Este é o livro da minha conversão.
Oi? Que história é essa? Desde quando você é
religioso? E o que tem de especial nesse livro?
São possíveis perguntas de quem me conhece
pouco ou mesmo de quem é próximo a mim. Então, respondendo, não, de fato não
sou religioso e tampouco o livro em si tem algo de especial, mas o é para mim
em razão do que me proporcionou.
Este exemplar surrado, rasurado e amarelecido
como aquelas velhas fotografias que a gente guarda em baús empoeirados é uma
edição de 1983 (ano anterior ao meu nascimento). A 125ª edição, para ser exato,
dessa obra que é impressa pela Editora Vozes até os dias de hoje.
Não me lembro como, mas encontrei este livro
em 1998, aos quatorze anos de idade, e ele – com as suas perguntas e respostas
organizadas em 22 lições/capítulos – me tocou profundamente, me despertando
para algo que eu desconhecia... um sentimento de paz e de profundo amor por uma
força maior.
E assim as breves e objetivas explicações
acerca desse “espírito puro, eterno, criador do céu e da terra”, incriado,
porque “sempre existiu, não teve princípio e não terá fim” (p. 14) me fez
enveredar por um caminho sem volta, por mais que naquela época eu nem sequer
imaginasse.
Daí – do católico de fachada que fez a
Primeira Eucaristia a contragosto e esporadicamente ia à missa obrigado pelos
pais – eu me converti no jovem que ia à igreja por vontade própria, dando
início à incursão pelas atividades da paróquia Nossa Senhora Aparecida. E lá
fomos o meu amigo Ricardo e eu para o Movimento dos jovens Unidos a Cristo
(MOJUAC), para a Renovação Carismática Católica (RCC), para o crisma etc. E
mais tarde, morando em outro bairro, fui eu para a catequese, quando, em
conjunto com a minha irmã Patrícia, desenvolvi um significativo trabalho.
Até hoje me lembro de uma afirmação feita
pelo saudoso Pe. Álvaro na primeira missa a qual assisti após esse chamado – “(...)
esse Deus que nos manda perdoar até mesmo o assassino do nosso irmão” – e
sempre me lembro dela quando hoje vejo pessoas autointituladas cristãs fazendo
defesa da pena de morte e afins...
A vida adulta, porém, me trouxe os
questionamentos diversos, bem como a dificuldade de conciliar a atividade
religiosa com o meu desejo de aceitar-me homossexual, não mais reprimindo os
instintos dos quais, quando adolescente, eu acreditava poder ser “curado”.
Naquele tempo a Igreja Católica era, digamos,
diferente, e eu não tinha maturidade e nem inteligência emocional para entender
que, caso eu quisesse, eu podia permanecer onde quer que fosse, descartando o
que contrariava a minha verdade e sendo quem eu era.
E assim, o jovem que outrora almejara se
tornar irmão missionário e até padre abandonou o catolicismo e, anos mais
tarde, se viu num tímido envolvimento com o budismo, com a umbanda, o
racionalismo cristão, um envolvimento maior com o espiritismo, até, finalmente,
reconhecer a validade e incontestável contribuição de todas essas experiências para
a sua formação como ser humano.
E, convenhamos, é uma dádiva não definir o
TODO pela parte. É gratificante conhecer os tantos aspectos, nunca contraditórios,
dessa força que rege o mundo e tudo é. Aspectos esses a mim apresentados,
pedagogicamente, de acordo com as etapas da minha jornada.
Não sejamos hipócritas, contudo... Eu estou
longe de ser o cara bem resolvido sexual ou espiritualmente. E, para ser sincero,
creio que isso é uma bênção da qual gozam saudáveis exceções. Não obstante, me
reconheço hoje como um Alex mais feliz e grato pela sempre presente intuição de
haver algo maior que eu, me amparando, me apontando o caminho, me sussurrando
aos ouvidos e me tomando pela mão enquanto atravesso o inferno da depressão, da
dúvida, do vazio e da falta de perspectiva.
E a esse algo maior eu chamo de Jeová. Eu
chamo de Krishna. Eu chamo de Olorum. Eu chamo de Deus. Eu chamo de TODO, e o
reverencio a despeito do Seu nome.
Quanto ao livro – que, segundo a minha mãe,
pertenceu à minha tia mais jovem em seus tempos de catequizanda – segue comigo.
E hoje, aos 36 anos, não mais procedo como o Alex adolescente, que, inebriado
pelas emoções advindas dessa singela leitura, sugeria-a aos demais na ânsia de
que sentissem o mesmo. Agora, apenas guardo-o como símbolo do início do meu
despertar. Um doce lembrete de que aquele foi o meu momento.
***
Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã. 125.
Ed. Petrópolis: Vozes, 1983.
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