quinta-feira, 4 de junho de 2020

O Bruxo do Cosme Velho

O Bruxo do Cosme Velho... Filho de negros forros e criado por uma lavadeira que lhe faz as vezes de madrasta. Um autodidata. Um mulato casado com uma portuguesa branca em pleno século XIX. Uma homem cuja obra, reveladora de um peculiar conhecimento da alma humana, segue atual, vez que o homem – feliz ou infelizmente – não costuma sofrer significativas mudanças. O maior nome da literatura brasileira e um dos maiores nomes da literatura mundial, chegando a ser comparado a Shakespeare, Camões e afins.

Ler Machado de Assis sempre me pareceu árduo, eu confesso, tanto pela pureza da linguagem que caracteriza a sua obra como – hoje eu entendo – por se tratar de uma leitura que, mais do que domínio da língua, exige maturidade e disposição para se aventurar pelas mazelas humanas.

O poeta Henry Wadsworth Longfellow uma vez disse: “As vidas dos grandes homens nos lembram que podemos tornar a nossa vida sublime, deixando para trás pegadas nas areias do tempo.” Aí você contempla a genialidade de um Machado de Assis, o que esse homem foi capaz de fazer, de viver e de criar e vê o seu próprio crescimento enquanto ser humano como algo factível; vislumbra a possibilidade de também se tornar sublime. Veja o quão grandes podemos nos tornar.

Sobre esse profundo conhecedor do drama humano, Carlos Drummond de Andrade escreveu em um poema a ele dedicado: “Outros, da vida, leram apenas um capítulo. Tu leste o livro inteiro”. Em tempos de tamanhas incertezas e referências duvidosas, a notícia do esgotamento dessa nova edição nos EUA nos traz uma esperança renovada, bem como nos convida a revermos as bandeiras que, tão ingênuos e orgulhosos, trazemos no peito. E, como bem disse hoje o Chico Alves, convém que não esqueçamos que uma terra que pariu Machado de Assis não há de ser um caso perdido.

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