadurecimento. Aliás, em ambas as
estórias, um coelho é o grande responsável por tudo... Em se tratando de filmes
e, principalmente, obras literárias, nomes nem sempre são casuais. A personagem
de Christine Fernandes, por exemplo, não se chama Vitória devido a uma escolha
arbitrária, mas, sim, para reforçar para o telespectador a representação que
aquela mulher tem para Alice. Ou seja: a mulher vitoriosa por dar conta do
recado em todos os âmbitos de sua vida.
E foram justamente os sonhos de menina da
protagonista os responsáveis por uma rápida solução para o final do filme. Uma
solução que, na verdade, deixa muita coisa mal resolvida, vista a lógica de que
Alice não vai mudar, continuando isso a ser prejudicial a si mesma, ao seu
casamento e, em especial, ao seu filho. Por outro lado, não sei se esse tipo de
exigência cabe a uma comédia. E, além disso, esse desfecho meio vago vem a ser
positivo se for sinal de uma possível continuação. Então, enquanto o terceiro
filme não vem, vamos ao cinema rir a valer com as brejeirices da protagonista e
dos que a acompanham, e, se tivermos que tirar uma lição do filme, que seja a
de que o bom é que vivamos a nossa vida de pernas pro ar...
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