segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Sombras


Você não sabe,
mas às vezes a minha casa assume uma atmosfera soturna
e eu sou assombrado por fantasmas que me perseguem
e me ameaçam com o fim que levaram outros como eu.
Os mais sádicos, porém,
apenas me mostram o espelho
no qual eu vejo refletido o menino da minha infância
a encolher-se diante dos risos da classe.
Você não sabe,
mas me firo diariamente com os espinhos
das rosas das quais ousei desejar a fragrância..
Apenas pare
e ouça os gritos abafados de quem não tem como fugir.
Tomado pelo medo,
corro desesperado pelas ruas,
bebo veneno,
desmaio na sarjeta e me embebedo
de prazeres marginais.
E se às vezes lhe destino palavras confusas
é porque, querendo morrer,
eu preciso sobreviver a mais uma noite.
Quem sou eu em plena madrugada?
Quem é você que já não sei se existe?
É possível que haja se apercebido do desvalor
da vida que eu lhe quis oferecer.
Era pouco,
mas era tudo o que eu tinha.
Será que não entende que eu temo
que o vento espatife as vidraças?
Será que não sabe que eu passo noites em vigília
de modo a impedir que eles entrem aqui.
Não...
Você não sabe
porque se negou a reconhecer o humano em mim.

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