O dia de hoje me traz à memória boas e más lembranças,
se é que se pode assim caracterizá-las. Das boas, tenho a ansiedade típica da
infância pelo presente que, raramente, meus pais podiam comprar, e, quando
podiam, geralmente me frustrava em demasiado, visto que “brinquedo de menino” comumente
não estava entre as minhas preferências. No entanto, a despeito dessas frustrações
características de uma criança que pouco ou nada compreendia do que se passava
com ela, essa segue sendo uma boa lembrança. A infância, mesmo que permeada
pela incompreensão e pelo medo, é sempre uma fase saudosa à qual a gente sempre
quer voltar.
O meu envolvimento com a fé cristã ao longo da minha adolescência e início da vida adulta eu posso, talvez, incluir em ambas as categorias. Se por um lado dias como o de hoje representavam para mim uma imensa alegria – visto que eram sinônimo de procissão, igreja toda decorada e festa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, lá do Durval de Barros (que saudade do senhor, Pe. Álvaro...) –, por outro, me faziam lembrar as reais razões que eu tinha para estar ali. Por mais que eu me recusasse a enxerga-las, o medo, o conflito e a necessidade de fuga estavam sempre à espreita.
Das más lembranças, recordo um lamentável episódio
de intolerância religiosa, ocorrido há vinte e um anos, amplamente divulgado e
comentado à época. E quando me valho do adjetivo “lamentável” não me restrinjo
àquela situação específica, mas ao que se pode refletir sobre ela nos dias
atuais, quando um grupo de pessoas – muitas delas incentivadas por pseudo
pastores – invadem terreiros de candomblé e umbanda; quando ateus e progressistas
(não necessariamente ateus) escarnecem de protestantes, católicos e afins,
zombando de sua fé e questionando a sua capacidade intelectual; quando o
ateísmo é relacionado com mau-caratismo; quando o Estado tem ameaçadas a sua
laicidade e a liberdade de crença e não crença dos seus cidadãos. Enfim, nesse
sentido, o dia 12 de outubro traz lembranças negativas, mas muitas dessas são
lembranças de um presente sombrio e um futuro incerto...
No dia de hoje, então, o meu apelo é pela
tolerância e pelo respeito ao outro enquanto ser humano livre para viver aquilo
que o leva ao encontro de si mesmo. A fé é uma coisa maravilhosa e que só se
explica pela própria fé. Eu tenho a felicidade de partilhar dessa fé e, se eu
pudesse compartilhar contigo algum aprendizado, eu diria que o fato de não mais
estar vinculado a nenhuma doutrina em especial me possibilita hoje a percepção
de que o encontro é a base, a máxima, a premissa de toda e qualquer religião. Seja
qual for a sua fé, acredite no que acreditar, não se esqueça de que o respeito,
a tolerância e o amor ao seu próximo, tido como irmão, são uma linha reta que
conduz direto ao Coração de Deus.
Bom feriado.
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