quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Ensaio sobre a compaixão



Já nos diz a filosofia: “O fato não existe. O que existe é a versão do fato”. Parece desanimador, mas tudo depende de como você se coloca em relação a isso. Vejamos: de modo geral, todo a informação a qual temos acesso está impregnada dos valores, conhecimentos e experiências de determinada pessoa ou grupo. Comumente, questionamos à total ausência de imparcialidade midiática, mas ignoramos que nós mesmos não prezamos pela neutralidade em nossa atuação sobre o mundo. Se isso não lhe parece um problema, veja o mundo a sua volta. Observe como as diversas versões dos fatos originaram ideologias políticas, religiões e afins, as quais, por conseguinte, ocasionaram e ocasionam os embates, as separações e as guerras.

Diariamente e em prol dos nossos pontos de vista, nós fomentamos a separação, promovendo as discrepâncias em lugar de exaltarmos as semelhanças, que são o que nos possibilitaria a criação de um mundo mais igualitário e que melhor se utilizasse de todos os recursos existentes. Dia após dia, só fazemos reafirmar os nossos valores, rotulando como “errado” aquilo que destoa do que concebemos como “certo” e, assim, a la Chespirito (sem querer querendo), oferecendo munição à segregação e a tudo o que ela tem feito com o mundo.

Não raro, as leituras às quais nos dedicamos, os programas de tevê aos quais assistimos e os locais que frequentamos são aqueles que corroboram aquilo no que já acreditamos. Se por um lado isso se mostra válido por nos permitir reafirmarmos aquilo que somos ou desejamos ser, por outro se mostra cômodo em demasiado, nos mantendo no conforto de nossos valores e crenças, lugar do qual julgamos como certos ou errados os aspectos da experiência humana que nunca conhecemos de fato. Receosos de desafiar as nossas certezas, nos desviamos de todo e qualquer caminho que nos conduza ao real conhecimento daquilo que nos é contrário. Pensamos ser plenos em convicção, mas, de modo geral, somos apenas assombrados pelo medo.

É mister que alcancemos um nível de evolução muito elevado para, então, aprendermos a concordar com o fato de os outros discordarem de nós; aprendermos a fazer as nossas escolhas políticas não de acordo com nossos valores pessoais, mas com base nas reais demandas da sociedade e dos seres humanos que dela fazem parte; aprendermos que é o encontro a única e verdadeira mágica da vida!

Portanto, prezemos hoje por um pensamento, por um sentimento e por uma ação que nos aproxime do outro. Que o nosso discurso seja de afeto. Que os nossos anseios sejam de humanidade. Que os nossos passos sejam, sempre, em direção ao outro. E, quando não enxergarmos saída, que optemos pela compaixão.

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