Foi por acaso que ele se revelou para mim. Eu
estava na Livraria Leitura do Boulevard Shopping quando o vi e, surpreendido
pela temática e pela belíssima capa, na qual dois cravos ilustram poeticamente
a homoafetividade, levei-o para casa.
Como de hábito, não o li de imediato, deixando
para fazê-lo no momento certo, que, certamente, me seria comunicado. E quando o
li em 2018, nova surpresa eu tive ao perceber o quanto ele dialogava com
questões minhas.
“Homossexualidade sob a ótica do espírito
imortal”, de Andrei Moreira – médico homeopata, constelador familiar, expositor
e figura proeminente no meio espírita – é um dos livros que me veio como
resposta de Deus aos conflitos que, em algum momento, enfrentei em relação a
minha sexualidade.
Em um contexto em que mesmo os movimentos
ditos defensores da liberdade se mostram intolerantes quando você não lhes
segue a cartilha, a obra de Andrei Moreira me veio como um convite a encontrar
o meu jeito de me colocar como homossexual no mundo. Ou, para mais além disso,
um convite a me elevar acima dos rótulos, identificando-me sobretudo como ser
humano e contribuindo, assim, para a harmonia tão prejudicada pelo excessivo foco
nas naturais diferenças da nossa personalidade, que só faz criar conflitos e
atritos de toda ordem.
Aí você me dirá algo como: “Ah!, mas se trata
de um livro espírita etc. e tal”. Olha, o maior erro que pode cometer alguém
que segue em busca da sabedoria é descartar por inteiro esta ou aquela
filosofia por não lhe ser adepto. Embora simpatizante da doutrina, eu tampouco
sou espírita, mas seria sinal de tremenda mediocridade desprezar, por isso,
todo o valioso ensinamento contido nas obras de Kardec, Chico Xavier e afins. O
verdadeiro buscador não permite que preconceitos de qualquer ordem obstruam o
seu caminho.
É certo que existe muita coisa ruim produzida
por aí, mas mesmo tal conclusão deve ser ulterior à sua disposição para conhecer...
Em um momento em que o isolamento social
inviabiliza a Parada do Orgulho LGBT pelo mundo afora, parece-me válido tomar a
pandemia como um convite a repensarmos a condição com a qual a vida nos
presenteou para a execução de alguma tarefa neste mundo, sem, no entanto, fazer
dela uma bandeira que não raro desvirtua as verdadeiras causas.
Nesse sentido, ““Homossexualidade sob a ótica
do espírito imortal” foi, para mim, um resgate; um sol iluminando os meus
cômodos obscurecidos como forma de me dizer que, a despeito do preconceito com
o qual sou, sutil ou expressamente, metralhado todos os dias, ainda sou aceito
e digno da felicidade.
Uma leitura que me veio comunicar, sobretudo,
que o pior dos preconceitos é, sobretudo, aquele que temos contra nós mesmos,
não raro nos levando a uma excessiva militância que nos distraia da difícil tarefa
de enxergar os nossos conteúdos sombrios.
Como eu tive a oportunidade de dizer ao autor
durante um evento em julho do ano passado, é fato que nenhuma leitura
transforma uma vida por si só. Ela tem em si, no entanto, o potencial de gerar
uma ação ao iluminar possibilidades, oferecendo-nos as bases para a
transformação pela a qual o nosso coração anseia e que é toda a nossa razão de
ser neste mundo.
***
MOREIRA, Andrei. Homossexualidade sob a ótica
do espírito imortal. Belo Horizonte: AME Editora, 2016.
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