terça-feira, 21 de maio de 2019

Bandeiras que desvirtuam

Quando vejo gente pedir tolerância e se tornar agressiva diante do contraditório, quando vejo estudantes e professores se valendo de expressões do tipo “vai tomar no **” durante uma manifestação pela Educação ou quando vejo o nosso país – e o mundo – seguirem sendo o que são a despeito das tantas experiências vividas e tantos modelos políticos experimentados, me pego refletindo sobre o quanto permitimos que ideologias prevaleçam em detrimento de reais valores e princípios.

Compreendo o quanto se tem mostrado arriscado falar de moral e valores atualmente, dada a conotação negativa que, com o recente avanço conservador, esse conceito pode ter para muitos. Aqui, no entanto, não falo de valores com a ideia de privação das liberdades individuais – das quais sou também fervoroso defensor –, mas, sim, dos valores que verdadeiramente exaltem o ser humano de modo incondicional, e não apenas enquanto ele pensa como nós ou enquanto vota em X ou Y.

Quando a empatia, em lugar de uma realidade interior, restringe-se a nada mais que a reprodução de um discurso ideológico, é comum que se saiam pelas ruas empunhando-se bandeiras e bradando-se expressões como “mais amor por favor” e afins, mas tocando o terror na vida dos outros na realidade do dia a dia. Quando temos um senso ético profundamente arraigado, não somos seletivos em nossa indignação, apontando a corrupção de uns e fazendo vista grossa para a de outros. Quando temos a verdadeira liberdade como ideal, não nos enveredamos pelo debate acerca da ditadura mais camarada.

E neste ponto me parece válido exaltar a importância da Educação enquanto um direito fundamental, desde que bem aplicado. Sujeitos expostos a uma Educação embasada na autorresponsabilidade, no autoconhecimento e no real compromisso com toda e qualquer criatura humana – independentemente de raça, gênero, classe social, inclinações ideológicas e afins – alcançam a vida adulta sem enaltecer mitos e sem se prender a homens que se fizeram grandes com o bem realizado no passado, mas desvirtuados com o curso do tempo.

E por falar em virtude, é inevitável que me venha à lembrança as palavras da saudosa Elke Maravilha (1945 – 2016), que – apesar da natureza profundamente humanitária que a fez madrinha dos gays, dos presidiários, dos portadores de hanseníase e das prostitutas – criticava firmemente as bandeiras. Não por intencionar oprimir, mas por julgar que quaisquer valores, quando saídos do coração, subidos à cabeça e convertidos em bandeiras, se desvirtuavam.

Essa pode parecer uma opinião simplista para muitos, mas facilmente verificada na triste realidade da hipocrisia nossa de cada dia... Realidade essa na qual se fala de tolerância para em seguida excluir pessoas queridas das redes sociais em razão de escolhas políticas. Realidade essa na qual “homens de bem” defendem o partido Brasil, mas desde que alguns, com peculiaridades indesejáveis, não estejam sob os holofotes desse Brasil.

E, assim, resistindo à necessária e urgente viagem ao nosso interior, seguimos à direita, à esquerda, mas todos, sem exceção, em marcha vertiginosa para a beira do abismo, que é onde, finalmente, gozaremos da tão aclamada igualdade. Só que negativamente orientada...

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