sexta-feira, 15 de maio de 2020

O livro da minha conversão



Este é o livro da minha conversão.

Oi? Que história é essa? Desde quando você é religioso? E o que tem de especial nesse livro?

São possíveis perguntas de quem me conhece pouco ou mesmo de quem é próximo a mim. Então, respondendo, não, de fato não sou religioso e tampouco o livro em si tem algo de especial, mas o é para mim em razão do que me proporcionou.

Este exemplar surrado, rasurado e amarelecido como aquelas velhas fotografias que a gente guarda em baús empoeirados é uma edição de 1983 (ano anterior ao meu nascimento). A 125ª edição, para ser exato, dessa obra que é impressa pela Editora Vozes até os dias de hoje.

Não me lembro como, mas encontrei este livro em 1998, aos quatorze anos de idade, e ele – com as suas perguntas e respostas organizadas em 22 lições/capítulos – me tocou profundamente, me despertando para algo que eu desconhecia... um sentimento de paz e de profundo amor por uma força maior.

E assim as breves e objetivas explicações acerca desse “espírito puro, eterno, criador do céu e da terra”, incriado, porque “sempre existiu, não teve princípio e não terá fim” (p. 14) me fez enveredar por um caminho sem volta, por mais que naquela época eu nem sequer imaginasse.

Daí – do católico de fachada que fez a Primeira Eucaristia a contragosto e esporadicamente ia à missa obrigado pelos pais – eu me converti no jovem que ia à igreja por vontade própria, dando início à incursão pelas atividades da paróquia Nossa Senhora Aparecida. E lá fomos o meu amigo Ricardo e eu para o Movimento dos jovens Unidos a Cristo (MOJUAC), para a Renovação Carismática Católica (RCC), para o crisma etc. E mais tarde, morando em outro bairro, fui eu para a catequese, quando, em conjunto com a minha irmã Patrícia, desenvolvi um significativo trabalho.

Até hoje me lembro de uma afirmação feita pelo saudoso Pe. Álvaro na primeira missa a qual assisti após esse chamado – “(...) esse Deus que nos manda perdoar até mesmo o assassino do nosso irmão” – e sempre me lembro dela quando hoje vejo pessoas autointituladas cristãs fazendo defesa da pena de morte e afins...

A vida adulta, porém, me trouxe os questionamentos diversos, bem como a dificuldade de conciliar a atividade religiosa com o meu desejo de aceitar-me homossexual, não mais reprimindo os instintos dos quais, quando adolescente, eu acreditava poder ser “curado”.

Naquele tempo a Igreja Católica era, digamos, diferente, e eu não tinha maturidade e nem inteligência emocional para entender que, caso eu quisesse, eu podia permanecer onde quer que fosse, descartando o que contrariava a minha verdade e sendo quem eu era.

E assim, o jovem que outrora almejara se tornar irmão missionário e até padre abandonou o catolicismo e, anos mais tarde, se viu num tímido envolvimento com o budismo, com a umbanda, o racionalismo cristão, um envolvimento maior com o espiritismo, até, finalmente, reconhecer a validade e incontestável contribuição de todas essas experiências para a sua formação como ser humano.

E, convenhamos, é uma dádiva não definir o TODO pela parte. É gratificante conhecer os tantos aspectos, nunca contraditórios, dessa força que rege o mundo e tudo é. Aspectos esses a mim apresentados, pedagogicamente, de acordo com as etapas da minha jornada.

Não sejamos hipócritas, contudo... Eu estou longe de ser o cara bem resolvido sexual ou espiritualmente. E, para ser sincero, creio que isso é uma bênção da qual gozam saudáveis exceções. Não obstante, me reconheço hoje como um Alex mais feliz e grato pela sempre presente intuição de haver algo maior que eu, me amparando, me apontando o caminho, me sussurrando aos ouvidos e me tomando pela mão enquanto atravesso o inferno da depressão, da dúvida, do vazio e da falta de perspectiva.

E a esse algo maior eu chamo de Jeová. Eu chamo de Krishna. Eu chamo de Olorum. Eu chamo de Deus. Eu chamo de TODO, e o reverencio a despeito do Seu nome.

Quanto ao livro – que, segundo a minha mãe, pertenceu à minha tia mais jovem em seus tempos de catequizanda – segue comigo. E hoje, aos 36 anos, não mais procedo como o Alex adolescente, que, inebriado pelas emoções advindas dessa singela leitura, sugeria-a aos demais na ânsia de que sentissem o mesmo. Agora, apenas guardo-o como símbolo do início do meu despertar. Um doce lembrete de que aquele foi o meu momento.

***

Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã. 125. Ed. Petrópolis: Vozes, 1983.

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